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Acordo nuclear com o Irão ameaça ser a próxima grande crise internacional

Posições estão cada vez mais extremadas e o acordo, que demorou muitos meses a ser concluído, pode ser rasgado e dar espaço a nova escalada do nuclear.
2 Maio 2018, 07h20

Os Estados Unidos apertam o ritmo na reta final: a poucos dias de 12 de maio, altura em que Donald Trump vai decidir se rasga ou não o acordo nuclear com o Irão, os que são a favor de o abandonar e os que acham que ele é válido estão em posições cada vez mais extremadas.

Tudo porque esta semana, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, veio dizer que tem provas insofismáveis de que o Irão continua a ter um plano para o enriquecimento de urânio e a produção de armamento nuclear.

Donald Trump e o seu novo secretário da Defesa, Mike Pompeo – que esteve em Israel há poucos dias – vieram rapidamente a terreno reafirmar a sua confiança nos serviços secretos israelitas e dizer que se mais provas fossem precisas, elas estão agora nas mãos de Netanyahu.

Mas a União Europeia, que nestas coisas costuma ser de reação lenta, desta vez não foi, e veio de imediato dizer, pela voz de Federica Mogherini – o mais próximo que o agregado tem de um ministro comum da Defesa – que confia naquilo que a Agência Internacional de Energia Atómica tem a dizer sobre o assunto.

E o que a agência tem a dizer sobre o assunto é que não há qualquer evidência de que o Irão esteja a enriquecer urânio nem vestígio de um plano escondido para a produção de armas atómicas.

Ou seja, há um claro e cada vez mais profundo afastamento entre os Estados Unidos e Israel (e a Arábia Saudita) por um lado, e todos os restantes países que assinaram o pacto com o Irão. Ou quase todos: o Reino Unido também tem colocado dúvidas em relação aos objetivos do Irão, mas ainda não chegou ao ponto de afirmar que não tem confiança na monitorização da Agência Atómica.

Por outro lado, fica cada vez mais claro que a intervenção do presidente francês, Emmanuel Macron, junto do seu homólogo norte-americano no sentido de aceitar manter-se no interior do quadro de apoio ao acordo não surtiu qualquer efeito. Macron tentou dissuadir Trump a rasgar o acordo – na altura o presidente norte-americano não teceu grandes comentários (não se comprometeu para nenhum dos lados), mas de então para cá tem feito crescer o tom das suas intervenções.

A presença de Mike Pompeo veio reforçar a posição de Trump. O novo secretário da Defesa ameaçou no passado fim-de-semana, na Arábia Saudita, com a quebra do acordo e em seguida o primeiro-ministro de Israel entrou no jogo com as afirmações desta terça-feira. Para acabar a encenação, o Departamento de Estado norte-americano considerou que as provas apresentadas por Netanyahu são autênticas e mostram que “o Irã mentiu e continua a mentir”.

Pompeo anunciou que “vai consultar com os aliados europeus e outras nações [França, Alemanha, Reino Unido, China e Rússia, os que assinaram o acordo juntamente com os próprios Estados Unidos] sobre o melhor curso de ação“.

Recorde-se que a Agência Atómica reafirmou que o relatório publicado em dezembro de 2015, apenas um mês antes da entrada em vigor do acordo, indicava que o Irão investigou armas atómicas antes de 2003, mas não foi além da fase de estudo. O mesmo texto dizia que não havia indicação de que esse esforço tivesse sido prolongado além de 2009.

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