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Adolfo Mesquita Nunes anuncia desfiliação do CDS-PP

A desfiliação do CDS-PP, explica Adolfo Mesquita Nunes, é tomada em nome da liberdade. Adolfo Mesquita Nunes considera que o partido em que se filiou, “o CDS-PP das liberdades, deixou de existir”, e acrescenta que a desfiliação não se fundamenta nas “profundas discordâncias” com o rumo seguido pela direção eleita.
  • Nuno André Ferreira/LUSA
30 Outubro 2021, 11h34

Adolfo Mesquita Nunes anunciou a desfiliação do CDS-PP na sua página oficial de Facebook. O até agora centrista considera que este é provavelmente “o mais difícil ato político” da sua vida, e reforça que toma esta decisão em nome da liberdade.

O até agora militante do CDS-PP considera que o partido em que se filiou, “o CDS-PP das liberdades, deixou de existir”. Adolfo Mesquita Nunes diz que a sua desfiliação não se fundamenta nas “profundas discordâncias” com o rumo seguido pela direção eleita nem na “avaliação que esta publicamente faz da minha honra e da minha militância”.

O até agora militante centrista reforça que o CDS-PP é atualmente “estruturalmente distinto” daquele em que se filiou, reforçando que é um partido “que quer afastar-se do modelo de partido que servi como dirigente”.

Adolfo Mesquita Nunes salienta que o partido era “um espelho da direita das liberdades que o CDS-PP se propôs representar no seu Programa”, e que nas diferenças “tínhamos e temos tanto em comum: o humanismo, o personalismo, o Homem como princípio e fim de toda a ação política, a liberdade individual e a igualdade perante a lei”.

O até agora militante do partido contudo diz que agora os “tempos são outros”. Adolfo Mesquita Nunes considera que a diversidade “é vista como fraqueza, perda de identidade, como se só houvesse uma única e legítima forma de ser do CDS-PP”, acrescentando que “contemporaneidade é vista como uma ameaça, como se as novas gerações e as suas preocupações fossem a degenerescência de uma ordem moral ideal”.

Adolfo Mesquita Nunes reforça que a “liberdade é vista como algo de relativo, que deve sucumbir em nome de uma messiânica ideia do que é ser do CDS-PP”.

O até agora militante do partido considera que “nunca me imaginei em discussões sobre se alguém do CDS-PP pode não gostar de touradas, se pode ser vegetariano, se pode divorciar-se, se pode amar quem quiser, se pode não ser crente. Mas essas discussões vieram para ficar e dão bem conta das novas prioridades do partido”.

Adolfo Mesquita Nunes salienta que se discute “sem pejo, que há uns que são e outros que não são do verdadeiro CDS-PP”, e acrescenta que “abre-se a porta, sem pudor, a quem se atreve a divergir, a quem ousa dizer coisas que qualquer partido de direita europeu encara com naturalidade”.

O centrista salienta que no partido se diz atualmente com convicção que “há muitos de nós que não devemos estar aqui, que temos de ir embora”, acrescentando que “acusa-se, com todas as letras, quem diverge de ter interesses clientelares ou políticos obscuros”.

Adolfo Mesquita Nunes refere que isto é feito com “um dedo acusador, moralista, de quem acha que no CDS-PP só pode estar quem confirme uma suposta pureza cristã”.

O até agora militante centrista considera que esta visão de partido “não vem de agora”, reforçando que sempre houve quem a quisesse implementar, e afirma que “sempre houve quem lidasse muito mal” com a contemporaneidade e com a liberdade.

Adolfo Mesquita Nunes que esta é a “tendência maioritária”, e dela resulta uma “estratégia clara”, com respaldo em sucessivos Conselhos Nacionais, de “afunilamento e reposicionamento” do partido.

Conselho Nacional é confirmação de que partido deixou de existir

Adolfo Mesquita Nunes considera que no Conselho Nacional, realizado na passada sexta-feira, que decidiu adiar o congresso, para depois das legislativas, “o CDS-PP desistiu, enquanto partido, de discutir e decidir em congresso com que liderança e com que estratégia deve enfrentar as próximas eleições legislativas é apenas a confirmação de que o partido deixou de existir, com pensamento e estratégia autónoma, aceitando com entusiasmo o caminho para a nossa irrelevância, dependendo da bondade e caridade de terceiros”.

O até agora militante do CDS-PP questiona como é possível que o partido aceite que uma direção retire aos militantes “o direito de escolher o seu líder e a sua estratégia”, acrescentando que isso foi feito num Conselho Nacional “ilegalmente convocado e ignorando as decisões do órgão jurisdicional do partido; e ainda para mais para manter uma direção cujo mandato termina em Janeiro”.

Adolfo Mesquita Nunes volta a reforçar que este não foi o partido em que se filiou, tendo-se “transformado noutra coisa”.

O até agora centrista considera que “é legítimo” que o partido se transforme noutra coisa, mas também é “legítimo que eu escolha desfiliar-me agora que essa transformação se cristalizou”.

Adolfo Mesquita Nunes afirma que acreditou que “era possível inverter este rumo”, mas que vê hoje que “este se tornou irreversível”.

O até agora militante centrista diz que deixa o partido “sem uma gota de arrependimento pelo percurso que nele fiz durante 25 anos”, acrescentando que foi uma “honra ter servido e representado o CDS-PP e é com orgulho que olho para o que, com erros e acertos, fomos capazes de fazer em nome da direita das liberdades”.

Adolfo Mesquita Nunes diz que “nunca fez” esse caminho sozinho, e deixou uma palavra de amizade, agradecimento e apreço a todos aqueles que partilharam desse caminho.

“Em especial, ao CDS-PP da Covilhã e a todos os que acreditaram e deram cara pelos projetos que vos propus, quero deixar um emotivo abraço: nos últimos meses, foi o vosso empenho e dedicação que me fez ficar. O meu valor primeiro é o da liberdade. Nunca o comprometi ao ser do CDS-PP. E é em nome da liberdade que me desfilio”, disse Adolfo Mesquita Nunes.

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