O Instituto Nacional de Estatística confirmou que a inflação média em Portugal alcançou os 7,8% em 2022, pulverizando o registo de 1,3% do ano anterior. Esta é a taxa de inflação mais elevada desde 1992, ano do tratado de Maastricht.

Os componentes que mais contribuíram para este resultado foram os produtos energéticos (+23,7%) e os produtos alimentares não transformados (+12,2%). No primeiro caso, a recuperação económica, problemas logísticos e a guerra explicam a evolução. Quanto aos produtos alimentares, a subida justifica-se pelo aumento dos custos de produção, combustíveis, transporte, fertilizantes (que vinham da Rússia) e um ano de seca. As cadeias de distribuição teriam feito o resto.

A inflação nos bens foi substancialmente mais alta (+10,2%) do que nos serviços (+4,3%). Este é um aspeto bastante positivo para a evolução da futura da inflação, pois a possibilidade de acontecerem quedas nos preços dos produtos é muito maior do que nos serviços, que têm muito mais rigidez.

Há vários indícios de que a inflação terá atingido já o pico deste ciclo. A inflação homóloga está a recuar há dois meses e provavelmente irá também diminuir em janeiro.

Os preços dos combustíveis têm apresentado um comportamento mais benigno e também há boas notícias no que diz respeito à eletricidade, devido a barragens mais cheias e a uma Europa bem abastecida de gás, que permite acreditar em preços mais baixos na energia.

A provável desaceleração económica e a subida dos juros está a reduzir o rendimento disponível das famílias e a confiança destas e das empresas, reforçando a perspetiva de inflação mais baixa.

Se em 2023, a inflação mensal sair em torno da média histórica desde 1999, a inflação média ficará entre 4,0% e 4,5%. Acredito que possa ficar ainda mais baixa.