Rui Rio venceu pela terceira vez as eleições directas no PSD. É facto pouco desejável que o presidente de um partido seja desafiado pelos seus pares por duas vezes em menos de quatro anos, pois em nada contribui para a sua estabilização interna, condição não única, mas necessária, para que cumpra a ambição de ser uma força política vencedora.

Como foi referido em artigo anterior, o sector herdeiro da presidência de Pedro Passos Coelho não se conforma com a perda do poder, teimando em reconquistá-lo, mesmo que com prejuízo para o partido e ao arrepio da vontade reiterada da maioria das bases. De facto, como já muitos escreveram, o PSD padece de um crescente desfasamento entre as cúpulas e as bases. Ambas parecem viver em países diferentes e cada vez menos se compreendem uma à outra.

As cúpulas são predominantemente convergentes com a agenda liberal de Passos Coelho. As bases, por seu turno, não são liberais e se, em tempos, apoiaram Passos Coelho, fizeram-no mais pelo seu estilo circunspecto e austero, habitualmente apreciado pela direita – características tornadas mais evidentes por contraste com a atitude colérica do seu antecessor – e pela situação de urgência decorrente da crise da dívida pública, do que pela concordância com a sua doutrina. Findo o ciclo passista, os militantes recusaram sucessivamente o seu legado nas pessoas de Santana Lopes – que, ao tempo, recorde-se, fez rasgados elogios a Passos Coelho, insinuando-se como seu continuador –, Luís Montenegro e, recentemente, Paulo Rangel.

Convergente na sua quase totalidade com as cúpulas sociais-democratas, a opinião publicada à direita tem tentado assimilar esta nova derrota. Alguns de entre estes, inconformados, têm procurado explicar estes resultados, recorrendo até a argumentos algo esdrúxulos, como a revelação por Paulo Rangel da sua orientação sexual, que supostamente lhe teria custado votos. Não é possível aferir qual o impacte desta revelação na posição dos militantes, porém Rangel obteve uns expressivos 47,5% e Rio venceu já outros outros candidatos, factos que não concorrem a favor desta hipótese explicativa que, no fundo, mais do que pretender validamente explicar a derrota do eurodeputado, visa sobretudo desvalorizar a vitória do actual presidente dos sociais-democratas.

Se entre os fazedores de opinião Rio continua a não merecer apoio ou, sequer, tréguas, também os opositores internos não parecem dispostos de uma vez por todas a baixar a guarda. Exemplo disso é a polémica criada em torno das listas de candidatos a deputados elaboradas pelas distritais, algumas das quais propuseram inclusões e exclusões que atingem a direcção recentemente reeleita.

A Rio caberá, nestas condições pouco auspiciosas, a espinhosa tarefa de tentar ganhar as eleições e conquistar mais uma vida no final do dia 30 de Janeiro do próximo ano, pois somente a vitória lhe dará um novo e, desta vez, mais duradouro fôlego, pois é certo que, conquistado o governo, a oposição interna desaparecerá subitamente como que por um passe de mágica.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.