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Carro elétrico tem de ser democratizado em Portugal

Vários fabricantes automóveis mostram ‘cartão vermelho’ a apoios dados pelo Governo, defendendo que é preciso mais para acelerar a mobilidade elétrica em Portugal.
31 Maio 2021, 07h52

As marcas automóveis em Portugal exigem mais apoios para a compra do carro elétrico. O sector defende um maior apoio do Governo ao sector se o país quiser acelerar rumo à mobilidade elétrica. Apesar do mercado de carros elétricos em Portugal ter crescido em 2020, ao contrário do mercado geral que sofreu uma queda de dois dígitos, as marcas acreditam que chegou a altura de o Executivo de António Costa mostrar o seu apoio à mobilidade elétrica, passando das palavras aos atos.

Os alemães da Opel apontam que metade deste mercado é constituído por marcas ‘premium’, defendendo assim que é preciso “democratizar” o carro elétrico para chegar a mais pessoas.

“Os atuais incentivos não chegam para criar um movimento significativo em direção à eletrificação da mobilidade. Fica claro que 50% do mercado de veículos de baixas emissões está ocupado por marcas ‘premium’. Para democratizar a eletrificação, a todos os níveis, o Governo devia buscar inspiração de outros países onde este tema tem sido levado muito a sério, como Espanha ou França. Deveria ter também em consideração o facto de Portugal ter um dos parques circulantes mais envelhecidos da Europa”, critica o responsável da Opel Portugal, Enrico de Lorenzi.
A Renault é uma das marcas que considera que os incentivos são insuficientes e dá o exemplo de outros países europeus, onde os apoios são o dobro do registado por cá.

“Se compararmos a realidade dos incentivos concedidos em Portugal, com outros países europeus percebemos ainda melhor o quão insuficientes são os apoios aqui concedidos. Vejamos por exemplo países como a Eslováquia (8.000 euros), Roménia (10.000 euros), Eslovénia (7.500 euros), já para não falar na Alemanha (9.000 euros). Em Portugal, temos um incentivo de três mil euros limitado a mil automóveis”, disse ao JE Joana Cardoso, diretora de comunicação da marca gaulesa em Portugal.

“Assim, defendemos que temos de ter uma política de longo prazo, com incentivos mais alargados que levem as pessoas a comprar automóveis mais amigos do ambiente e também mais seguros, isto porque a idade média do parque automóvel em Portugal é de 12,8 anos, logo a não renovação do mesmo é um problema ambiental, mas também de segurança rodoviária”, destaca a responsável.

Por seu turno, a SIVA defende duas medidas para o sector: “Em primeiro lugar, olhar para os incentivos aos carros menos poluentes, sejam elétricos, híbridos plug-in ou com motor a combustão, através do regresso do apoio ao abate. Ganha-se em sustentabilidade, mas também em segurança do parque automóvel, ao remover carros mais antigos. Nesta fase de transição da mobilidade, os veículos elétricos ainda precisam de incentivos para os particulares e para as empresas. Incentivos financeiros e de conveniência”, disse ao JE o diretor de Marketing Estratégico e Relações Externas da SIVA, Ricardo Tomaz.

“Depois, é necessário que os poderes públicos assegurem alguma estabilidade desses incentivos. Temos a impressão de que, cada ano que passa é o último em relação a esses apoios e essa falta de visão a longo prazo é altamente penalizadora para o planeamento da indústria”, destaca o responsável da importadora da Volkswagen e da Audi.
Por sua vez, a BMW defende que o foco não pode estar somente nos apoios às empresas, mas também deve ser mais direcionado aos particulares.

“A maior parte das medidas de incentivo à utilização de veículos elétricos é dirigido às empresas. Acreditamos que essas medidas têm de ser alargadas aos clientes particulares, que estão atentos e disponíveis para esta mudança de paradigma, pelo que devem ser objeto de um eventual reforço de incentivos à compra de veículos eletrificados”, afirmou Massimo Senatore, diretor-geral da BMW Portugal.

O responsável pela marca sediada na cidade alemã de Munique também destaca a necessidade de estabilidade nos apoios. “Seja qual for o esquema de incentivo adotado, este deverá oferecer estabilidade, ser concebido a longo prazo e não ser alvo de constantes ajustes, para que os consumidores possam planear a sua transição para a mobilidade elétrica”.

Na visão da francesa PSA, o regresso do incentivo de automóveis mais antigos “poderia dinamizar o mercado automóvel em geral”.

“Demonstraria a verdadeira vontade do Governo em estimular a procura num sector que tem uma importância preponderante na economia nacional e que será determinante para a retoma económica do país. Abrandaria a degradação do parque automóvel, cuja idade média não para de avançar, com consequências na segurança nas estradas e nos impactos ambientais. Em relação aos automóveis elétricos, verificamos todos os anos que os incentivos concedidos terminam nos primeiros meses do ano – e recentemente assistimos ao anúncio de retirada de incentivos à compra de veículos elétricos por empresas -, pelo que uma extensão dos incentivos à compra atribuídos pelo Governo seria naturalmente importante para a transição energética do parque automóvel”, segundo o diretor de comunicação da Peugeot Citröen Portugal, Jorge Magalhães.

Para a Hyundai não há dúvidas: “O Orçamento do Estado é pouco ambicioso no que diz respeito aos particulares e aos veículos 100% elétricos, com apoios muito abaixo da média europeia. Apoiar a renovação do parque envelhecido, um dos mais antigos da Europa, através de apoios de abate de viaturas diferenciadas para veículos ecológicos, apoios à mobilidade urbana, através de reduções e isenções de parques de estacionamento, zonas de acesso exclusivo, entre outros, deveriam ser algumas das medidas adotadas”, diz Ricardo Lopes, porta-voz da marca coreana.

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