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Componentes automóveis ultrapassam barreira dos 10 mil milhões

Aumento da produção de automóveis em Espanha, para onde vão a maioria das exportações, está a aquecer a indústria nacional. Mas a concorrência de Marrocos aperta. Portugal tem capacidade para receber pelo menos mais uma unidade de produção de automóveis.
  • Victor Cameselle
16 Janeiro 2018, 06h20

A produção da indústria nacional de componentes automóveis deverá ter ultrapassado pela primeira vez no final do ano passado os 10 mil milhões de euros – com as exportações a situarem-se em valores próximos dos 8 mil milhões. No ano anterior, a produção de componentes automóveis ficou nos 9 mil milhões de euros – para exportações que atingiram os 7,6 mil milhões – mas, como avançou ao Jornal Económico fonte do setor, “o aumento da produção de automóveis em Espanha, nomeadamente na fábrica da PSA de Vigo, ajudou o cluster nacional dos componentes a registar mais um ano muito positivo.

Se a estes números se agregar a faturação das duas unidades de produção de automóveis instaladas em Portugal – Autoeuropa e PSA Mangualde – a soma sobe para valores próximos dos 11 mil milhões de euros, segundo avançou ao Jornal Económico uma fonte da Mobinov, associação criada pelos diversos atores do cluster automóvel – e que se prepara para, a 15 de janeiro, em Leiria, fazer uma apresentação detalhada do setor ao primeiro-ministro António Costa e ao ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral. Os empresários corroboram a opinião de que 2017 foi muito positivo para o setor dos componentes. Filipe Villas-Boas, CEO do grupo germano-português SLM, disse ao Jornal Económico que “a produção nacional, apesar de alguma estagnação na venda de automóveis na Europa, ganhou quota de mercado”, o que quer dizer que as exportações estão em alta.

A contribuição do setor para as exportações está tradicionalmente situada entre os 14% e os 15% e os números referentes a 2017 deverão confirmar esta tendência. Espanha é há vários anos o mercado mais importante para o setor, absorvendo quase 25% das exportações. Depois, surgem a Alemanha, a França e o Reino Unido e só a grande distância a Itália – que absorve apenas cerca de 3% da produção nacional.

A PSA Vigo – que fabrica para os grupos de origem francesa Peugeot e Citroen – fechou o ano de 2017 com um aumento de produção da ordem dos 2,56%, atingindo os 435 mil veículos. Parte substancial do cluster nacional – nomeadamente daquele que se encontra instalado no norte do país, entre Viana do Castelo e Aveiro – dirige a maioria das suas vendas para a PSA Vigo, pelo que os efeitos do aumento da produção do enorme complexo galego produz efeitos imediatos no volume de negócios das unidades nacionais.

A mesma fonte disse ao Jornal Económico que uma parte dos investimentos realizados pelas empresas do cluster situadas no norte deu-se precisamente para responder ao aumento da procura da PSA Vigo. É possível, aliás, que o complexo de Vigo venha a determinar a abertura de novas unidades de componentes automóveis na região norte.
Mas a eventual abertura de novas unidades enfrenta um problema – que já não é novo: a dificuldade de as empresas encontrarem mão de obra especializada na região. O problema está identificado há alguns anos, mas desde então não foi possível dar-lhe uma resposta.

Mas o maior problema do setor dos componentes é o aumento da concorrência de Marrocos, onde, desde há cerca de uma década, se tem vindo a instalar um forte contingente de construtores automóveis e de fabricantes de componentes automóveis (nomeadamente portugueses, como a Simoldes). Como frisava esta semana num seminário da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), Hélder Gonçalves, “Marrocos é uma oportunidade, mas é também um risco”.

Há mais de 220 empresas do setor dos componentes automóveis instaladas no território nacional, com cerca de 70% delas a optar por estar instalada no ‘corredor’ litoral entre Viana do Casto e Aveiro. Só Santarém e Setúbal – isto é, as empresas que trabalham preferencialmente para a Autoeuropa – competem com aquela faixa da região norte. O setor assegura a colocação de mais de 46 mil colaboradores.

Investimento estrangeiro

Um outro número que, segundo a mesma fonte, importa isolar é o facto de, por uma pequena margem, a maioria das unidades serem detidas por investidores estrangeiros. Isto é, o setor dos componentes automóveis continua a ser um dos que mais capacidade encerra de chamar investimento direto estrangeiro para o país. Mais: é talvez o mais dinâmico a este nível em termos de indústrias de bens transacionáveis – o que quer dizer que, no que diz respeito à criação líquida de postos de trabalho, é muito mais importante que o investimento estrangeiro no imobiliário, a nova ‘estrela’ do ingresso de fundos internacionais no interior das fronteiras nacionais.

“Portugal tem capacidade para a instalação de um ou dois novos fabricantes de automóveis no seu território”, disse Hélder Gonçalves.

Em termos do setor, o segmento da metalurgia e da metalomecânica continua a ser aquele que mais pesa no total, assumindo uma quota de mais de 35%. A alguma distância surge de seguida o segmento elétrico e eletrónico – depois de ter conseguido resistir às falências que há mais de uma década ‘varreram’ uma parte substancial do segmento das cablagens. Plásticos e borrachas surgem a seguir e finalmente aparecem os têxteis e outros revestimentos.

O setor tem ainda outra característica que o evidencia de outras indústrias: é dos que mais investimentos assegura na área da inovação e da investigação. Com a indústria automóvel a passar por uma verdadeira revolução, nomeadamente em termos energéticos, a indústria dos componentes tem de conseguir acompanhar essa evolução – até porque os gigantes da indústria automóvel conseguiram transferir para os seus fornecedores essa obrigação.
O Estado tem percebido essa tendência e a importância do Portugal 2020 no apoio aos projetos de inovação e na investigação e desenvolvimento tem sido fundamental para que o sector dos componentes automóveis continue a ser, desde há pelo menos duas décadas, uma das ‘estrelas da companhia’ no que diz respeito às exportações.

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