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Country Manager da InnoEnergy em Portugal: “A nossa missão é promover a inovação”

A Country Manager da InnoEnergy em Portugal revela em entrevista ao Jornal Económico o papel da empresa no nosso país, dos apoios às startups nacionais e daquilo que é necessário para ser uma boa startup clean tech.
  • Andreia Fernandes
26 Outubro 2018, 10h33

Com atividade em Portugal desde 2012 a InnoEnergy, empresa europeia que promove a sustentabilidade e inovação energética tem vindo a desempenhar um papel de relevo no apoio às 14 startups portuguesas que integram este projeto há cinco anos, com a possibilidade de até ao final de 2018 poder existir uma 15ª.

É, pelo menos, esta a convicção de Andreia Fernandes, CEO da empresa em Portugal, que falou ao Jornal Económico durante o evento de sustentabilidade energética “The Business Booster”, realizado na última semana em Copenhaga, na Dinamarca e no qual duas startups portuguesas acabaram por ser premiadas.

Qual tem sido o papel da InnoEnergy em Portugal?

Começamos as atividades em 2012, na educação no apoio a programas do ensino superior, nomeadamente os mestrados. O povo português quando quer fazer tem de fazer muito bem e está apostar muito no processo, no produto ou serviço que está a fazer e esquecemo-nos muitas vezes que se não comunicarmos aquilo que estamos a fazer, ninguém nos pode celebrar ou criticar que seja, mas conhecer-nos. A nossa força reside no ecossistema, a nossa missão é promover a inovação. Estamos a meio da cadeia de valor porque tentamos encontrar num ecossistema que é em princípio europeu e depois vai ao nível local com parceiros de localização regional. Neste momento em termos de parceria portuguesa o Instituto Superior Técnico é a escola com o maior número de alunos em programas de mestrado (sete a decorrer) que apoiamos. Quem dá o grau são as universidades. O Técnico está no consórcio de quatro desses sete programas e o total de alunos nesses quatro programas, é de 85 (num total de 400) e todos os consórcios combinados são de 13 universidades de engenharia e três de business school (espalhadas pela Europa). Em Portugal, colaboramos com o Técnico e frequentemente com a Universidade Católica, que é formalmente o novo parceiro. A nível de programas de educação nós financiamos estas instituições para que façam o deliver de perfis de engenheiros que o mercado nos diz “é isto que precisamos”.

Qual foi o passo seguinte?

Depois começámos com a área da criação de negócio que é apoiar pessoas ou empresas tipicamente jovens a alavancar, cuidar delas naquele período que é o ‘death valley’, ou seja em empreendedorismo 75% das empresas ‘morrem’ após um ano da sua constituição. Neste primeiro ano o nosso programa de aceleração vai até 18 meses, que é onde seguramos para que elas não ‘morram’. E neste processo tentamos alavancar a entrada no mercado. Nós não financiamos como se fosse um subsídio. Temos 11 startups (portuguesas) que entraram desde 2013, este ano já entraram mais três, com potencial para entrar mais uma até ao final do ano. O que nós proporcionamos às empresas é o chamado ‘smart money‘.

Portugal não é um país muito rico em startups de clean tech, especificamente para a área da energia não é. Há aqui um grande esforço de avaliação, de filtro e por isso é que temos apostado nestas. Normalmente temos uma participação na empresa em troca destes serviços, que é o tal smart money. Depois na área de projetos de inovação em Portugal apoiamos consórcios normalmente pequenos e há um desenvolvimento tecnológico relevante, sendo um projeto por norma de três anos, onde depois existe a expetativa de estarem no mercado mais dois anos. Portanto, em cinco anos expectamos que aquela tecnologia seja produzida, desenvolvida e entre no mercado.

Em Portugal, estamos apoiar projetos liderados por parceiros portugueses cuja área temática é a Suécia, ou seja são geridos tecnicamente por eles e por recursos humanos nossos. Os três projetos que podem ser considerados de inovação são a CorPower (empresa sueca que desenvolveu um conversor de alta eficiência para energia hidráulica), a Principle Power (empresa norte-americana que presta serviços de tecnologia inovadora no mercado eólico) e a EDP Renováveis, com um projeto para o desenvolvimento de uma tecnologia para vento offshore.

Qual é o feedback que recebem dessas startups? Existe algum tipo de competição entre elas?

A nossa ambição é apoiar todas de igual maneira. Obviamente que há uma competição natural pela nossa banda larga de atuação. Todas elas têm o mesmo tratamento quando entram. São avaliadas, vão a comités, são entrevistadas e assina-se o term sheet, que é no fundo um contrato, onde está definido o tempo de apoio ativo. Depois elas fazem a graduação saem do nosso programa que é as ações de aceleração que nós vamos combinar com eles, uma delas pode ser um plano de comercialização, outras já têm esse plano e pode ser outro tipo de serviços, como ir a feiras internacionais. Agora, há aquelas onde existe a necessidade de uma maior interação porque são mais early stage, onde temos uma maior preocupação de ver se está tudo a ser cumprido. É muito on demand da parte delas (startups) e obviamente que há uma competição natural pelo recurso, porque somos uma equipa pequena. Em termos de queixas felizmente nunca tivemos.

Esse ‘smart money‘ é distribuído de igual forma ou varia consoante o projeto?

É analisado caso a caso e pelas necessidades. Depois temos outros mecanismos para casos específicos por exemplo, onde há startups que precisam de um desenvolvimento tecnológico pequeno, porque se for muito grande vão para os projetos, mas às vezes para industrializar é preciso dinheiro. O que nós fazemos é saíndo fora deste pacote normal, as alterações estamos a falar na ordem de acima ou abaixo dos cinco mil euros, mas vamos imaginar que uma startup precisa de 500 mil euros para acionar uma unidade fabril pequena para começar o protótipo. Então vamos a outros mecanismos que a InnoEnergy tem para os projetos, parceiros, podemos ir ao banco de investimento. Fazemos o que nos é possível e dinheiro nesta área do clean tech não é um problema, porque se a empresa for boa e a solução for necessária o dinheiro existe, é preciso é ter um selo de qualidade e a InnoEnergy traz isso. Temos investimentos muito interessantes em startups portuguesas com venture capitals, porque eles percebem o valor que a InnoEnergy traz a estas empresas. É esta network de nós podermos por em contacto com uma EDP ou Iberdrola, se for esse caminho e nós decidirmos no planeamento “estes são os targets que vocês têm para vender, então vamos pôr-vos à frente da pessoa que vos poderá ajudar”. A nossa parceria neste momento são cerca de 500 parceiros ativamente envolvidos em atividades. Em Portugal temos três parceiros: Instituto Superior Técnico, Galp e EDP. Em Espanha temos dez parceiros, em França oito, isto são parceiros acionistas.

Da parte do Estado existe algum tipo de apoio?

Não temos qualquer tipo de apoio por parte do Estado português.

Portanto, são tudo apoios exteriores e do banco de investimento.

Sim. Temos na nossa empresa acionistas privados, que são cerca de 140, a InnoEnergy em geral e três em Portugal. Depois o tal ecossistema de 500 parceiros que colaboram connosco regularmente que pagam uma fee (quota), ou seja para terem direito a ações pagam uma fee anual. Não têm direito a dividendos, se quiserem ter financiamento têm de ser ativos e não recebem por serem acionistas. O nosso modelo de negócio nas três grandes atividades: educação, business creation e projetos de inovação é haver um retorno do investimento. Estas duas partes juntamente com o dinheiro que recebemos da Comissão Europeia formam este tal contexto financeiro.

Dessas três áreas qual tem tido maior retorno?

É a business creation porque são tempos para o mercado mais curtos, ou seja se eles realmente tiverem valor conseguem vender e nós conseguimos fazer o exit da participação mais cedo. Na educação estamos neste momento a testar o modelo de bolsa e propina, que neste momento é 15 mil euros por ano e esse é um retorno imediato. Claro que ainda temos um esquema muito alavancado em bolsas, mas este ano tivemos cerca de 40 alunos a pagar neste universo de 400, (10% já são self payment students).

A longo prazo tem algum objetivo definido para o crescimento no número de startups?

Não é fácil encontrar boas startups em clean tech em Portugal. Para já porque há muita competição e a área da energia é difícil haver breakthrough. Não existe uma grande disponibilidade de startups a ‘bater à porta’.

O que é preciso então para ser uma boa startup clean tech?

Primeiro que tudo é importante que esteja alinhada com as tendências de mercado. Obviamente que não vamos apoiar uma empresa que resolve um problema, que não é problema. Não vamos apoiar uma empresa que resolveu um problema há 10 anos e não vamos apoiar uma empresa que não tenha nada de novo acrescentar. A inovação é essencial tem de ser algo novo. Não vamos apoiar uma empresa que não tenha um modelo de negócio escalável, o mercado português é muito pequeno. Estes são os pressupostos. A nível de crescimento por forma a termos um acompanhamento muito fino daquelas que estamos apoiar nunca vamos ter ambição de ter muito, quantidade para nós não é importante, mas sim a qualidade de resposta à necessidade do mercado. Ficaria muito satisfeita se todos os anos conseguisse apoiar seis novas empresas.

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