Passaram oito anos desde a intervenção externa no país e pouco ou nada se falou. Excepção feita para relembrar dos direitos perdidos e até agora não recuperados.

A retórica política utilizada é semelhante a técnicas de desinformação ou contra-informação que têm como objectivo passar a mensagem que melhor convém, e neste momento não convém pensar no passado.

Olhando para trás, todos se deixaram enganar por uma ilusão de criação de riqueza que se perpetuaria no tempo. Desde banqueiros centrais a governos, passando pela própria Comissão Europeia, 2007 e 2008 era o tempo de gastar, fazer crescer o PIB, porque a dívida, essa, não seria um problema, afinal tínhamos uma moeda única. Esta foi uma das grandes lições: o euro não é de todos, mas sim de alguns.

O imbróglio em que a zona euro se meteu, depois da crise nos EUA e já na sua fase de recuperação, visou apenas salvar os grandes bancos de países como a França, Alemanha ou Luxemburgo, retirando credibilidade aos bancos periféricos. Assistimos a uma transferência de riqueza a custo zero, como nunca seria possível imaginar e com o consentimento dos mais altos cargos de todas as nações. Louvor tem de ser feito à Grécia que, em dez anos de pressão, rejeitou a resolução de bancos ou a falência do seu sistema financeiro, preferindo adoptar controlos de capitais.

O experimentalismo utilizado nos diversos países descreve uma classe política claramente amadora, disposta a implementar experiências teóricas, claro, sempre com o dinheiro dos outros. As taxas sobre depósitos aplicadas no Chipre, as perdas forçadas sobre dívida detida pelos privados na Grécia ou as resoluções forçadas de bancos em Portugal e Espanha são fontes de abuso de poder, apenas consentido pelo medo instalado.

Portugal e os países periféricos não tiveram a capacidade de adoptar uma agenda comum e de protecção contra o ataque ao seu sistema financeiro e população. No fundo, estes países devolveram o equivalente a anos de apoios em fundos estruturais aos países mais ricos, salvando os bancos destes a troco de nada.

Ninguém parece querer estar associado ao que era um inevitável programa de ajustamento. Nem os portugueses que o originaram, nem aqueles que o aplicaram, e muito menos os que, a partir da Comissão Europeia, o supervisionaram e impuseram.  Somos todos portugueses, uns mais diferentes que outros, até porque robles, cunhados e nomeações directas ou cruzadas são agora o normal de uma família que se protege.

Infelizmente, a amnésia geral que vivemos actualmente não irá evitar uma nova crise, que será não apenas de dinheiro, mas também de valores.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.