Quando Álvaro Cunhal, sob o pseudónimo de Manuel Tiago, escreveu a obra “Até amanhã camaradas”, adaptada ao cinema por Joaquim Leitão, estava longe de pensar que o seu título pudesse inspirar este artigo sobre a 44.ª edição da Festa do Avante.

De sexta a domingo, terá lugar na Quinta da Atalaia, no concelho do Seixal, mais uma edição do evento político, cultural, desportivo e musical, realizado pelo Partido Comunista Português. E esta será, certamente, a mais mediática de todas as edições até hoje realizadas, fruto da pandemia que vivemos desde o início do ano.

Muita tinta se tem feito correr sobre se se deveria adiar o certame ou se o mesmo deveria realizar-se, não obstante as razões de saúde pública que fizeram com que se agendassem para mais tarde acontecimentos de escala internacional, como os Jogos Olímpicos ou o Europeu de Futebol, que deveriam ter tido lugar neste triste ano de 2020.

Insensível aos apelos provenientes dos mais diversos quadrantes, o PCP decidiu que não há Covid “que corte a raiz ao pensamento”, mantendo o mais célebre dos ajuntamentos de militantes e simpatizantes comunistas, onde política, música e cultura conseguem ombrear na Margem Sul do Tejo.

Enquanto vários eventos, da mais diversa natureza, foram cancelados ou se realizam à porta fechada, as comemorações que envolvem o partido comunista parecem imunes à Covid-19, caindo sempre na malha da exceção que todos temos dificuldade em compreender. Assim foi primeiro com a celebração do Dia do Trabalhador, manifestação organizada pela CGTP em plena Avenida Almirante de Reis, junto à Fonte Luminosa, assim será, agora, com a 44.ª edição da Festa do Avante, que terá lugar este fim de semana na Amora.

Até o Presidente da República, normalmente muito parco nas chamadas de atenção à esquerda sobre situações manifestamente intoleráveis neste momento de excecionalidade, veio a terreiro, não para se pronunciar sobre o evento em si mesmo, mas, antes, para criticar fortemente a atuação da DGS, que, à boa maneira portuguesa, deixou para cinco dias antes do certame a divulgação do parecer técnico sobre a Festa do Avante, limitando a lotação do recinto a 16.563 pessoas e proibindo a venda de bebidas alcoólicas a partir das 20h00 horas, com exceção da zona de restauração.

Em relação às normas de saúde, os participantes no evento devem garantir o distanciamento físico de dois metros entre pessoas, em todos os espaços do recinto, salvo se forem coabitantes.

A falta de coerência a que se vem assistindo no que à realização de eventos diz respeito, com uns a serem proibidos, outros a serem admitidos, mas apenas à porta fechada, e outros a permitirem o ajuntamento de multidões, faz com que o comum dos mortais não consiga compreender os critérios que estão na base de decisões tão diferenciadas.

Sabendo que os comunistas que demandarem este final de semana a Quinta da Atalaia ainda não terão tido oportunidade de se vacinar com a Sputnik 5, fazemos votos para que nos próximos 20 dias não assistamos a um aumento exponencial do número de infetados no nosso país, uma vez que, infelizmente, não serão só aqueles que decidam, por sua conta e risco, comungar três dias de ideologia comunista que ficarão à mercê desta autêntica praga que a nível mundial já afetou mais de 25 milhões de pessoas e já custou a vida a 850 mil pessoas, mas, também, aqueles que possam, no pós-avante, conviver com os que decidiram arriscar a sua saúde em prol da doutrina marxista.