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“A Partex é uma noiva apetecível, há muitos interessados”

A Gulbenkian retomou processo de venda da petrolífera e quer escolher o comprador ate junho. Resultados e presença global atraem multinacionais.
2 Março 2019, 15h00

Apesar do processo da venda da Partex aos chineses da CEFC ter falhado no ano passado, devido a questões de idoneidade do potencial comprador, a Fundação Calouste Gulbenkian não desistiu do objetivo estratégico de alienar a gestora de ativos petrolíferos.

“Costumo dizer que a Partex é uma noiva apetecível e este processo tem confirmado isso”, referiu António Costa Silva, CEO da Partex. “Posso dizer que há mais de três interessados”.

Segundo o gestor, o processo de entrega de propostas deverá decorrer até final de março, com a escolha do comprador prevista para ser concluído ainda no primeiro semestre.

“Os potenciais compradores são companhias internacionais muito reputadas. A selecção do candidato final vai ser muito importante. Isso tem que obedecer a múltiplos critérios, e um deles é a aceitação pelas autoridades das geografias onde operamos”, explicou Costa Silva, adiantando que nesses países “mantemos excelentes relações, e somos muitos respeitados”.

A Partex, foi criada em 1939 por Calouste Gulbenkian e participou nos grandes projetos do desenvolvimento da indústria no Médio Oriente. Além de continuar a deter participações minoritárias em projetos de gás em Abu Dhabi e no Omã, a empresa tem também posições no campo petrolífero gigante de Dunga, no Cazaquistão, no bloco 17/06 em Angola e nas bacias de Potiguar e Sergipe-Alagoas, no Brasil.

Costa Silva esclarece que o processo de venda é uma decisão da Fundação Gulbenkian. “O nosso accionista é soberano. Debatemos muito essa decisão e, portanto, a nossa missão aqui é implementar as decisões do accionista, defender os interesses da Partex, a companhia no seu conjunto e o staff. É o que nos move”.

No entanto, o CEO salienta que o apetite que as multinacionais demonstram pela aquisição da Partex está relacionado não só com o seu porfólio ou com os contatos que a empresa tem no Médio Oriente, mas também com o seu forte desempenho operacional e financeiro.

“O desempenho foi bom em 2018. As receitas subiram significativamente para 423 milhões de dólares,  um crescimento de mais de 30% face ao ano anterior. Os lucros duplicaram”, explicou. “A Partex é uma empresa que funciona como um relógio: produz resultados, gere receitas, dá lucros, e remunera sempre o accionista com dividendos, ano após ano. E sempre assim foi”.

“Globalmente, os projectos do Médio Oriente são significativos: 80% das receitas da companhia estão aí fixadas e é uma área do mundo em que os custos de produção são baixos”, sublinhou.

A motivação da Fundação Gulbenkian em vender a empresa está relacionada com uma viragem estratégica na sua presença na área da energia. “Tem a ver com o desenvolvimento do portfólio da Fundação.  É preciso saber que esse portfólio não tem só petróleo e gás, tem outras áreas como investimentos financeiros”, adiantou Costa Silva.

No portfólio da Partex está uma grande concessão em Omã, que produz cerca de 615 mil barris de petróleo por dia, e que foi renovada em 2004 por 40 anos.  Depois vem a atividade no Abu Dhabi, onde detém a concessão AGP ADNOC Gas Processing, que  foi renovada em 2008 por 20 anos. “A outra grande concessão era dos campos de petróleo de Abu Dhabi da ADCO, que expirou em 2014 e nós estávamos bem posicionados para renovar a concessão, só que isso envolveria simultaneamente um investimento elevado”, disse o CEO.

“Isto desencadeou a discussão ao nível do nosso accionista, que considerou que isso seria assumir uma exposição demasiado elevada no segmento do petróleo e gás. Foi a partir daí que se gizou todo este plano de venda da Partex”.

Costa Silva recordou que a holding da empresa – a Partex SBV -, está sediada na Holanda, o que faz com que esta venda seja uma operação internacional. “O acionista vai vender 100% dos seus interesses na holding. É aí que se processa a transação, mas a operação tem muitos efeitos, sobretudo nas geografias onde operamos, no tipo de intervenção da Partex, e nos equilibrios que existem”.

“Não nos podemos esquecer que isto também é o resultado da herança do senhor Gulbenkian, que era um especialista em montar estes equilibrios, em ter várias companhias associadas e em ter boas relações com os governos. Portanto, esses equilibrios têm de ser mantidos, senão poderá haver dificuldades. Está tudo a ser trabalhado”.

O mandato da administração da Partex termina este ano. Questionado se continuará à frente da empresa por um novo mandato, Costa Silva remete a questão para o acionista.

“Por definição e formação, sou uma pessoa que não gosta de abandonar os barcos a meio das tempestades, e estamos no meio de uma. O meu móbil e o dos meus colegas do concelho de administração é assegurar o caminho de desenvolvimento da empresa. A empresa tem muitas valências e qualidades, uma equipa técnica excelente e um caminho para o futuro”, conclui.

Artigo publicado na edição nº1976 de 15 de fevereiro, do Jornal Económico

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