No último debate quinzenal realizado na Assembleia da República, António Costa afirmou, a propósito da remuneração dos gestores da Caixa, que se por absurdo o Estado tivesse uma equipa de futebol não seria possível limitar o vencimento dos jogadores àquilo que aufere o Presidente da República. Dito assim é engraçado e parece verdadeiro. O problema é que, na realidade, o Estado português sustenta diversas “equipas de futebol” que dariam para organizar várias ligas com orçamentos muito superiores aos dos maiores clubes europeus.

Descontado o exagero da imagem, é importante perceber que ao longo dos anos o Estado foi assumindo responsabilidades e passivos em diferentes setores de atividade que representam hoje um peso muito significativo na nossa dívida. O setor dos transportes, das infraestruturas, da energia e, mais recentemente, o financeiro constituem motivo de preocupação para os contribuintes de hoje, mas também para as gerações vindouras.

A discussão das remunerações na Administração Pública e no Setor Empresarial do Estado é permanentemente inquinada pela ação dos sindicatos e pela dificuldade em explicar aos contribuintes que o dinheiro dos seus impostos vai também para pagar pessoas que se amontoam num conjunto de serviços considerados ineficientes e muitas vezes sem razão de existir. A verdade, no entanto, é que a política de baixas remunerações nos conduziu até aqui. Significou reduzida exigência, facilidade em aumentar os efetivos e nenhuma responsabilidade perante a ineficiência ou o erro. E já não quero falar da corrupção que daqui resulta.

A dívida pública portuguesa alberga hoje muitos milhares de milhões de euros que resultam de erros, omissões, lapsos mais ou menos deliberados, dificuldades técnicas de avaliação (ver o caso dos swaps) e até de ilícitos criminais. Salvo raras exceções, são sempre os contribuintes a pagar os desmandos de quem os devia servir com zelo e competência. E este ambiente de permissividade não pode ser desculpado, como parece querer a ingénua Dra. Ferreira Leite, com o contexto em que os factos terão ocorrido. Se eu soubesse o que sei hoje…

Precisamos de lideranças experientes, que consigam motivar e assumir comprometimento com os resultados e com as suas equipas. A reforma do Estado não pode ser feita apenas com pacotes de medidas avulsas que dão a aparência de mudança mas que, no essencial, mantêm quase tudo na mesma. Havendo discordância sobre a sua dimensão ideal, haverá que concordar na necessidade de termos um Melhor Estado. E isso só se consegue com objetivos bem definidos, pessoal progressivamente mais qualificado e motivado, espírito de equipa e lideranças fortes e preparadas. O preço da qualidade, pago de forma fixa, variável ou mista não pode ter qualquer relação com o vencimento do Presidente da República. São realidades incomparáveis. Para que as equipas do Estado, que nos saem muito mais caras que as do futebol, passem finalmente a ganhar.