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China quer passar ao lado do confronto

Nesta confrontação entre potências regionais que são também antigos impérios – desde logo o otomano, o persa, o russo e o árabe – só falta o ‘contributo’ da China, o Império do Meio. Ou a falta dele.
  • Reuters
26 Dezembro 2017, 06h35

Para Ana Santos Pinto, essa espécie de falta de interesse pelas questões políticas regionais por parte da China não é uma surpresa. “A China está focada nas coisas da economia e não nas da política”, adianta – e a sua prestação internacional é disso uma prova.

A investigadora salienta que, de facto – e como tem repetidamente afirmado o presidente chinês, Xi Jinping – a China tem prosseguido uma política de total não-ingerência nos assuntos internos dos outros países. No caso do Médio Oriente, esse esforço de não-ingerência e de equidistância tem sido óbvia, só ligeiramente suspensa na questão de Jerusalém, que mereceu fortes reticências da parte do poder instalado de Pequim.

A posição do governo chinês é, neste quadro, muito transparente: a sua prioridade é contribuir para a criação de um ambiente planetário favorável ao desenvolvimento da economia e do comércio mundial. Mais nada.

A única questão que tem envolvido a China mais directamente é a que tem a ver com a Coreia do Norte. Mas mesmo aí, o governo de Pequim tem sido mais reativo que próativo: Xi Jinping preocupou-se em explicar a Donald Trump que a capacidade de Pequim influenciar as decisões de Pyongyang é um mito urbano propagandeado no ocidente e que, segundo o próprio, não corresponde à realidade. A posição de Pequim acabou por ser o resultado, reativo, às declarações de Donald Trump, para quem Xi Jinping não se esforça o suficiente para contribuir para uma solução do perigoso diferendo entre Washington e Pyongyang.

A única posição ‘ativa’ de Pequim face aos acontecimentos internos noutra geografia fora das suas fronteiras sucedeu na Venezuela. Para espanto de alguns analistas, Pequim decidiu aceitar os resultados das eleições venezuelanas para a formação da assembleia constituinte que na prática veio substituir o parlamento democraticamente eleito em 2015 (e onde a oposição ao presidente Nicolás Maduro era maioritária) e aconselhar as outras nações a não se intrometerem naquela questão interna.

De algum modo, como salientava Ana Santos Pinto, “a China é hoje o país mais purista em termos do capitalismo, mais ainda que o seu próprio criador”.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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