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A OPA da CTG à EDP vai sobreviver?

Foi a Oferta Pública de Aquisição (OPA) do ano no âmbito nacional, mas que toca em vários pontos do globo. A 11 de maio, a China Three Gorges (CTG), que já detém 23,37% da EDP, ofereceu 3,26 euros por ação para comprar a totalidade da energética portuguesa, e lançou uma OPA paralela para adquirir a EDP Renováveis.
31 Dezembro 2018, 18h30

O board da EDP, liderado por António Mexia, afirmou que o prémio de quase 5% oferecido pelos chineses é baixo, mas o mercado não parece concordar e a cotação já negoceia abaixo dos 3 euros.

A possibilidade de uma OPA concorrente para comprar a EDP Renováveis nomeadamente pela francesa Engie foi noticiada e prontamente desmentida. Na EDP, um dos acionista de referência, o Capital Group, vendeu a posição de 10% em outubro e, no mesmo mês, Paul Singer – o ‘abutre da Argentina’ –  comprou 2,29%.

A EDP opera em múltiplos territórios, portanto, a oferta dos chineses está nas mãos dos vários reguladores. Até agora, só o regulador do Brasil deu o ‘OK’. No início deste mês, Mexia afirmou que o processo é “inevitavelmente longo”, pois necessita de “muitas autorizações”, que devem demorar meses.

O mercado duvida que essas aprovações se concretizem, especialmente porque poderá haver um obstáculo inultrapassável, na forma de um precedente, mesmo em Lisboa. A ERSE levantou entraves à compra da Generg pela chinesa Datang, por entender que esta empresa pertence ao mesmo grupo que controla o acionista chinês da REN. Esse entendimento do regulador energético português deverá também dificultar a OPA da CTG sobre a EDP, por via da imposição de remédios. Os chineses seriam, nesse caso, obrigados a vender 70% da EDP em Portugal.

Acresce ainda a dificuldade de obter uma autorização do regulador da energia norte-americano, que é necessária por causa da EDP Renováveis, que tem operações importantes naquele mercado. E há uma agravante: Trump mandou retirar os benefícios às energias renováveis.

A resposta à pergunta no título deste artigo é relativamente simples: dificilmente. A pergunta que é ainda impossível de responder é a seguinte: o que irá acontecer à EDP se a OPA falhar?

A Sonangol vai vender a participação na Galp Energia?

No espaço de poucos dias, João Lourenço deu sinais mistos sobre a continuidade da Sonangol na estrutura acionista da Galp Energia. Afirmou, a 17 de novembro numa entrevista ao “Expresso,” que é muito pouco provável que a petrolífera estatal angolana venha a reforçar a posição na Galp, dizendo mesmo que “a tendência é precisamente contrária”.

João Lourenço explicou que a participação indireta que a Sonangol detém “não deixa de ser uma dispersão e, por esta razão, e porque a tendência é esta, é muito pouco provável que a Sonangol se interesse em ter uma posição na Galp.

A Esperaza, que é detida pela Sonangol (60%) e Isabel dos Santos (40%), possui 45% da Amorim Energia, holding onde os restantes 55% estão nas mãos da família Amorim. A_Amorim Energia, por sua vez, controla 33,34% da petrolífera portuguesa.

Os comentários do presidente angolano levaram a agitação no mercado das fusões e aquisições, com fontes da banca de investimento a afirmarem ao JE que a chinesa Sinopec estaria entre as interessadas. A Sinopec em 2012 comprou à Galp 30% dos ativos no Brasil (Petrogal Brasil), de quem ficou sócia para aquele mercado. A Sinopec tem ainda a vantagem de já ter uma relação financeira com a petrolífera portuguesa.

No entanto, passada uma semana e durante a primeira visita a Portugal como chefe de Estado, Lourenço esfriou os ânimos. Questionado especificamente sobre a possibilidade de a Sonangol estar vendedora da posição, o presidente angolano respondeu de forma vaga, dizendo que a empresa está a analisar caso a caso e que ninguém do Estado angolano disse que iria haver uma retirada dos negócios em Portugal.

A Sonangol está num processo de  renovação da estratégia, que deverá forçar a saída de negócios que não são core. Se a Galp está afinal nesse lote, não sabemos. Provavelmente só João Lourenço poderá dizer.

Quais vão ser as principais M&A do ano?

Desde logo, a prometida venda do Banco Efisa. A Parvalorem encontrou um comprador, o Arab Group IIB Holdings, que detêm a maioria do Novo Banco em Cabo Verde. O processo tem estado estancado na UTAM -Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial, que tem de dar um parecer favorável para que a venda avance e chegue ao Conselho de Ministros.

A venda do Banco Carregosa (o Grupo Amorim que tem 10% quer sair) é outro negócio a seguir.

Assim como a venda dos ativos do fundo da Novaenergia. Depois da saída da Datang, a disputa, onde se inclui a Generg, marcará o ano. A Novenergia está agora a trabalhar com o prazo de 31 de janeiro para a receção de ofertas vinculativas.

A venda da Prio, é outro negócio que deverá ver a luz do dia em 2019. A Oxy Capital está a vender a Prio, e já recebeu cinco propostas. Para além da BP e da Oz Energia, há mais três. Há propostas acima de 150 milhões.

A saída do Estado chinês da Efacec, onde está com Isabel dos Santos, é outra das expetativas dos investidores, mas esse negócio potencial ainda é uma incógnita.

O estado angolano é acionista através da ENDE, numa participação de 16% na Winterfall que tem 72,6% da Efacec, sendo que a Niara Holding é dona maioritária da Winterfall. No mercado, há interessados em ficar com a Efacec. Mas só se Isabel dos Santos também vender. O Jornal Económico sabe que na corrida estão os fundos de private equity KKR e Bain.

O setor automóvel também atrairá as atenções em 2019. Por cá o negócio esperado é a venda da SIVA à Porsche Salzburg Holding. A SAG Gest – Soluções Automóvel Globais deverá assinar um contrato-promessa para a venda de um grupo de ativos à Porsche Holding Salzburg, da Volkswagen. O negócio tem sido complexo porque implica a reestruturação da relação bancária da SAG com os bancos Millennium bcp (BCP), BPI, o Novo Banco e a Caixa Geral de Depósitos (CGD). Os bancos têm de chegar acordo com a Porsche para reestruturar a dívida bancária para que a venda se concretize.

Artigo publicado na edição semanal do Jornal Económico de 28 de dezembro de 2018. Para ter acesso em primeira mão a todos os nossos conteúdos premium, aceda aqui ao JE Leitor.

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