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Banca estima que web3 pode reduzir até 25% os custos operacionais, segundo Bain

Falta de regulação clara é apontada como o principal obstáculo para a adoção da web3. Os administradores executivos do setor bancário assinalam a incipiente regulamentação e o tempo necessário para substituir os processos tradicionais como as principais barreiras à adoção da web3.
6 Junho 2023, 10h35

É o resultado de um inquérito da Bain & Company sobre a web3 no setor bancário. Os executivos do setor financeiro estimam que os recursos da web3 podem reduzir até 25% os custos operacionais relacionados com a prestação de serviços bancários.

Um estudo recente da Bain & Company mostra que mais de metade dos quase 70 administradores executivos inquiridos acredita que a web3 vai mudar as atividades realizadas historicamente pelos bancos.

Os resultados surgem num momento em que os bancos se sentem ameaçados pela concorrência das fintechs e grandes tecnológicas, que estão a capturar algumas das atividades bancárias tradicionais. Apesar destes desafios, a Bain & Company avança que “os bancos estão bem posicionados e têm a oportunidade de se defenderem e até de ganharem quota de mercado, se oferecerem serviços aprimorados e integrados que aproveitam a web3. Assim, a questão central não é se devem explorar as tecnologias da web3, mas como, onde e quando fazê-lo”.

Mas a falta de uma regulação clara é apontada como o principal obstáculo para a adoção da web3. Os executivos do setor bancário assinalam a incipiente regulamentação e o tempo necessário para substituir os processos tradicionais como as principais barreiras à adoção da web3.

“Vemos a adoção da web3 como algo parecido ao advento do comércio eletrónico em termos de grau de disrupção e de natureza das possibilidades”, afirmou em comunicado Thomas Olsen, partner da Bain e codiretor global da prática de Web3 & Metaverse da Bain & Company.

“O nosso estudo mostra que, embora nem todos os bancos precisem de apostar tudo agora, os próximos dois a três anos deverão apresentar oportunidades significativas para influenciar e moldar o desenvolvimento e as normas do ecossistema, bem como desenvolver as competências internas com vista a colher benefícios no futuro. Portanto, há ações específicas que muitos bancos podem tomar agora para se prepararem para a web3”, acrescenta o partner da Bain.

Além de reduzir os custos operacionais, a Bain & Company estima que a web3 pode trazer aos bancos uma infinidade de oportunidades, incluindo a redução do risco operacional e a libertação de capital nos balanços dos bancos graças à otimização dos processos.

Os inquiridos assinalaram que estão interessados em lançar novas ofertas com pagamentos e títulos programáveis, intermediando uma gama mais ampla de ativos do mercado privado quando “tokenizados”, segundo o estudo.

Também apontaram que podem aproveitar a disponibilidade de dados de maior qualidade para novas análises e serviços de consultoria.

As aplicações da Web3 vão permitir aos bancos fornecer serviços em torno dos ativos “tokenizados” – utilizando-os, por exemplo, como garantia e para gerir a liquidez.

Clara Albuquerque, partner da Bain & Company em Lisboa considera que “os mercados de capitais privados, muito mais atrativos do que os públicos em valor e crescimento, têm alguns processos ineficientes e pouco transparentes”.

“É precisamente aqui que encontramos as maiores oportunidades de tokenização, como a dívida privada, o capital das empresas e o imobiliário, dada a sua relativa ineficiência face à infraestrutura dos mercados públicos. Os benefícios das plataformas digitais incluem processos administrativos mais eficientes, transparência, melhor governança e, adicionalmente, um conjunto mais amplo de carteiras de produtos e acesso a novos investidores”, refere a partner da Bain.

Além disso, segundo a Bain & Company, “os primeiros a adotar a web3 podem aproveitar estes aspetos para reconfigurar a sua economia, tornando os serviços bancários mais integrados e fluidos para os clientes, ao mesmo tempo que melhoram enormemente a eficiência”.

Já como desafios, a consultora aponta que “embora a web3 torne o sistema bancário mais eficiente, não está isenta de desafios. O impacto do Web3 na rentabilidade total é pouco claro, já que o incremento da eficiência e a concorrência afetam os preços”.

Segundo a Bain & Company, a adoção generalizada da web3 terá de ultrapassar diversas barreiras.

Para começar, os legisladores e os reguladores ainda só começaram a considerar as diretrizes e normas claras que vão ser essenciais para que os operadores já estabelecidos avancem, defende a consultora

“Além da incipiente regulamentação e legislação, os inquiridos também citaram a quantidade de mudanças necessárias nos processos bancários existentes como outro obstáculo importante. Os entrevistados acreditam que a adoção da web3 no setor bancário vai acontecer, em média, dentro de cinco a seis anos, pelo que o progresso até 2030 tenderá a ser gradual e variará segundo o caso de uso e a geografia em geral”, lê-se no comunicado.

Outra consideração para os bancos é o impacto da web3 na identidade digital dos clientes.

A Bain & Company concluiu que a identidade do cliente é um fator crítico para aproveitar o potencial da web3, e que “os bancos têm a oportunidade de liderar o desenvolvimento de identidades persistentes e transferíveis”.

O estudo revela que o potencial da web3 num espaço regulado depende da vinculação da identidade digital a uma estrutura robusta de conhecimento do cliente (KYC, sigla de know your customer).

Segundo a consultora estratégica, uma identidade transferível, que permita aos clientes serem proprietários dos seus dados, utilizá-los em aplicações e partilhar partes concretas com os provedores de serviços, pode transformar o relacionamento entre clientes e fornecedores.

“À medida que as empresas competem para moldar o futuro da identidade online, é provável que as carteiras digitais web3 desempenhem um papel importante. Estas carteiras atuam como identidades digitais unificadas ou interoperáveis que vão conectar os usuários às aplicações, oferecendo funções de login e ligação universais”, defende a Bain.

O estudo conclui que “os bancos têm muito a dizer na hora de supervisionar a identidade digital, mas terão que descobrir como guiar um ecossistema amplo rumo a normas comuns. É possível que sejam necessárias abordagens colaborativas para estabelecer uma ferramenta de identidade e a KYC capazes de autenticar os utilizadores, ou que um órgão regulador e de governança tenha de definir normas para promover a interoperabilidade”.

À medida que a web3 evolui, a Bain & Company sustenta que, se quiserem ter sucesso, os bancos vão querer pensar mais como disruptores.

Quais os pontos que a consultora considera que os bancos devem mudar?

Os “Modelos operacionais”. Os bancos podem criar um sistema central de coordenação da web3 capaz de alinhar as iniciativas com a estratégia geral, monitorizar melhor os resultados, capturar as sinergias tecnológicas e apostar fortemente em situações de alto valor.

Os “Ecossistemas seletivos”. As abordagens restritivas da web3 vão desaparecer na maioria das instituições à medida que as associações geram mais valor, por exemplo conectando-se a ecossistemas ou construindo-os.

A “Estratégia de investimento”. Face a muitos outros investimentos que os bancos fazem, os investimentos na web3 têm um período de retorno longo e incerto, mesmo quando o mercado muda rapidamente. Muitos casos de uso vão exigir uma coordenação com outras instituições. Os bancos devem estar dispostos a reinventar processos e a sacrificar negócios existentes, ainda que isso deva ser equilibrado com fatores financeiros, a vontade de mudança e o cumprimento das normas.

O “Talento”. O talento especializado na Web3 é escasso, pelo que os bancos devem desenvolver estruturas que atraiam esses indivíduos e também formas de aceder a talentos e aptidões por via dos parceiros do setor.

O “Risco”. A Web3 vai forçar as estruturas tradicionais de controle de risco a adaptarem-se e evoluírem, o que exigirá o envolvimento da equipa de risco em cada etapa do desenvolvimento do produto. A Web3 deve oferecer melhorias significativas na gestão de risco, mas os bancos vão precisar de fazer progredir os processos e métodos existentes, assim como trabalhar com os reguladores para desenvolver a regulamentação e a supervisão relevantes.

Para a Bain & Company, os bancos podem adotar um conjunto de medidas “a não lamentar “para se prepararem para a transição rumo à web3. Nomeadamente podem definir o objetivo de nível empresarial com respeito à web3 e passar de “esperar para ver” para “explorador cauteloso”, “incumbente progressivo” e “líder da web3”. Podem decidir quais os casos de uso seguir, tendo em conta a variedade existente de negócios e clientes, e tendo em consideração os efeitos da rede e as possíveis aplicações cruzadas dos casos de uso. Podem definir uma linha de ação para cada um desses casos de uso e uma estratégia de investimento. Podem definir a combinação adequada de construção, compra e associação para oferecer os casos de uso.

Os bancos podem adiantar-se à concorrência, defende a consultora.

Embora o setor de serviços financeiros tenha sido um dos primeiros a investigar e a testar muitas das tecnologias emergentes da web3, a Bain & Company relembra aos bancos que a transição deverá ser desigual, especialmente antes de as estruturas regulatórias se começarem a estabelecer. “Os bancos já estabelecidos devem gerir a incerteza, ou correm o risco de ser superados por concorrentes mais velozes”, alerta a Bain & Company.

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