O hidrogénio pode ter um papel crucial na transição energética, a nível global, sobretudo em setores cujos consumos de energia não podem ser alvo de eletrificação direta, como é o caso da aviação, transporte marítimo e algumas indústrias com necessidade de processos térmicos intensivos. Porém, a implementação está a evoluir de forma demasiado lenta, o que pode comprometer esta oportunidade.

O alerta surge no relatório “Hydrogen Forecast to 2050”, elaborado pela DNV, que prevê que o hidrogénio represente apenas 0,5% no mix energético global em 2030, subindo para 5% em 2050. Para cumprir a ambição definida no Acordo de Paris seria necessário que o hidrogénio verde representasse três vezes mais, ou seja, garantisse 15% do consumo a meio deste século.

Mas qual a razão para esta resistência? Embora o hidrogénio seja abundante no universo não existe naturalmente como um gás. Está sempre combinado com outros elementos, como é o caso da água, que agrega oxigénio e hidrogénio. A produção de hidrogénio exige um consumo de energia representativo, face a outras tecnologias, o que tem vindo a protelar a sua utilização em larga escala.

As renováveis, contudo, vieram minimizar este problema. A separação das moléculas de oxigénio das moléculas de hidrogénio pode ser feita com recurso à eletrólise. A corrente elétrica pode ser gerada com recurso a fontes renováveis, como o solar, hídrica, ou a eólica.

Este hidrogénio verde – produzido através da eletrólise com recurso a energia elétrica de fonte renovável – será a variante dominante no futuro, segundo o relatório. Isto implicará um reforço de investimento de energias renováveis para alimentar uma capacidade de eletrólise de 3,100 gigawatts, mais do dobro da capacidade globalmente atualmente instalada de solar e eólico.

A DNV estima que a maior parte das infraestruturas de gás natural, nomeadamente os gasodutos, serão reaproveitados para o transporte de hidrogénio a média distância, entre países e não necessariamente entre continentes.

O comércio global de hidrogénio também será limitado, não só porque a liquefação do hidrogénio, de forma a possibilitar o seu transporte em navios, tem um custo demasiado alto, mas também devido à baixa densidade energética do hidrogénio. Já a amónia, um derivado do hidrogénio, mais estável, pode ser mais facilmente transportada por navio e negociada globalmente.

A União Europa, consciente da importância do hidrogénio na transição energética, reservou-lhe um lugar de relevo na estratégia REPowerEU. Prova disso é a fixação de metas de produção interna de 10 milhões de toneladas de hidrogénio renovável e da importação de 10 milhões de toneladas até 2030, a fim de substituir o gás natural, o carvão e o petróleo em setores industriais e dos transportes difíceis de eletrificar.

A Europa deverá ser o grande precursor do hidrogénio, mas os EUA e a China também se perfilam neste desafio que é determinante para cumprir o desígnio da descarbonização, contribuindo para a luta contra as alterações climáticas e assegurando, ao mesmo tempo, a independência e segurança energéticas.

Portugal tem condições excelentes para a produção de hidrogénio verde e pode destacar-se nesta área. Cada vez mais o futuro de qualquer país depende de um fornecimento sustentável de energia limpa. Parte da solução passa pelo hidrogénio verde, uma das últimas fronteiras em matéria de geração de energia. Ontem já era tarde para apostar neste vetor energético essencial à descarbonização à escala global e esta oportunidade não pode ser descartada.