Desde o início da pandemia que a atividade de apostas e jogos online cresceu mais depressa do que o esperado em circunstâncias normais. Na União Europeia e no Reino Unido, o setor de jogo online aumentou 13%, ou seja, de 24,8%, em 2019, para 38%, até junho de 2021. O mesmo aconteceu com as compras online, sendo que os pagamentos virtuais subiram de 5 para 30% entre 2019 e 2020 e a preferência dos consumidores pelas compras online já se situa nos 50%.

A evolução em Portugal reflete esta tendência geral nos setores de consumo. O jogo online aumentou muito acima da média nos últimos três trimestres, e embora não devamos fazer leituras literais, ao colocarmos estas dinâmicas em contexto percebemos que também no jogo se experimentaram elevados níveis de restrições a estabelecimentos físicos que resultaram, em parte, numa certa migração do jogo físico para o online.

Apesar de o jogo online ter crescido de €70,2 milhões no primeiro trimestre de 2020, para €128,3 milhões no primeiro trimestre de 2021 (+83%), certo é que o setor de jogo regulado pelo Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos, casinos físicos e jogo online, registou um crescimento total de apenas 1,6% entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2021. Será interessante aferir como se comportaram as apostas de base territorial, compreender as dinâmicas entre o offline e o online e daí tirar melhores conclusões ─ mas arrisco a dizer, desde já, que este comportamento é muito influenciado por um fenómeno de vasos comunicantes.

Gradualmente, vamos poder observar uma retoma do comércio físico quando voltarmos a ter mais liberdade de movimentos, e com ela um abrandamento do crescimento do jogo online. Contudo, não esqueçamos que o setor de jogo online tem tido um crescimento saudável desde que foi regulado, em boa parte devido também a uma melhor perceção do jogo licenciado por parte dos consumidores, que antes apenas tinham disponíveis operadores não licenciados, e, por conseguinte, estavam desprotegidos face a práticas não reguladas.

A tendência de crescimento do consumo online está para ficar e ainda bem. A pandemia provocou transformações e alterações de comportamento num ritmo muito acelerado, mas trouxe também novas oportunidades. Pensemos na proteção dos consumidores ou na prevenção da fraude, por exemplo. No jogo, graças à internet, conseguimos verificar a identidade de um cliente imediatamente, assim como verificar a titularidade dos meios de pagamento e cruzar informação de forma a minimizar situações de fraude, mas também garantir que apenas os adultos jogam online.

Há mais segurança, a rastreabilidade das transações está assegurada e é possível saber quando é que um cliente se registou, quantas vezes depositou dinheiro e jogou. Podemos ainda monitorizar o comportamento de jogo e identificar numa fase muito inicial se os consumidores estão a enfrentar um problema com o jogo. E podemos até identificar possíveis manipulações de eventos desportivos e muito mais.

A mudança generalizada do consumo para o digital é um processo inevitável que a pandemia acelerou. O que podemos fazer é adaptarmo-nos como sempre fizemos, quer no cinema ou na música, na fotografia ou nos transportes. Hoje, cada vez mais, temos as ferramentas tecnológicas para mantermos a nossa vida online dentro de níveis de segurança adequados, enquanto desfrutamos das várias formas de viver a nossa vida online, incluindo o jogo, como forma de entretenimento.