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CEO do grupo SAUR propõe contratos de gestão de água que paguem pela poupança e não pelo volume

Patrick Blethon, CEO do grupo que detém a Aquapor, propõe uma nova forma de contrato para as concessões de gestão de água em que as empresas são pagas por uma percentagem da água poupada e não pelo volume total.
11 Fevereiro 2022, 17h00

É uma proposta para reduzir o desperdício de água nas redes municipais. Patrick Blethon, CEO do grupo francês que detém a Aquapor, propõe uma nova forma de contrato para as concessões de gestão de água: os contratos de performance.

“O mais importante é poupar: estabelecer nas diferentes geografias um modelo diferente de contratos, nos quais não se é pago em volume, mas sim contratos de performance, em que é pago de acordo com aquilo que poupa”, afirma Patrick Blethon em entrevista ao Jornal Económico. Num contrato de concessão da gestão da água típico – e a Aquapor tem pelo menos 13 concessões semelhantes em Portugal – os pagamentos divide-se numa parte fixa – denominada “quota de serviço” – e uma parte variável, que depende dos volumes de água abastecidos.

Este volume, aponta Patrick Blethon, inclui não só a água que é mesmo gasta (bem ou mal) pelos consumidores, como a água que é desperdiçada em fugas na rede. E, aponta ainda o CEO da SAUR, a taxa média de água desperdiçada nas redes geridas pelos municípios passa os 30%.

No novo tipo de contrato que propõe [entre o município e as empresas privadas], o pagamento seria condicionado a outro tipo de variável: a poupança de água.

“Se poupar 100 litros, o município ganha 50 como recompensa e nós somos pagos pelos restantes 50. Mas precisamos de encontrar um caminho para este tipo de contratos. Não podemos continuar com o modelo de negócio em que é pago por volume: quanto mais desperdício e fugas tiver na sua rede, maior é a recompensa, mas pior é para a ecologia”, sublinha.

Esse tipo de contrato de performance, acrescenta, já existe. “Começamos a ver em algumas cidades. Mesmo em França começamos a ver esse tipo de contratos”, diz.

E em Portugal, seria possível ter um contrato desse tipo? “Chegará um dia em que o governo não terá outra escolha. Quando as pessoas perceberem que 50% do território sofre de seca, com desperdício de água de 30%… No dia em que não tiver água na torneira, as coisas vão mudar”, conclui Patrick Blethon, contrapondo – porém – que será preciso “pressionar do ponto de vista político, empresas, lobbies, associações”.

Blethon, que lidera o grupo SAUR desde 2020, reconhece que a regulação do sector da água em Portugal é melhor do que no mercado espanhol e francês, onde também opera. Em Portugal, a SAUR adquiriu a Aquapor em janeiro do ano passado.

Na entrevista ao JE, Blethon diz que Portugal compara bem com estes dois países. “Muito melhor do que em França. Primeiro, vocês têm a ERSAR – que não existe em França – que regula o mercado e tenta pressionar na direção certa. Conheci-os há uns meses e percebi que são pessoas de grande nível, com boa atitude e conhecimento”.

“A Espanha é um mercado diferente: os principais contratos são parecidos com os portugueses, mas o mercado é muito fragmentado. Acho que as regras são mais apertadas em Portugal do que em Espanha. Não quero pôr as pessoas em Espanha contra mim, mas acho que a disciplina é maior em Portugal”, concluiu.

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