Desde que é líder, no PS e depois no Governo, que quem liga a luz é ele. Nada a ver com autoritarismo ou autocracia, apenas a convicção e a prova dos tempos de que quando ele não está, tudo funciona pior.

Marcelo Rebelo de Sousa chamou-lhe “mata-borrão de qualidade”, porque suga o que importa e apaga os erros dos outros. Eu afirmo que ele possui os dons dos melhores faquires: deita-se sobre uma cama de pregos ou passa pelo fogo e nada lhe acontece.

Todos os problemas, afirmações ou decisões pouco sensatas oriundas do seu Executivo nunca o atingem e é à sua couraça robusta, firme e duradoura que o PS deve a maioria absoluta – também fruto da inépcia política e falta de empatia de Rui Rio, que abandonou o Parlamento esta semana – apesar do cansaço indesmentível de muitos da sua equipa.

Dois casos evidentes de como António Costa é o “Deus ex machina” do Governo. Sai Marta Temido, o que disse o primeiro-ministro? Quem vier, vem para seguir a política do Governo e para haver alterações têm de ser os portugueses a querer essa mudança através do voto em eleições. Assunto encerrado.

Ficou claro que Manuel Pizarro, um “boy” do PS e de uma camarilha que andou em redor de José Sócrates, e que fará parte do julgamento do processo da “máfia do sangue”, que vai executar o que for mandado como um CEO do Serviço Nacional de Saúde – se o Presidente da República promulgar o diploma – não será o verdadeiro ministro da Saúde.

E sobre a grande novidade da entrevista que concedeu à TVI/CNN, a possível decisão sobre a localização do novo aeroporto, que resulta de conversações com Luís Montenegro – o que também se diga que se não for António Costa a lançar a primeira pedra, desconfio que depois de décadas perdidas de debate esta venha a ser mais uma obra de Santa Engrácia – , questionado sobre se o ministro da tutela está envolvido neste processo (com Montenegro a revelar que se recusa sentar com ele) e conversas, Costa disparou com a maior das naturalidades: o ministro depois executará.

Ou seja, mais uma humilhação a Pedro Nuno Santos depois da anedótica ópera bufa da conferência de imprensa e múltiplas entrevistas em que este anunciou uma solução bicéfala Montijo-Alcochete. Para quem não sabia, ali cristalinamente na entrevista de segunda-feira, ficou exposto que Pedro Nuno Santos é apenas um contínuo que executa as tarefas decididas por outros. Porque é António Costa quem acende e apaga a luz, convém os próprios ministros perceberem.

P.S.: com a morte da rainha Isabel II é mesmo o fim do mundo como o conhecíamos. A sua força de carácter e sentido do dever farão muita falta nos próximos tempos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.