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Corrupção, fraude e rapto. Investigação da BBC revela origens da fortuna de Abramovich

Milionário russo terá burlado o governo moscovita em 2,4 mil milhões de euros no acordo de compra da empresa petrolífera Sibneft num leilão em 1995, pela qual pagou 227 milhões de euros.
15 Março 2022, 15h00

Corrupção, fraude e até rapto. Uma investigação levada a cabo pela “BBC” revela as origens da fortuna do milionário russo Roman Abramovich que nos últimos dias foi alvo de sanções por parte do Reino Unido, tendo também se afastado enquanto dono do Chelsea.

Segundo o “Panorama BBC”, o milionário russo começou a construir o seu império de milhões de euros quando em 1995 comprou a empresa petrolífera Sibneft que pertencia ao governo russo num leilão fraudulento, por 227 milhões de euros.

Dez anos depois, Roman Abramovich vendeu a empresa ao Kremlin por 11 mil milhões de euros, sendo que o russo admitiu em tribunal no Reino Unido que terá corrompido através de dinheiro pessoas envolvidas no negócio da Sibneft.

Uma situação que o levou a ser processado pelo ex-sócio Boris Berezovsky em 2012. Roman Abramovich acabou por ganhar o caso, mas descreveu no tribunal como o leilão original da Sibneft foi manipulado a seu favor e como deu a Berezovsky nove milhões de euros para pagar um funcionário do Kremlin.

Um documento que terá sido copiado de arquivos de Roman Abramovich pela polícia russa e que o “Panorama BBC” revela ter recebido de uma fonte próxima deste processo, indica que o governo russo terá sido burlado pelo ex-dono do Chelsea em 2,4 mil milhões de euros no acordo com a Sibneft, uma alegação apoiada por uma investigação parlamentar russa em 1997.

O documento também diz que as autoridades russas queriam acusar Abramovich de fraude. “Os investigadores do Departamento de Crimes Económicos chegaram à conclusão de que, se Abramovich fosse levado a julgamento, teria sido acusado de fraude através do crime organizado”, refere a mesma fonte ao “Panorama BBC”.

A “BBC” falou com o ex-procurador da Rússia, que investigou o acordo nos anos 90. Yuri Skuratov não sabia da existência do documento, mas confirmou muitos dos detalhes sobre a venda da Sibneft. “Basicamente, foi um esquema fraudulento, onde aqueles que participaram na privatização [da Sibneft] formaram uma organização criminosa que permitiu que Abramovich e Berezovsky enganassem o governo e não pagassem o dinheiro que essa empresa valia na realidade”.

O mesmo documento aponta também para uma alegada de proteção de Roman Abramovich, por parte do ex-presidente russo Boris Yeltsin. De resto, Yuri Skuratov, refere que os arquivos da polícia sobre Abramovich foram transferidos para o Kremlin, tendo a sua investigação sido interrompida pelo próprio Boris Yeltsin.

“Skuratov estava a preparar um processo criminal sobre a Sibneft com base na investigação da sua privatização. A investigação foi interrompida pelo presidente Yeltsin e Skuratov foi demitido do seu cargo”, indica o documento. Na base da demissão de Skuratov esteve um vídeo de cariz sexual, algo que o próprio desmente.

“Foi uma manobra política porque nas minhas investigações cheguei muito perto da família de Boris Yeltsin, inclusive através da investigação da privatização da Sibneft”, afirma Skuratov à “BBC”.

Uma outra polémica a envolver Roman Abramovich aconteceu em 2002, dois anos após a chegada de Vladimir Putin ao poder, com a compra de uma nova empresa petrolífera russa, a Slavneft. Abramovich formou uma parceria com outra empresa para comprar a Slavneft, face ao aparecimento de uma concorrente da China que oferecia quase o dobro do valor.

Desde o Kremlin ao parlamento russo, vários seriam os responsáveis políticos que ficariam a perder se os chineses ganhassem o leilão. O documento diz que um membro da delegação chinesa foi sequestrado quando chegou a Moscovo para o leilão.

“A CNPC, empresa chinesa, concorrente muito forte, teve que retirar-se do leilão depois de um dos seus representantes ter sido sequestrado na chegada ao aeroporto de Moscovo, tendo sido libertado depois da empresa declarar a sua saída do leilão”, revela o documento.

Vladimir Milov foi vice-ministro da energia da Rússia no período que antecedeu a venda da Slavneft. Apesar de não fazer comentários sobre a história do sequestro à “BBC”, refere que figuras políticas importantes já tinham decidido que a parceria de Abramovich ganharia o leilão.

“Os chineses querem entrar e querem pagar um preço muito maior. Eles [russos] dizem que não importa, para eu me calar, que não é nada comigo. Já está decidido. A Slavneft vai para o Abramovich. Os chineses serão arrastados para fora de alguma forma”, conta Vladimir Milov.

Contudo, não existem indícios de que Abramovich sabia do plano de sequestro. Os seus advogados disseram à BBC que essa alegação “é totalmente infundada” e que Roman Abramovich “não tem conhecimento de tal incidente”. Os advogados do milionário russo defendem ainda que as alegações de corrupção nos acordos das compras da Slavneft e Sibneft são falsas, negando que Abramovich tenha sido protegido por Boris Yeltsin.

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