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Bancos norte-americanos abrem hoje a época de resultados: lucros devem cair pelo menos 25% por causa da Covid-19

Os seis principais bancos dos Estados Unidos começam a apresentar os resultados do primeiro trimestre nesta terça-feira e o seu desempenho vai tirar uma fotografia mais nítida aos impactos da Covid-19. Segundo os analistas, os lucros devem contrair entre 25% e 60% e os investidores vão centrar as atenções na qualidade do crédito.
  • REUTERS/Eric Thayer
14 Abril 2020, 08h21

O novo coronavírus já começou a abalar a economia dos Estados Unidos, sem que seja possível determinar com certeza o que as consequências que aí vêm, embora o cenário de recessão económica seja o mais provável, devido à queda da atividade económica, segundo os analistas.

No entanto, esta semana será possível tirar uma fotografia mais nítida aos impactos da queda abrupta da atividade económica e que já levou cerca de dez milhões de norte-americanos a pedirem subsídios de desemprego quando os principais bancos de Wall Street apresentarem os resultados relativos ao primeiro trimestre do ano.

O JPMorgan Chase e o Wells Fargo dão o pontapé de saída a mais uma época de resultados esta terça-feira, seguindo-se o Goldman Sachs, o Morgan Stanley, Citigroup e Bank of America, na quarta-feira.

A taxa de desemprego é um fator exógeno aos bancos e que terá seguramente bastante influência no seu desempenho, particularmente no mês de março, uma vez que dois terços do PIB norte-americano depende do consumo interno. Por essa via, o balanço das instituições financeiras poderá ser afetado, nomeadamente ao nível da carteira de malparado, das provisões e das reestruturações de créditos.

Os analistas do banco de investimento Keefe Bruyette & Woods (KBW) apontam agora uma quebra de 58% dos denominados ‘bancos universais’ no primeiro trimestre do ano por causa do aumento do desemprego e do malparado e da contínua pressão na margem financeira dos bancos devido ao contexto das baixas taxas de juro.

Na mesma linha, os analistas do Oppenheimer, um banco de investimento, antecipam que o pico da taxa de desemprego nos Estados Unidos ocorra entre julho e setembro, o que significa que o aumento do crédito malparado da banca norte-americana no primeiro trimestre de 2021.

“Vemos os resultados core a cair ao longo de 2020 até chegarem ao fundo no primeiro trimestre de 2021, antes de retomarem no quarto trimestre”, escreveram os analistas do Oppenheimer numa nota enviada a clientes.

Seguramente um dos indicadores dos bancos mais relevantes na atual conjuntura prende-se com as provisões. Quanto capital terão os bancos posto de parte para cobrirem perdas com créditos? “Ninguém sabe o montante das perdas para crédito”, disse Jon Curran, senior investment manager da Aberdeen Standard Investments, uma gestora de ativos britânica.

Certo é que o montante de provisões para crédito vai sinalizar a atitude dos bancos em face dos impactos económicos da Covid-19: quanto mais avultadas, maior será o receio de um aumento das perdas por imparidade decorrentes de créditos em incumprimento.

Os analistas e investidores também estarão centrados na reestruturação de créditos que, de resto, decorre de recomendações regulatórias nos Estados Unidos. Apesar de um crédito reestruturado não ser qualificado como crédito em incumprimento, a medida poder-se-á tornar num pesadelo para as instituições financeiras se a queda da atividade económica se prolongar por mais tempo do que o esperado. Nessa altura, os créditos reestruturados terão de ser reclassificados, passando a ser classificados como créditos em incumprimento e, portanto, contando para a carteira de crédito malparado.

Outra questão que estará no centro das atenções prende-se com a remuneração aos acionistas. Os presidentes executivos do Goldman Sachs, Morgan Stanley e Citigroup já anunciaram que pretendem distribuir dividendos relativos ao exercício de 2019. Em sentido contrário, Jamie Dimon anunciou que os iria suspender se a economia norte-americana contrair 35% no segundo trimestre e o arrefecimento da economia se prolongar até ao final do ano.

Resultados por ação e preço da ação em queda livre

Os analistas do Oppenheimer reviram em baixa os lucros por ação e os preços dos títulos negociados em bolsa das seis instituições financeiras.

Apesar de os analistas não esperarem prejuízos, os cortes dos resultados por ação previstos pelos analistas chegam até aos 62% no caso do Goldman Sachs, de 25 dólares para 9,52.

Na bolsa, o preço das ações destes seis bancos caiu de forma abrupta. Desde o início do ano até sexta-feira, 10 de abril, as quedas vão dos 19,64% (Morgan Stanley) até aos 40,66% (Citigroup).

Neste momento, os analistas do Oppenheimer apenas têm recomendação de compra para quatro destas seis instituições financeiras, embora tenha cortado o respetivo preço-alvo entre 30% e 40% face ao preço-alvo anterior.

O Morgan Stanley foi o mais penalizado, com um corte de 39%, com o preço-alvo da ação a passar dos 76 dólares para os 46 dólares. Seguiu-se o Bank of America, com um corte de 33%, de 45 dólares por ação para os 30 dólares. O Goldman Sachs viu o preço-alvo cortado em 24%, de 367 dólares para os 278 dólares, e os analistas do Oppenheimer cortaram em 23% o preço-alvo da ação do Citigroup, de 122 dólares para os 93 dólares.

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