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Administração Trump mantém 14 mil crianças migrantes em centros de detenção fronteiriços

As autoridades norte-americanas têm sob a seu cuidado cerca de 14 mil crianças migrantes. Estes números foram divulgados pela Associated Press e foram recolhidos num prazo de 20 meses. Os mesmos dados revelam em detalhe o impacto da repressão migratória por parte da administração Trump.
20 Dezembro 2018, 07h25

Jakelin Ameí Rosmery Caal Maquin, de 7 anos, morreu dentro de um posto de imigração na fronteira dos Estados Unidos, na semana passada.

A menina, que morreu cerca de 12 horas depois de ter sido detida, juntamente com o seu pai, Nery pelas autoridades na fronteira dos EUA com Novo México, terá morrido por desidratação. Jakelin integrava um grupo de 163 pessoas que decidiram procurar uma vida melhor nos EUA contornando as condições dramáticas a que a maioria dos migrantes são sujeitos, por força das políticas de imigração restritivas da administração de Donald Trump: difíceis processos – legais – de pedido de asilo, retenção dos candidatos durante semanas em campos perigosos e sem condições do lado mexicano da fronteira e que levam os traficantes a intervir na equação e a direcionar os migrantes para o deserto.

Infelizmente, Jakelin é apenas uma das várias vítimas que integrava no grupo de crianças imigrantes detidas no pais. O governo federal norte-americano colocou cerca de 14 mil bebés, crianças e adolescentes imigrantes sob os seus cuidados em centros de detenção e alojamentos lotados e com falta de condições.

À medida que o ano chega ao fim, cerca de 5.400 mil crianças migrantes detidas nos EUA dormem em abrigos com mais de outras mil crianças. Cerca de nove mil estão em instalações com mais de 100 crianças, sendo que 5.405 mil delas estavam em três instalações que retém mais de mil jovens no Texas e na Florida. Os dados são da autoria do governo, mas foram divulgados pela Associated Press (AP), esta quarta feira.

Três meses após a tomada de posse do presidente Donald Trump, os dados apontavam para 2.720 mil jovens migrantes sob os cuidados das autoridades norte-americanas, sendo que a maioria estava em abrigos com algumas dezenas de crianças ou em programas de adoção. Hoje os números são mais altos.

As autoridades do governo dizem que a recente crise migratória, obrigou-os a expandir o número de camas disponíveis para crianças migrantes, de 6.500 mil no ano passado para 16 mil hoje.

Até agora, a informação pública sobre o número de jovens mantidos em cada instituição supervisionada pelo Gabinete de Reintegração de Refugiados (Office of Refugee Resettlement, em inglês), tem sido limitada mesmo para os advogados que representam as crianças.

Porém, a AP obteve dados que mostram o número (alto) de crianças em centros de detenção individuais, abrigos e programas de assistência social. Estes números foram recolhidos ao longo 20 meses, e revelam em detalhe o impacto da repressão migratória por parte da administração Trump.

Os dados mostram que ao longo dos anos o governo tem dificultado o processo de atribuição de abrigo seguro a crianças vulneráveis que fogem para o solo norte-americano. Segundo o relatório, o período de espera quase que duplicou, sendo que o tempo médio é de dois meses para jovens mantidos dentro do sistema. Isto acontece em parte porque a administração Trump, no inicio do seu mandato, acrescentou medidas de filtragem mais restritas para pais e familiares que poderiam ficar com a custódia dessas crianças.

Contudo, na terça-feira, 18 de dezembro, as coisas mudaram.

O governo acabou com uma política que exigia as impressões digitais de todos os adultos que vivam em residências onde irão ser alojadas crianças migrantes. Apesar disso, todos os residentes irão ser submetidos a verificações de antecedentes. Com esta alteração, as autoridades esperam que o processo de atribuição de alojamento não seja tão demorado e que possam, assim, evitar situações em que os próprios jovens questionam se foram ou não abandonados pelos pais.

“É uma dor que nunca conseguiremos superar”, disse Cecilio Ramirez Castaneda, um salvadorenho cujo filho de 12 anos, Omar, foi-lhe retirado em junho, quando foi preso sob a política de “tolerância zero” da administração, que levou quase 3 mil crianças a serem separadas das suas famílias. Omar temia que o seu pai tivesse desistido dele durante os cinco meses que passou em Southwest Key Shelter, em Brownsville, Texas, com dezenas de crianças.

Ramirez reencontrou-se com Omar no mês passado apenas para descobrir que o filho havia sido hospitalizado e medicado por depressão e partiu um braço enquanto estava sob a custódia do governo.

“É um sistema que causa danos irreparáveis”, disse ele.

Especialistas dizem que a profunda ansiedade e desconfiança que as crianças sofrem quando são institucionalizadas longe dos entes queridos podem causar problemas de saúde mental e física de longa duração. É perigoso para todas as crianças, mas especialmente para aquelas que ficam mais tempo e em instalações maiores com menos cuidados pessoais.

Mark Weber, porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, confirmou vários abrigos lotados e com condições escassas, a partir dos dados obtidos pela AP.

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