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Ameaça nuclear iraniana? Há onze anos, o Irão anunciava o enriquecimento de urânio à escala industrial

Em plena Guerra do Afeganistão e do Iraque, o mundo assistiu ao despoletar de uma potencial ameaça iraniana em desenvolver o seu programa nuclear e, alegadamente, produzir armamento nuclear.
  • Raheb Homavand / Reuters
11 Abril 2017, 07h50

Foi há onze anos que o mundo tremeu com o anúncio o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, de que o país havia procedido ao enriquecimento de urânio à escala industrial. A braços com a Guerra do Afeganistão e com o Conflito no Iraque ainda em curso, o mundo conheceu, em choque, a possibilidade de uma nova ameaça vinda da nação petrolífera anti-Ocidente.

“O Irão vai juntar-se em breve ao clube dos países com tecnologia nuclear. Os inimigos não podem dissuadir a nação iraniana do caminho do progresso que ela escolheu”, declarava Mahmoud Ahmadinejad, a 11 de abril de 2006, ao país e ao mundo.

O anúncio veio confirmar as suspeitas da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) que no final de 2002 divulgava fotos de satélite de duas instalações nucleares iranianas desconhecidas até então. Acreditava-se que o pai da bomba atómica paquistanesa, Abdul Qadeer Khan havia entregue a tecnologia e os seus conhecimentos nucleares ao Irão e, dadas as relações pouco amigáveis entre os Estados Unidos e o Irão, temia-se uma possível ofensiva iraniana como resposta aos anos de repressão e pobreza do Governo do xá Reza Pahlevi, apoiado pelos Estados Unidos.

A afronta iraniana e a aceleração do programa nuclear

Depois de ter deixado passar o prazo fixado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para suspender as atividades de enriquecimento de urânio, o Irão conheceu várias sanções comerciais e diplomáticas, incluindo o embargo ao petróleo iraniano. E ainda assim o presidente Mahmoud Ahmadinejad, considerado um ultraconservador, negou pôr fim ao programa nuclear iraniano, alegando que os seus propósitos nada tinham a ver com desenvolvimento militar, mas sim como produção energética.

Após ter recusado um melhor status para o país no cenário internacional, oferecido pelo então presidente norte-americano, Barack Obama, Mahmoud Ahmadinejad deu ordem para se iniciar o processo de enriquecimento de urânio a 20%, quando o suficiente para produção de energia elétrica é de menos de 5%.

A vitória do candidato Hassan Rohani às presidenciais do Irão veio trazer um novo fôlego às negociações para a não-proliferação de armas nucleares. Considerado mais moderado do que o seu antecessor, Rohani prometeu uma política externa menos agressiva e desde logo comprometeu-se com a ONU a por fim às décadas de animosidade entre o Irão e os Estados Unidos.

O acordo para o fim da escala nuclear iraniana

Após quase trinta e cinco anos sem contato oficial entre presidentes dos dois países, Obama e Rohani conversaram em setembro de 2013, por telefone,  quebrando finalmente o muro criado entre as duas nações.

Em abril de 2015, Hassan Rohani assinava, em Viena de Áustria, um acordo histórico para a limitação e supervisão internacional do programa nuclear do Irão, oferecendo a oportunidade real de uma mudança de paradigmas no Médio Oriente.

O documento com mais de 80 páginas e cinco anexos técnicos, que está ainda em vigor, possibilita ao país continuar a enriquecer urânio, mas em muito menos quantidade, e a um nível de enriquecimento muito abaixo do necessário para alimentar uma bomba atómica. Em troca todas as sanções antes aplicadas foram levantadas.

Um relatório da AIEA de fevereiro mostra que desde então o Irão “não procurou construir mais nenhum reator de água pesada [além aquele que já tem]” e não detém “urânio enriquecido acima do limite” imposto de 3,67%. Dois terços das centrifugadoras, necessárias para produzir o ‘yellow cake‘ que é posteriormente convertido em gás, foram desmanteladas e o stock de urânio sofreu uma redução significativa.

As reservas da nova administração na Casa Branca

O acordo conseguido pela ONU com o Irão não recebeu, no entanto, a benção do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que se refere a ele como “o pior acordo alguma vez negociado” e prometeu colocar-lhe um ponto final. “Um dos piores acordos que alguma vez vi é o acordo sobre o (programa) nuclear iraniano. O meu Governo já impôs novas sanções ao Irão e vou fazer ainda mais para que o Irão nunca, mesmo nunca, desenvolva uma arma nuclear”, garante Donald Trump, embora não avance com medidas concretas.

O país, que continua a ser sancionado por violações dos direitos humanos e pelo apoio a grupos terroristas, parece estar a dar cumprimento ao acordo de não-proliferação de armas e Obama recorda ao republicano Trump que o cumprimento das normas por parte do Irão “prova que a diplomacia funciona”.

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