Nas últimas duas semanas temos vindo a assistir a grandes oscilações nas bolsas de valores, num movimento contínuo que se tem caracterizado por uma queda assinalável a nível mundial. Um quadro de incerteza fortemente ampliado pelo impacto da guerra de petróleo entre a Arábia Saudita e a Rússia, por um lado, e pelo efeito do Covid-19, por outro.

Pouco a pouco, vamos tomando consciência de que os impactos sobre a economia mundial poderão ser mais intensos e duradouros, e com repercussões relevantes para lá das próximas semanas. Impactos no turismo, decerto, mas também nas cadeias globais de produção de produtos semi-acabados e acabados.

Neste novo contexto em formação, é provável que algumas actividades económicas sejam trazidas ou replicadas em vários continentes, nomeadamente Europa e Américas, assim deixando de ser um monopólio da Ásia. Podemos, por isso, estar prestes a assistir a um fenómeno de near shoring, trazendo de volta empregos industriais perdidos no passado para o Sudoeste Asiático e o subcontinente indiano. Falta perceber, todavia, se a retracção no turismo será temporária ou permanente, tema que interessa sobremaneira aos agentes económicos portugueses.

Ao mesmo tempo, os próximos dias poderão trazer o encerramento paulatino de actividades escolares, espectáculos e um progressivo alargar de áreas sob quarentena. Trata-se de medidas necessárias, mas que não deixarão de elevar o nível de ansiedade da sociedade.

Isto dito, esteve bem o Governo ao aprovar um conjunto de medidas de apoio às empresas e aos trabalhadores potencialmente afectados. Convém aprender com Itália, e actuar sem tibiezas, tentando conter o Covid-19. Com uma taxa de mortalidade acima dos 3% e com mecanismos de transmissão, conquanto ainda não totalmente conhecidos, que parecem ser bastante céleres, todo o cuidado é pouco.

A terminar, uma nota de alerta. Os cidadãos e os trabalhadores terão de estar particularmente atentos, pois é nestas alturas de alteração de paradigma que emergem os pequenos ditadores, actores de uma ópera bufa, em que os homens providenciais não tardarão a colocar as culpas no outro, no estrangeiro, ou numa qualquer minoria.

E deverão trabalhadores e cidadãos estar também vigilantes, porque em breve não faltarão os empresários e os gestores incompetentes a falar em lay-off, negação de aumentos salariais e outros sacrifícios a impor aos trabalhadores, em nome de uma qualquer crise ao virar da esquina. Estejamos, pois, atentos e vigilantes, muito atentos e vigilantes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.