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Álvaro Barreto: um tecnocrata na política

Vindo dos quadros da CUF, onde se acantonavam os que já tinham percebido que a Europa era o futuro do país, Álvaro Barreto foi ministro de diversas pastas e com diversos primeiros-ministro. A última experiência, com Santana Lopes, fê-lo desistir da política.
11 Fevereiro 2020, 08h05

Ministro por diversas vezes com diversos primeiros-ministros, Álvaro Barreto foi um dos políticos portugueses que mais se aproximou da figura do tecnocrata que prefere o trabalho à chicana política – o que em Portugal tende a ser pouco reconhecido como uma mais-valia. A sua última presença num governo deu-se sendo primeiro-ministro Pedro Santa Lopes, que, dizia-se na altura, pretendia de Álvaro Barreto uma espécie de confirmação da qualidade do seu executivo e de ponte para o apoio de alguma fações do PSD que não estavam alinhadas com o ‘herdeiro’ de Durão Barroso.

Talvez Álvaro Barreto tivesse acabado por sair desiludido de mais essa aventura política, que acabou mal e muito depressa – o que por certo o levou a abandonar uma vida que manteve sempre em paralelo, ou talvez intermitentemente, com a atividade de gestão.

Licenciado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa em 1959, Álavo Barreto foi rapidamente recrutado para o Grupo CUF (para a Profabril), que nessa altura era uma espécie de alfobre dos técnicos que estavam a mudar (na medida do possível) a face da indústria nacional. Fechada sobre si à custa da contingentação industrial, a economia portuguesa dava mostras de uma crescente asfixia, contra a qual alguns, poucos, grupos tentava lutar – sabendo que o sucesso não estava nas suas mãos.

O Grupo CUF, absolutamente gigante para os padrões nacionais – era um deles: as fronteiras portuguesas (mesmo somando-lhes as colónias) já não era suficientes, num quadro em que já era evidente que o futuro passaria pela Europa e pela Comunidade Económica Europeia. Álvaro Barreto era um desses jovens que a CUF pretendia manter por perto – se possível numa das empresas mais expostas ao exterior. Era o caso da Lisnave, para onde foi diretor administrativo, tendo depois, em 1971, passado para administrador delegado da Setenave.

Era aí que estava quando se deu a Revolução de Abril – um lugar perigoso aos olhos do novo poder. Foi nessa altura que o jovem engenheiro sentiu que não devia resistir ao desafio da política: aderiu ao Partido Popular Democrático (PPD), atual Partido Social Democrata (PSD) e foi por sua via que exerceu pela primeira vez funções públicas: em 1978 foi nomeado ministro da Indústria e Tecnologia do primeiro governo de iniciativa presidencial de António Ramalho Eanes, o IV Governo Constitucional, que tinha como primeiro-ministro Carlos Alberto da Mota Pinto.

Foi um governo que de algum modo ‘puxou’ o PPD para águas mais à direita que aquelas onde costuma vogar o seu fundador, Francisco Sá Carneiro, e de alguma forma Álvaro Barreto tomou essa marca.

No ano seguinte, começaria essa espécie de ping-pong entre a política e a gestão empresarial: em 1979 foi nomeado presidente do conselho de gerência da TAP, cargo que abandonou logo em 1980 ao ingressar no primeiro governo da Aliança Democrática. Com Sá Carneiro, tornou-se ministro da Indústria e Energia, para, no ano seguinte e com Francisco Pinto Balsemão, passar para o Ministério da Integração Europeia.

Esteve também no ‘célebre’ governo do bloco central (PS/PSD)como ministro do Comércio e Turismo (1983) e ministro da Agricultura (1984) – função que lhe permitiu ‘descobrir’ uma outra vocação: aí se manteria após a vitória do PSD em 1985 e em 1987 (com a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva), e só deixaria o cargo em 1990, o que permitiu a Álvaro Barreto ser um dos ministros da Agricultura mais interventivos desde 1974 – salvo talvez com a exceção do socialista António Barreto.

Em 1991 e em 1995 foi eleito deputado à Assembleia da República, tendo andado arredado da causa pública (do ponto de vista da participação em governos) até se ter deixado convencer por Santana Lopes a ‘carimbar’ o executivo com o selo da qualidade. Com Santa Lopes, era também ministro de Estado, o que o colocou no segundo lugar da hierarquia do executivo.

Regressado à Soporcel em 1990, cumpriu várias outras funções: membro do Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas e do Conselho Social da Universidade de Coimbra; e muito mais tarde (entre 2015 e 2017) vogal da administração do Millennium BCP. Mas, depois do ‘desaire’ de Santana Lopes, deu por encerrado o seu período de ativista político.

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