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Banca lucra 1,5 mil milhões, mas rentabilidade média está em 5% quando a meta é chegar aos 10%

Os resultados de 2021 dos bancos revelam algumas surpresas. Desde logo o Novobanco superou o BCP em resultados líquidos e também na rentabilidade. A redução do malparado, a subida das receitas através de comissões, o aumento do crédito e dos depósitos foram tendências mais ou menos generalizadas. O capital continua a ser o “calcanhar de Aquiles” do Novobanco, do BCP e do Montepio.
  • Cristina Bernardo
10 Março 2022, 08h25

Seis bancos apresentaram os resultados anuais de 2021 e a soma dos lucros atinge os 1.517,8 milhões de euros, mas numa média aproximada os seis bancos têm uma rentabilidade dos capitais próprios de apenas 5%, quando a meta é chegar a 10%.

Um dos problemas dos bancos atualmente é precisamente a rentabilidade abaixo do custo do capital.

Os resultados de 2021 dos bancos revelam algumas surpresas. Desde logo o Novobanco superou o BCP em resultados líquidos e também na rentabilidade. A redução do malparado, a subida das receitas através de comissões, o aumento do crédito e dos depósitos foram tendências mais ou menos generalizadas. Mas o capital continua a ser o Calcanhar de Aquiles do Novobanco, BCP e Banco Montepio.

A Caixa Geral de Depósitos foi o banco que mais lucrou ao atingir os 583,4 milhões de euros, e também reporta uma das rentabilidades mais altas, de 7%.

Seguiu-se o BPI com lucros de 307 milhões de euros e uma rentabilidade dos capitais próprios tangíveis (ROTE) de 6,8% em Portugal. O banco detido pelo CaixaBank prefere reportar o indicador da rentabilidade que deduz à equação os juros dos instrumentos de capital.

No ranking dos lucros o Santander Portugal aparece em terceiro lugar com 298,2 milhões e uma rentabilidade de 6,30%.

O quarto banco na lista dos seis maiores em resultados líquidos é o Novobanco que reportou lucros, pelo primeiro ano desde a resolução do BES, de 184,5 milhões de euros e preferiu reportar a rentabilidade antes de impostos, através de um RoTE (pre-tax) de 8,8%.

O Millennium BCP aparece no quinto lugar da tabela com lucros de 138,1 milhões de euros e uma rentabilidade muito baixa de 2,40%.

O Novobanco superou assim os resultados do maior banco privado português que tem sido fortemente penalizado pelas contas do Millennium Bank na Polónia, uma vez que acumula prejuízos devido às provisões para litigância relativa aos créditos concedidos na em francos suíços até 2008.

O BCP, que tem sido um forte crítico das contribuições para o Fundo de Resolução nacional que capitaliza o Novobanco, vê-se assim ser superado pelo banco liderado por António Ramalho no que toca à conta de resultados.

O resultado líquido do Grupo BCP foi de 138,1 milhões de euros em 2021, o que significou uma queda de 24,6% face a 2020,  influenciado por encargos de 532,6 milhões de euros associados à carteira de créditos em francos suíços concedidos pela subsidiária na Polónia, por itens específicos de 90,7 milhões de euros (essencialmente custos com o ajustamento do quadro de pessoal) em Portugal e por contribuições obrigatórias para o setor bancário em Portugal de 56,2 milhões de euros. Excluindo os encargos associados à carteira de créditos em francos suíços, o resultado líquido do Grupo ascenderia a 404,9 milhões de euros (+56,6%, face a 2020). Em Portugal, na atividade doméstica, o resultado líquido do BCP foi de 172,8 milhões de euros (+28,5% face a 2020).

O último dos seis é o Banco Montepio que lucrou 6,6 milhões de euros em 2021, melhorando face a prejuízos no ano anterior. Ainda assim consegue superar a rentabilidade do BCP ao reportar um ROE de 2,60%.

Falta o Crédito Agrícola apresentar as contas, o que deverá ainda ocorrer este mês.

Olhando para a evolução dos resultados, o BPI lidera com uma subida de 192%, sem contar com os bancos que passaram de prejuízos a lucros como o Novobanco e o Banco Montepio.

CGD melhor qualidade do crédito

Quando se olha para a qualidade da carteira de crédito medida pelo custo do risco – que se refere às novas imparidades no período sobre o stock da carteira de crédito, portanto quem tem o rácio mais baixo tem uma melhor performance – verifica-se que a CGD é de longe o banco com a melhor qualidade da carteira de crédito (custo do risco de 0,08%). Seguem-se o Santander Totta e o BPI com 0,17%; o Banco Montepio com 0,40% e os piores são neste rácio, o BCP e o Novobanco com 0,60% cada (no BCP em Portugal é de 0,69%). Sendo que ambos os bancos vêm de um rácio pior em 2020.

Em termos de rácio de NPE (non-performing exposures) e/ou de NPL (non-performing loans) consoante as opções de apresentação que cada banco adopta, verifica-se que os campões do baixo rácio de malparado é o BPI com 1,6% de rácio de NPE e 2% de rácio de NPL. Segue-se a CGD e o Santander com um rácio de NPE de 2,30% cada um. A CGD tem um rácio de NPL de 2,8%.

O BCP fica a meio da tabela com 4,70% de rácio de NPE e o Novobanco segue-se com um rácio de NPL de 5,7%.

O BCP destaca uma redução dos NPE, em contexto adverso, de 543 milhões face a dezembro de 2020, tendo a redução em Portugal sido de 485 milhões de euros.

O pior neste indicador é o Banco Montepio que tem um rácio de NPE de 8,6%.

A cobertura do malparado por imparidades é maior na Caixa Geral de Depósitos, que ronda os 100%. Segue-se o BPI e Santander, com 84% e 81%, respetivamente. Depois o banco liderado por António Ramalho com 71,4%; o BCP com 68% de cobertura por imparidades e o Banco Montepio com menor cobertura de 53,6%.

Novobanco lidera na subida do produto bancário

Na conta de resultados, o que se constata? O BCP tem o maior volume de receitas, ao registar um produto bancário de 2.334,4 milhões, mas com um crescimento face a 2020 muito moderado (3,4%). Segue-se a CGD com 1.773 milhões, num crescimento de 7,1%. O Santander aparece em terceiro lugar com 1.318,1 milhões (+2,8%). O Novobanco reportou um produto bancário de 972,2 milhões, a subir 57,3% face ao ano anterior. Destaque aqui para a margem financeira e comissões que somam 855,9 milhões em 2021, o que traduz um crescimento anual de 3,3% e 3,9%, respetivamente, o que contribuiu para a melhoria do produto bancário comercial em mais 3,5% do que em 2020. A melhoria da margem financeira (que atingiu os 573,4 milhões) “reflete a redução das taxas médias dos depósitos, o menor custo de financiamento de longo-prazo e a manutenção da política de preços”, segundo o banco.

O BPI reportou um produto bancário de 751 milhões (+7,6%) e o Banco Montepio regista 379 milhões de euros (a cair 3,7%).

A receita da margem financeira continua a ser afetada pelos juros baixos, e olhando para o espectro dos seis bancos verifica-se que a CGD e o Santander Totta registaram uma quebra desta receita de -4,3% e -7,2%, respetivamente.

As comissões compensaram a queda da margem financeira na conta de resultados dos bancos. A maior subida de receitas vinda das comissões ocorreu no BPI (+17,70% para 288 milhões). O presidente do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, afirmou que a subida das comissões na banca “estaria perto do fim”. Para Oliveira e Costa, a subida das comissões ajuda os bancos manterem os “rácios de rentabilidade do banco num nível adequado” e compensarem a “outra contraparte” de o Banco Central Europeu manter “as taxas de juro negativas há muito tempo”.

A segunda maior subida das comissões foi no Santander (+14,30% para 426,6 milhões); segue-se o banco do Estado com uma subida das receitas de comissões de 12,90% (para 565 milhões). O Novobanco registou um aumento de comissões de 10,60% para 282,5 milhões.

Já o BCP recebeu das comissões uma receita 7,60% superior a 2020 ao totalizar 727,7 milhões de euros. Finalmente o Montepio teve uma modesta subida desta receita (+0,90% para 116,3 milhões).

Santander com melhor rácio de custos sobre proveitos

Já no que toca ao rácio de eficiência, o melhor é o Santander com um rácio de cost-to-income de 40,10%. O segundo melhor é o BCP com um rácio de 47,80%. Segue-se a CGD com 47,90%; o Novobanco com 47,7% e os piores são o BPI e o Banco Montepio.

O BPI preferiu apresentar o cost-to-income core, ou seja só considera os custos de estrutura recorrentes, mas ainda assim é dos mais altos (54,2%) e o Montepio reportou um rácio de 69%. São claramente bancos que têm um problema de custos operacionais.

Ainda assim o banco liderado por Pedro Leitão está numa rota de melhoria, já que o Montepio lidera na descida de custos em 2021 (-9,4% para 264,1 milhões). A CGD é o segundo banco que mais custos reduziu (-8,80% para 775,8 milhões). Também o Santander Totta que levou a cabo uma expressiva redução de pessoal em 2021, regista uma redução de custos de -8,40% para 528,7 milhões, em resultado da descida dos custos com pessoal em 13,0%, dos gastos gerais administrativos em 1,7% e da depreciação em 5,1%. Em 2021, “o Banco executou um profundo plano de transformação, operacional e comercial, adequando-se ao novo contexto competitivo, mais digital, com significativo investimento na simplificação de processos e em tecnologia, orientado para a melhoria da qualidade de serviço, e que permitiu a otimização da rede de agências (-79), e consequente redução do quadro de colaboradores (-1.175)”, explicou o banco liderado por Pedro Castro e Almeida.

O Novobanco registou uma queda dos custos de -5% para 408,4 milhões de euros. Mas há um banco que até subiu os custos, foi o BPI (+0,40% para 427,9 milhões). Em Portugal os custos de estrutura do BPI subiram 1,4%.

BPI com maior subida do crédito e dos depósitos

No que se refere ao Balanço, o BPI liderou na subida do crédito a clientes (+7,10%). Seguiu-se o BCP onde o crédito subiu 4,40%. A Caixa reportou uma subida da carteira de crédito de 3,70%. Segue-se o Santander Totta que subiu o crédito em 1,70%.

O Novobanco viu a carteira de crédito bruto cair 1,1% para 24.932 milhões, sendo que o crédito a clientes líquido manteve-se estável (+0,3%) nos 23,7 mil milhões, estável nos segmentos empresas e particulares (ajustado das
vendas de créditos não produtivos). A nova produção de crédito em 2021 foi de 3 mil milhões de euros com o segmento de empresas a representar mais de 50% da produção e da carteira.

O Banco Montepio também registou uma queda de -0,70% do crédito bruto a clientes em 2021. Mas o crédito a clientes (líquido de imparidades) aumentou 126 milhões face a 2020, “refletindo o desempenho positivo no segmento de particulares”.

Do outro lado do Balanço, os depósitos de clientes aumentaram mais no BPI (+11,00%). Segue-se o BCP (+10,00%); a CGD (+9,70%); o Santander Totta (+6,80%); o Novobanco (+4,70%); e finalmente o Banco Montepio (+2,30%).

Novobanco, BCP e Montepio os bancos com rácios de capital mais fracos

Por fim analisamos o rácio de capital core dos bancos (o rácio CET1). Sem surpresas, os mais frágeis são, por esta ordem, o Novobanco, o BCP e o Banco Montepio.

O rácio de capital e a dependência do mecanismo de capital contingente do Fundo de Resolução, acordada em 2017, tem trazido várias dores de cabeça ao CEO do Novobanco. António Ramalho confirmou que o rácio de capital subiu para 11,1% (10,9% em 2020), abaixo dos 12% mínimos estipulados contratualmente no acordo de venda do banco ao Lone Star e que são também requeridos pelo Banco Central Europeu para o Novobanco. Assim o banco está a operar temporariamente (até ao fim do ano) com um rácio de CET1 abaixo do mínimo, e só não está em incumprimento porque, devido à pandemia, o BCE flexibilizou as exigências de capital regulatório.

O banco tem um horizonte de tolerância para elevar o rácio de CET1 para 12% até ao fim do ano. O Novobanco vai pedir ao Fundo de Resolução que, nos termos do contrato, eleve o capital do banco para 12% e é daí que surge o pedido de chamada de capital de 209,2 milhões de euros. António Ramalho acabou por garantir que o banco irá cumprir o rácio de capital de 12% qualquer que seja a decisão do Fundo de Resolução de pagar ou não pagar. O fundo liderado por Luís Máximo dos Santos já disse que não aceitar injetar esse valor no banco.

“Apurou-se um gap de capital que tem duas origens”, disse o CEO do banco que explicou que uma delas é uma contingência fiscal, e que se refere à questão das taxas de IMI agravadas nos imóveis e que foram criadas no Orçamento de Estado de 2021 com “determinadas características” de modo que só se aplicam, entre os grandes bancos, ao Novobanco. São 116 milhões de euros, em termos de impacto bruto, revelou o CEO do Novobanco que afirmou estar comprometido com o banco até 2024.  “Parece-nos uma medida suscetível de discussão e já fizemos um pedido de informação vinculativa à Autoridade Tributária, mas ainda não chegou”, disse António Ramalho na conferência de apresentação de resultados.

O Millennium BCP surge como o segundo banco com menor rácio de capital core (CET1) ao reportar 11,70% em 2021, abaixo do reportado em 2020. Mais uma vez a evolução dos rácios de capital do BCP encontra-se significativamente influenciada pelo aumento do provisionamento para riscos legais associados a créditos em moeda estrangeira no Bank Millennium na Polónia.

O capital claramente não é um ponto forte do BCP, para já não falar que o BCE, com base nos resultados do Supervisory Review and Evaluation Process (SREP), estabeleceu os requisitos mínimos de capital para o BCP em 2022 e na componente que é em função da qualidade da sua carteira de crédito a exigência subiu. O que significa que o Supervisor tem uma percepção pior sobre o risco global do banco.

O Banco Montepio também tem um rácio de capital core limitado, o que é particularmente relevante num banco que tem ainda de fazer uma forte redução do rácio de crédito malparado. O banco tem um CET 1 de 12,70% (melhor do que um ano antes).

Ao contrário, o banco com maior rácio de CET1 é o Santander Totta com 25,20%. Também a CGD surge muito capitalizada com o rácio de Common Equity Tier 1 de 18,20%. No BPI o rácio fixou-se em 14,20%.

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