É escusado cantar vitória sobre a covid-19. Os números europeus da pandemia continuam arrasadores, os pequenos sinais de vitória são enganadores e Portugal continua a registar números em crescendo, não sendo mais elevados porque são feitos poucos testes. Temos de esperar mais dois meses para ver como será a evolução, para se poder vislumbrar alguma luz ao fundo do túnel.

Mas, a par do tema da saúde, temos o impacto na economia da paragem de dezenas de milhar de empresas, e aqui estamos claramente no início de um processo devastador. Os números atualizados falam em cerca de 600 mil trabalhadores em lay-off e que rapidamente chegarão ao milhão, de PME que não vão reabrir e de grandes empresas que aproveitam para, em massa, não renovarem contratos de trabalho a coberto da crise de pandemia.

E, tão grave quanto isto, é a informação que vai chegando de que há empresas com balanços limpos mas cujo pedido de acesso a linhas de apoio – que não podem ultrapassar os 800 mil euros por empresa – é, simplesmente, recusado. A liquidez continua a não chegar às empresas que tiveram dificuldades em pagar o mês de março e que, em abril, vão ter de antecipar fundos que depois serão devolvidos pela Segurança Social.

Mais. Como será instrumentalizada a linha dos 13 mil milhões de euros aprovada pela União Europeia para Portugal? Parte dos fundos já está em aplicação, mas a burocracia vai complicar e dificultar o acesso a dinheiro. O “patrão dos patrões”, António Saraiva, veio, com razão, elencar um conjunto de reivindicações que se resumem à imediata necessidade de apoios a fundo perdido. Já aqui afirmámos que essa é a opção para melhor viabilizar empresas e não financiamentos com juros que serão insuportáveis. E também não vale a pena estar a denegrir a banca, que tem de emprestar sem se proteger perante os custos inerentes às operações e aos eventuais incumpridores.

No contexto nacional tudo parece ser uma falácia. Trump trabalha com números de desemprego de março, enquanto por cá, Marcelo ainda avalia com números de janeiro. E, depois, entendamo-nos sobre os perigos da pandemia e a melhor estratégia. Não vale a pena a diretora-geral de Saúde vir dizer que a máscara é uma falsa proteção e a ministra da Saúde admitir o contrário na entrevista à RTP. António Costa, enquanto líder, não pode viver no camuflado, tem de falar verdade e não apenas gerir expetativas.

A história das máscaras irá mudar a partir do momento em que o país começar a ter os milhões de unidades que precisa. Quando isso acontecer o uso será generalizado e eficaz, mas até lá não farão falta. Ora, este tipo de discurso com assuntos simples – máscaras – é o suficiente para desacreditar os governantes perante todos aqueles que se mantêm em casa, a perder rendimentos, empregos e expetativas. É que se se deixar de acreditar no tema das máscaras, também se deixa de acreditar nas ajudas dos bancos, nas ajudas do Estado e na recuperação da economia a curto prazo.

Por enquanto, a preocupação é a sobrevivência de negócios, mas rapidamente se vai entrar no pós-Covid e no ano perdido como ficará conhecido 2020.