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Analistas alertam para menor “utilidade” da taxa de inflação na zona euro durante a pandemia

As medidas assimétricas nos vários Estados-membros da UE distorcem a dinâmica de preços, retirando relevância ao indicador quando utilizado como medida de análise económica. Ao contrário do que sucede nos EUA, esta inflação não parece refletir uma real aceleração da economia europeia.
2 Março 2021, 18h15

A expectativa de que a taxa de inflação anual se mantenha estável na zona euro em fevereiro deve ser analisada com precaução, dados os fatores extraordinários que contribuem para este resultado, alertam analistas do Commerzbank e do ING.

“Desde o início da pandemia originada pelo coronavírus, a utilidade dos dados sobre a taxa de inflação na zona euro tem sido fortemente afetada”, começa por destacar Christoph Weil, economista sénior do Commerbank. Este argumento é suportado pelas medidas temporárias e assimétricas de combate aos efeitos económicos da Covid-19 por toda a Europa, como a redução do IVA na Alemanha.

Mesmo em termos da chamada ‘core inflation’, que mede a variação de preços de um cabaz de bens que exclui comida, álcool, tabaco e energia, a queda de 0,3 pontos percentuais (p.p.) até aos 1,1% em fevereiro deve ser interpretada com cautela. Esta descida reflete, por exemplo, os adiamentos ou cancelamentos das épocas de saldos nalguns países, que “alteraram os padrões de preços no sector do vestuário”, como denota Christoph Weil.

Outro efeito relevante segundo o analista do Commerzbank relaciona-se com os preços no turismo.

“O forte aumento de preços para pacotes de férias em fevereiro assumido pelos estatísticos – é quase impossível coletar dados nesta categoria atualmente – este ano faz com que o índice de preços no consumidor suba muito menos do que em fevereiro de 2020 porque o seu peso no índice caiu para um terço”, aponta.

Ainda assim, a expectativa é de que a inflação se mantenha nesta ordem ou até cresça durante o ano, como antecipa Bert Colijn, o economista sénior do Departamento de Análise Financeira e Económica do ING, sem que isso traduza uma verdadeira aceleração da economia europeia. Para isso contribuirá, por exemplo, a evolução dos preços do petróleo, que vão já iniciando a sua recuperação, como se verifica na passagem de -4,2% para -1,7% de inflação anual registada em janeiro e fevereiro, respetivamente.

“Isto acresce a outras pressões temporárias nos preços, como aumentos nos bens intermédios devido a problemas na cadeia de abastecimento e efeitos de base na categoria de serviços que reduziram preços durante a pandemia”, explica o analista do banco holandês.

Colijn esclarece ainda que o Banco Central Europeu (BCE) “claramente não está preocupado” com pressões inflacionárias, mas sim “com taxas de juro das dívidas soberanas mais elevados devido aos desenvolvimentos recentes nos EUA”, onde a economia parece estar a aquecer. Assim, e para melhor compreender a real dinâmica de preços na zona euro, importa analisar os desenvolvimentos salariais, defende Christoph Weil, onde as notícias não são as mais animadoras.

“A recessão na zona euro despoletada pela pandemia de Covid-19 deverá esmorecer o crescimento salarial em 2021. De acordo com o indicador de negociação salarial calculado pelo BCE, o crescimento dos salários enfraqueceu significativamente já em 2020”, conclui a análise do banco alemão.

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