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“A nossa ambição é atingir mil milhões de exportações em 2022”

Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, assume em 2018 será batido o recorde de exportações de vinhos nacionais, acima dos 830 milhões de euros.
22 Dezembro 2018, 20h00

O setor dos vinhos em Portugal, continua em alta, tanto no consumo interno, como no externo, seja em quantidades, seja em preços. Vai de mãos dadas com o crescimento do turismo, sendo estas duas realidades intrinsecamente ligadas nos dias que correm.

Em entrevista ao Jornal Económico, Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, plataforma responsável pela promoção dos vinhos nacionais nos mercados externos, confirma que o setor vai bater o recorde de valor das exportações este ano, superando a marca de 830 milhões de euros. E adianta que o objetivo é superar a barreira dos mil milhões de euros de exportações em 2022.

Jorge Monteiro revela ainda que os novos mercados sob mira em 2019 serão a Dinamarca (maduro) e o México (emergente), mantendo a pressão no Japão (agora, só Tóquio), Brasil, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Suíça, os mercados que nos últimos tempos têm registado maior crescimento no consumo dos vinhos portugueses. Em termos de segmentos, o presidente da ViniPortugal prevê que os espumantes, que partem de uma base ainda muito baixa, sejam os que vão registar maiores subidas de vendas nos próximos meses e anos.

Estamos quase a bater um recorde de exportações de vinhos nacionais, podendo chegar aos 830 milhões de euros de vendas para os mercados externos no final de 2018. Como explica esta contínua história de sucesso dos vinos nacionais no exterior?

São vários os factores que têm contribuído para esta evolução positiva, começando logo pela consistência de qualidade dos nossos vinhos. Portugal produz sempre com elevada qualidade e isso traduz-se num ganho de confiança por parte dos profissionais, mas também dos consumidores. Mas tem também sido importante o fator diversidade, de castas, de climas e solos. Produzindo maioritariamente baseado em castas autóctones, os vinhos de Portugal são diferentes dos vinhos dos nossos concorrentes, mas pela diversidade de regiões, determinada pelos solos e pelo clima, a oferta de Portugal é internamente também muito diversificada. Um Alvarinho dos Verdes é muito distinto de um Alvarinho do Alentejo. Outro fator relevante é a relação preço qualidade, que permite aos consumidores experimentarem vinhos bons, diferentes e com menor risco económico. Finalmente, mas não menos importante, o sector do vinho em Portugal tem demonstrado grande maturidade, organização consistente e sentido do coletivo, começando pelas empresas, pelas Comissões Vitivinícolas, pelas Associações e incluindo a ViniPortugal, e culminando no IVV [Instituto do Vinho e da Vinha], instituto público, responsável pelo controlo e coordenação, que soube acompanhar a modernização do setor.

Quais são os mercados que estão a ter maior crescimento no presente ano?

Até setembro de 2018, e se atendermos aos vinhos certificados, ‘DO’ [Denominação de Origem], e ‘Vinhos Regionais’, distinguiria pela maior taxa de crescimento, a dois dígitos, os mercados do Japão, Brasil, Dinamarca e Reino Unido. Mas, se avaliarmos os crescimentos absolutos, juntaria àqueles, os Estados Unidos, o Canadá e a Suíça, que crescendo a um dígito, fecharão 2018 a ver as suas importações a subirem cerca de dois milhões cada um, face a 2017.

E quais os tipos de vinhos portugueses que estão a ser procurados pelos mercados externos?

Analisando por grandes categorias, Licorosos, DO, Regionais, vinho não certificado e Espumantes, temos respostas diferentes dentro e fora da União Europeia. Se dentro da União Europeia a categoria Vinho não Certificado é a que mais cresce, seguida do Espumante, já fora da União Europeia são os Espumantes e os DO, que mais crescem.

Recentemente, a ViniPortugal anunciou que Estados Unidos, Brasil e Canadá são mercados para continuar a apostar e que a Dinamarca e o México são as novas apostas para 2019. Porquê?

De um modo geral, acreditamos que os mercados onde estamos a trabalhar correspondem a boas opções: são reconhecidos nos grandes estudos prospetivos como sendo os de maior potencial ou de maior dimensão e temos sentido resultados gratificantes no acolhimento aos Vinhos de Portugal, e nesse sentido serão de manter. No entanto, e com base nas mesmas fontes, identificámos o México e a Dinamarca como mercados onde a marca Vinhos de Portugal não tem estado presente mas que tem demonstrado maior predisposição e abertura aos nossos vinhos. Claro que o México é um mercado emergente enquanto a Dinamarca é já maduro. Vamos ensaiar com alguns eventos e, em função dos resultados, manter, aumentar ou até mesmo abandonar. Mas estamos convencidos que iremos obter bons resultados. Obviamente que para financiar estas novas acções desinvestimos na Alemanha, mercado muito maduro e onde o factor preço é determinante, e o mercado do Japão, onde moderámos o investimento, concentrando as acções na cidade de Tóquio.

Quais são as perspetivas de crescimento para 2019 e anos seguintes, e em que segmentos?

A nossa ambição, transformada em objetivo, aponta para atingirmos os mil milhões de euros em 2022 [de valor de exportações], com um crescimento linear ao longo destes anos. Estamos preparados para que este crescimento seja feito à custa dos vinhos certificados, DO e Regionais, que deverão compensar a estagnação das exportações de Licorosos. Não tendo qualquer previsão por categorias, a nossa intervenção centra-se nos vinhos Certificados e estamos em crer que serão estes a crescer mais.

O crescimento das vendas dos vinhos portugueses no estrangeiro está a ser acompanhado por um aumento do valor unitário de venda ou trata-se essencialmente de uma questão de volume?

Desde 2010, que se pode afirmar que o crescimento em valor tem superado o crescimento em volume com variações anuais de três a quatro cêntimos por litros.

Em 2010, exportámos 753 mil hectolitros [cada hectolitro equivale a 100 litros, pelo que se trata de 753 milhões de litros] de Vinho DO + IG a 2,44 euros/litro enquanto as exportações de Licorosos foram de 700 mil hectolitros [700 milhões de litros] (Porto e Madeira) a 4,22 euros/litro.

Em 2017, exportámos 1.100 mil hectolitros [1,1 mil milhões de litros]  de DO e IG a 2,82 euros/litro, enquanto o Porto e o Madeira representaram 685 mil hectolitros [685 milhões de litros] ao preço de 4,87 euros por litro. O preço médio global cresceu neste intervalo de 2,30 para 2,61 euros por litro. Estamos assim, no caso do vinho DO e IG, perante um crescimento de volume com crescimento de preço.

Existem segmentos no setor dos vinhos em que se preveja um boom de vendas no exterior nos próximos anos face à realidade atual? Porquê?

Não temos projecções que permitam responder. Mas, numa primeira avaliação, é natural que os Espumantes, dada a sua reduzida expressão nas exportações, sejam a categoria que maior taxa de crescimento vai apresentar. Por outro lado, acreditamos que serão os vinhos com DO e IG (Regionais) que apresentarão a segunda maior taxa de crescimento. Não acredito, porém, em booms. A nossa história tem sido crescer lenta mas consistentemente e talvez prefira que assim continue.

Quais são os obstáculos ao crescimento que o setor vitivinícola nacional está a enfrentar e como os superar?

Temos que continuar a apostar numa maior taxa de certificação de vinhos, pois acreditamos que o valor está nestes vinhos, e existem ainda muitas vinhas e massas vínicas aptas à produção de DO e Regionais ou IG. Os custos da certificação são largamente superados pela valorização do produto. Em Setembro deste ano, o litro de Vinho Regional foi vendido a 2,56 euros enquanto o vinho não certificado engarrafado foi vendido a cerca de 1,6 euros, quase um euro de diferença.

Outra dificuldade, que julgamos necessário combater, é a preparação de quem trabalha os mercados internacionais. Em regra, quando saímos do país, vamos negociar com profissionais, duros, muito bem preparados e com elevada experiência. Temos que estar preparados ao mesmo nível, mas temos também de estar conscientes das nossas vantagens competitivas, que assentam sobretudo na diversidade. Mas para fugir à discussão de preço, onde vamos ficar a perder, temos de saber esgrimir muito bem com os nossos argumentos. Isso exige treino. Sendo nós um país de pequena dimensão, com vinhas e empresas de reduzida escala, com uma orografia exigente, produzir barato não traz futuro. Produzir caro para vender barato leva-nos à falência. A diversidade é o nosso trunfo e a orografia e o clima deu-nos essa oportunidade!

Já chegámos à 9ª posição do ranking mundial em termos de exportação de vinhos. É exequível e previsível subir ainda mais nesta tabela? Se sim, em que prazo plausível?

Sim, claro que sim, pelo menos no plano da ambição. Todos os anos  ultrapassar este ou aquele concorrente neste ou naquele mercado estimula-nos. No primeiro semestre, ultrapassámos a Argentina no mercado do Brasil e ultrapassámos a Alemanha no mercado dos EUA. Dizer quando vamos ser o ‘nº 8’ não é fácil. A concorrência é dinâmica e não depende só de nós. Mas ganhar aqui e agora num mercado é um bom passo.

De que forma é que o crescimento consecutivo do turismo em Portugal tem contribuído nos últimos anos para o crescimento das vendas no mercado interno, o que, de certa forma, também pode ser considerado uma ‘exportação’ intramuros’? 

O turismo e a descoberta de Portugal como destino turístico são um importante instrumento de descoberta dos nossos vinhos e consequente valorização da imagem de Portugal. E isso sente-se. No entanto há que acompanhar esta descoberta de Portugal com o alargamento da lista de importadores e da rede de distribuidores nesses mercados. Que interessa o turista descobrir o Travessa de Cima Grande Reserva se depois não o encontra no seu mercado? É importante mas não chega. Paralelamente, é certo: o turismo contribui para o crescimento do consumo doméstico e isso é também muito positivo, sendo a principal causa do crescimento do consumo nacional per capita.

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