[weglot_switcher]

Aplicações de risco serão mais rentáveis em 2022, aponta Deco Proteste

O novo ano será marcado por dois constrangimentos para quem quer poupar: a pressão inflacionista e o fraco desempenho das aplicações de capital garantido. Produtos que beneficiem da valorização das bolsas podem ser opção.
22 Janeiro 2022, 22h00

O contexto económico do novo ano faz com que a poupança seja um verdadeiro desafio. Essa é a convicção de António Ribeiro, especialista em produtos de poupança e economista da Deco Proteste, em entrevista ao JE. Apesar de Portugal registar uma taxa de poupança recorde – estima-se que os depósitos bancários atinjam neste momento os 172 mil milhões de euros – este economista adverte para dois aspetos que devem ser tidos em conta quando o tema passa pela poupança. São estes: o fraco desempenho das aplicações de capital garantido e uma questão que será incontornável no novo ano, a inflação.

Dois obstáculos à poupança
Esclarece António Ribeiro que o rendimento das aplicações de capital garantido, como depósitos ou títulos do tesouro, “são aplicações em que o rendimento é muito baixo ou praticamente nulo. Aliás, em muitos depósitos, sobretudo nos grandes bancos, o rendimento é mesmo nulo”. Além disso, este especialista adverte para a preocupação associada à inflação: “Podemos dizer que a pressão inflacionista e as perspetivas de subida da inflação fazem com que o rendimento real das poupanças seja negativo: portanto, as pessoas vão ver o dinheiro perder valor”. Neste enquadramento, o que podem esperar os investidores para 2022? Explica este economista que a Deco Proteste tem alguma dificuldade em encontrar aplicações com um “rendimento aceitável”: “Vai ser muito difícil as pessoas, por um lado sentirem-se motivadas para tirar o dinheiro das contas à ordem ou mesmo a prazo, e fazerem uma poupança de médio longo prazo”.

Risco é opção?
Sendo o novo ano um período pouco favorável para investimentos de capital garantido, poder-se-á dizer que o risco é uma opção? O economista da Associação de Defesa do Consumidor acredita que esse aspeto terá de ser levado em conta: “A solução vai ter que passar por arriscar um pouco”, defende. “A alternativa passa por procurar aplicações que tenham algum risco, mas que, potencialmente, possam ser mais rentáveis. Mas atenção: não estou a dizer que as pessoas devam colocar todas as poupanças que têm em produtos de risco; uma boa alternativa de investimento passa canalizar uma parte das poupanças para produtos que beneficiem da valorização das bolsas”, explica António Ribeiro. Nesse leque, destaca o economista, “existem vários produtos direcionados para essa alternativa, como os fundos de investimento, que são conhecidos, mas por exemplo os PPR sob a forma de fundo, que não têm capital garantido, mas têm algum investimento em ações e a longo prazo, o potencial de rendimento será superior”. Conclui que “para quem quer obter algum retorno do investimento, uma parte das poupanças deverá ser canalizada para esses produtos”.

O que ter em conta?
António Ribeiro realça que os produtos de maior risco “nunca se destinam a obter proveitos a curto prazo”. “Não posso fazer uma poupança em fundos de investimento ou num fundo PPR a pensar que vou resgatá-lo daqui a um ano ou dois porque como seu rendimento varia em função das bolsas, poderá acontecer que num ano as bolsas não estejam tão bem e o rendimento seja negativo. Naturalmente que, se houver algum resgate nessas condições, podem perder parte do dinheiro. Portanto, esse tipo de investimento tem que ser visto numa ótica de médio longo prazo, tanto nos fundos de investimento como num fundo PPR”, destacou este especialista.

Um relatório recente da Comissão Europeia indicava que as pensões de reforma vão sofrer cortes de cerca de 50%, o que significa que, quem está neste momento em idade ativa e a fazer desconto, provavelmente vai ver o seu rendimento diminuir quando chegar à reforma. António Ribeiro não tem dúvidas: a forma de superar essa situação passa por começar a poupar num PPR ou num fundo de pensões, “o mais cedo possível”. “Se antes se dizia que essa poupança deveria ser feita a partir dos 40 anos, hoje podemos dizer que quanto mais cedo o fizer, melhor. Essa decisão permite-lhe aplicar em produtos com maior risco, com um investimento maior em ações com potencial de rendimento superior”, sublinha. E pode-se dizer que o mercado português é atrativo para quem quer investir a longo prazo? “Existem no mercado cerca de 700 PPR, sendo que a maior parte já não permite novas subscrições. Os que estão disponíveis para subscrever são cerca de uma centena: uns sob a forma de PPR e outros sob a forma de fundo de investimento”, conclui.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.