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BCE abre espaço para inflação mais alta nos próximos meses

Revisão do Banco Central Europeu para meta simétrica de inflação de 2% permite flexibilidade para subida esperada nos próximos meses.
16 Julho 2021, 09h17

Foi a terceira revisão da meta de inflação do Banco Central Europeu (BCE) e procurou simplificar os parâmetros, ao mesmo tempo que dá maior flexibilidade a Frankfurt para que não disparem os alarmes perante oscilações “temporárias” dos objetivos e que obriguem a alterações nas decisões de política monetária. A instituição liderada por Christine Lagarde anunciou uma alteração da meta da inflação simétrica para 2%, atualizando o anterior mandato de promover a estabilidade de preços de uma inflação abaixo, mas perto de 2%, e passou a admitir que podem existir períodos transitórios, durante os quais a inflação se fixe “moderadamente” acima da meta.

“A alteração é subtil, mas tem alguma importância. O objetivo anterior “próximo, mas abaixo de 2%” transmitia a mensagem de que a inflação não deveria, em nenhuma circunstância, ficar acima de 2%, privilegiando um cenário de inflação mais baixa. Dito de outra forma, ficava patente uma maior preocupação se a inflação fosse acima de 2% do que se fosse muito baixa” explica Filipe Garcia, economista da IMF- Informação de Mercados Financeiros, realçando que o BCE ter aberto a porta a um “período transitório, em que a inflação está moderadamente acima do objetivo”, também abre “espaço a uma taxa de inflação mais alta nos próximo meses”.

Paulo Rosa detalha que esta nova política não é uma média à volta dos 2% e o BCE não pretende compensar com inflação os períodos deflacionistas da última década e meia, tal como a Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos, desde que adoptou uma estabilidade de preços à volta dos 2%, em agosto do ano passado.

“A adoção da nova política pelo BCE permite preços acima dos 2% para estimular o crescimento económico após a crise ditada pela pandemia, enquanto que a superação dos 2% para o banco central dos EUA é não só para impulsionar o crescimento económico e alcançar o pleno emprego, mas também para compensar anos marcadamente deflacionistas. Aqui reside a principal diferença entre a nova meta do BCE e da Fed”, argumenta. É por isso que, considera, “a meta do BCE, apesar de desafiar os cânones do Bundesbank, fica ainda aquém do objetivo de estabilidade de preços traçado pela Fed”.

Ou seja, enquanto a Fed tem em conta uma taxa de inflação média, o BCE considera que a meta não é cumprida quer acima quer abaixo de 2%, mas não agirá de forma automática, reforça Filipe Garcia.” Em todo o caso, esta decisão do BCE – ao admitir que a inflação poderá estar algum tempo acima ou abaixo de 2%, permite-lhe manter a atual política monetária atual sem deixar de cumprir o seu (novo) objetivo estratégico”, vinca.

Certo é que na perspetiva dos analistas, apesar do BCE se preocupar com a ancoragem das expetativas da inflação, esta revisão estratégica não parece tê-la como principal objetivo. “O que tem sido dito por Christine Lagarde é que só agora a inflação começa a chegar ao objetivo pretendido e tem sido mais do que “telegrafado” de que a atual subida inflação é transitória. No entanto, também já se ouviu Luis de Guindos apelar a que não se subam as pensões e salários pelo que há alguma preocupação”, refere Filipe Garcia, acrescentando que. “esta revisão estratégica, de momento, o que faz é abrir a porta à manutenção da política monetária muito expansionista”.

Porém, Paulo Rosa, argumenta que “a nova meta de preços do BCE indicia uma política monetária manifestamente mais dovish e, implicitamente, ancora a bitola da inflação de preços na zona euro acima dos valores anteriores. E para alcançar preços mais elevados, o BCE terá que ser ainda mais arrojado nas já enérgicas políticas monetárias expansionistas e manter as taxas de juro baixas durante um longo período de tempo”.

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