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Açores precisam de reforçar qualificações e aproveitar o potencial do Mar

Os Açores têm sido deficitários na balança comercial. Turismo, produtos alimentares e bebidas são motores das exportações, mas ainda há muitas oportunidades por explorar no Mar dos Açores.
1 Dezembro 2021, 16h00

A economia dos Açores pode ser caracterizada por ter uma balança comercial negativa crónica. Nas exportações, os produtos alimentares e bebidas possuem um forte peso, enquanto que nas importações releva-se a área dos resíduos das indústrias alimentares e dos alimentos para animais. O setor marítimo é visto como uma espécie de gigante adormecido do qual a região precisar tirar melhor proveito. Entre as fragilidades estão a exposição externa e a qualificação dos recursos humanos.
Para o professor de economia da Universidade dos Açores, Mário Fortuna, os setores do leite e lacticínios junto ao turismo, este último em “franco desenvolvimento” na região autónoma, constituem dois “pilares fortes” da exportação dos Açores. A estes setores o docente universitário junta também as pescas e transformação do pescado.
Mário Fortuna salienta que existe outro setor com potencial para ser um motor exportador dos Açores, mas que não têm tido concretização, que é a capacidade dos Açores de se constituírem como centro logístico no meio do Atlântico.
“Os Açores são conhecidos a nível mundial como um centro de passagem no meio do Atlântico. É um potencial que deve ser visto e explorado”, afirma o docente da Universidade dos Açores.
Mário Fortuna identifica também algumas das fragilidades da economia dos Açores. Uma delas está ligado ao facto da economia da região “não ser suficiente” para suportar o nível de vida europeu.
”Isto tem sido compensado com transferência da República e da União Europeia. Os Açores estão facilmente expostos às vontades externas”, explica o docente.
Mário Fortuna alerta para o atraso da economia dos Açores, que acabou por ser confirmado através da transferência de mais 20 milhões de euros, que o docente diz que por um lado é bom, por outro “não é bom o motivo do aumento, porque os Açores caíram abaixo dos 90% do PIB nacional”. O professor universitário acrescenta que a situação volta “a agravar-se” com a perda de 20 milhões de euros prevista para 2022 em função da redução do plafond nacional por virtude da queda do PIB nacional.
Outra das fragilidades apontadas por Mário Fortuna, que necessita de ser resolvida, está ligada à qualificação dos recursos humanos.
”É de longa data evidente que os Açores está menos qualificado que o resto do país. Vamos lá a ver se os dinheiros que vêm do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e da União Europeia serão canalizados para requalificar a mão de obra existente e formar novas gerações para uma economia mais competitiva”, explica o professor universitário.
O docente reforça que as medidas que deverão ser implementadas através de mecanismos como o PRR e as verbas do quadro comunitário, devem ajudar os Açores a aproximar-se das médias nacional e europeia, em vez de manter a atual tendência de divergência.

 

Défice comercial foi de 27,2 milhões de euros em 2019
Os Açores em 2019 tinham importações no valor de 142,7 milhões de euros e exportações de 115,4 milhões de euros, gerando um saldo deficitário de 27,2 milhões de euros. A taxa de cobertura ficou em 80,9%. O saldo entre importações e exportações tem sido deficitário pelo menos desde 1986.
Entre 1986 e 2019 o saldo deficitário passou de 3,7 milhões de euros para os 27,2 milhões de euros, indicam os dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA).
Nesse período as importações passaram de 7,9 milhões de euros para os 142,7 milhões de euros, e as exportações dos 4,2 milhões de euros para os 115,4 milhões de euros, e a taxa de cobertura dos 53,1% para os 80,9%.
Em termos de importações, dizem os dados da DREA, em 2019, salienta-se os 26,2 milhões de euros de ‘Resíduos das indústrias alimentares; alimentos para animais’, tendo Estados Unidos da América (EUA) e Costa do Marfim como países de origem. Os 16,4 milhões de euros de ‘Leite e lacticínios, ovos de aves, mel natural’ tendo França e Espanha como países de origem. Os 15,8 milhões de euros de ‘Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos etc’. tendo Canadá e Espanha como países de origem.
Nas exportações, em 2019, destaca-se os 84,1 milhões de euros de ‘produtos alimentares e bebidas’. Desse total 34,9 milhões de euros foram de ‘produtos primários’, e 49,1 milhões de euros de ‘produtos transformados’.
No segundo trimestre de 2021 as exportações de bens atingiram 31,7 milhões de euros (aumento de 29,0% em termos homólogos) e as importações 36,3 milhões de euros (diminuição de 8,3% em termos homólogos).
Quanto aos grupos de produtos transacionados, os que representaram a maior percentagem, neste trimestre, são os produtos alimentares e bebidas, quer na entrada (56,8%) quer na saída (59,4%).
No turismo os Açores, em 2020 tiveram 292.892 hóspedes, sendo que 212.423 foram de Portugal e 80.469 de estrangeiros. Foram contabilizadas 866.221 dormidas, sendo que 574.974 de Portugal e 291.247 de estrangeiros, de acordo com os dados da SREA.

 

Três milhões de dormidas por ano e estrangeiros representam mais de metade dos turistas
Em 2019, o turismo dos Açores registou 971.794 hóspedes, sendo 458.972 oriundos do resto de Portugal e 512.822 estrangeiros. Foram registados três milhões de dormidas, sendo que 1,2 milhões vieram de Portugal e 1,7 milhões do estrangeiro.

No segundo trimestre de 2021 o turismo teve de abril a junho, 341.522 dormidas e o total dos hóspedes foi de 114.034. Os proveitos totais e os de aposento (estabelecimentos hoteleiros e turismo no espaço rural) apresentaram, respetivamente, um valor de 12.162 milhares de euros e de 8.878 milhares de euros. No ano anterior as dormidas foram de 17.310, e os hóspedes de 5.466. Os proveitos totais de 575 e os proveitos de aposento de 416.

Entre 1992 e 2019 as receitas fiscais, nos Açores passaram de 218,1 milhões de euros para os 694,5 milhões de euros. Desde 2002 que a receita tem estado sempre acima dos mil milhões de euros, com o pico a ser atingido em 2019 onde se arrecadou 1,5 mil milhões de euros.
Em termos de indicador mensal de atividade económica, entre abril de 2020 e e abril de 2021, atingiu-se terreno negativo, com o pico entre maio e julho de 2020 com uma contracção de 6,6%, 7,4% e 6,3%.
Entre maio e julho de 2021 a atividade económica nos Açores voltou ao terreno positivo tendo-se atingido crescimento de 1%, 0,1% e 5%.

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