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Uma centena de crianças presas em edifício sob ataque em Alepo

Várias crianças não acompanhadas, possivelmente mais de uma centena, estão presas num edifício na zona este de Alepo que está a ser fortemente atacado, indicou o diretor regional da UNICEF, Geert Cappelaere, que cita um médico no local.
  • REUTERS/Sultan Kitaz
13 Dezembro 2016, 13h21

De acordo com um alerta de um médico na cidade, muitas crianças, possivelmente mais de 100, não acompanhadas ou separadas das famílias, estão presas num edifício que está a ser fortemente atacado”, revela Geert Cappelaere, em comunicado.

O diretor regional da UNICEF sustenta que “está na altura de o mundo se unir pelas crianças de Alepo e acabar com o pesadelo que as crianças têm vivido”, divulga o SNJToday.

As forças pró-governo atacaram os arredores de Alepo ainda ocupados pela oposição, prendendo centenas de civis num cessar-fogo constante.

Cappelaere afirma que a UNICEF está “muito preocupada” com estes factos que denunciam que as forças “extrajudiciais estão a matar civis, incluindo crianças”.

Já ontem, o chefe do escritório da UNICEF em Alepo deixou o alerta de que “Todas as crianças de Alepo estão a sofrer. Todas estão traumatizadas. Nunca na minha vida vi uma situação tão dramática [como] o que está a acontecer às crianças de Alepo”.

Falando à agência France-Presse em Alepo, Radoslaw Rzehak, que trabalha para a Agência das Nações Unidas para a Infância há 15 anos, frisou que as dezenas de milhares de crianças que vivem na cidade são testemunhas de uma das fases mais sangrentas da guerra que devasta a Síria há quase seis anos.

Para Rzehak, o meio milhão de crianças de Alepo precisa de algum tipo de apoio psicológico e social, incluindo cerca de 100.000 que necessitam de uma assistência mais especializada.

A zona leste de Alepo (norte) era um bastião rebelde desde 2012, mas nas últimas três semanas as forças governamentais tomaram mais de 85% dessa área.

A ONU estima que 120 mil pessoas tenham fugido do leste de Alepo, muitas para centros de deslocados montados pelo governo na parte oeste da cidade.

Segundo Rzehak, avaliações psicossociais preliminares feitas nesses centros mostraram que as crianças do leste de Alepo estavam a “perder o instinto básico de defesa”. “Algumas crianças, que têm 5 ou 6 anos, nasceram quando já havia guerra. Tudo o que conhecem é guerra e bombardeamentos”, disse.

“Para elas, é normal estarem a ser bombardeadas, terem de fugir, é normal terem fome, terem de se esconder em ‘bunkers’. Estes traumas vão perdurar por muito, muito tempo”, prosseguiu.

Esta situação, disse, coloca-as ainda mais em risco, uma vez que não foram condicionadas para se proteger de ataques: “Para elas isto não é o perigo, é a vida de todos os dias”.

Por outro lado, as crianças do leste de Alepo são severamente afetadas por verem colegas de escola ou professores morrerem em ataques às suas escolas.

“O local que era o mais seguro para as crianças tornou-se o local onde elas morrem”, disse.

A guerra afetou até a capacidade dos pais para cuidarem dos filhos porque têm de lidar com os seus próprios traumas: “Eles também passaram pelo pesadelo”, disse.

Mais de 300.000 pessoas morreram desde o início do conflito na Síria, em março de 2011, e milhões foram obrigadas a fugir.

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