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Cravo João Batista Antunes e Pianoforte. Portugal tem novos tesouros nacionais

Os bustos imperiais de Agrippina Minor, Adriano e Galieno, descobertos em 1966 durante escavações arqueológicas na villa romana de Milreu, foram reconhecidos como tesouro nacional. Dois instrumentos datados do século XVI e propriedade do museu Nacional da Música receberam a mesma classificação.
  • Pianoforte, Henri-Joseph van Casteel
11 Janeiro 2022, 18h45

Por unanimidade da Secção de Museus, da Conservação e Restauro e do Património Imaterial (SMUCRI) do Conselho Nacional de Cultura, foi publicado em Diário da República, no dia 5 de janeiro, que o Cravo João Batista Antunes do século XVIII (1789) foi classificado como bem de interesse nacional (BIN), com a designação de “tesouro nacional”. Recebeu também a  classificação como bem de interesse nacional (BIN), igualmente com a designação de “tesouro nacional”, o Pianoforte, Henri-Joseph van Casteel, também do século XVIII (1763).

O cravo é um instrumento de tecla com cordas dedilhadas. A sua forma exterior aproxima-o do piano de cauda, enquanto que o som que produz remete para cordofones, como a viola dedilhada, tendo sido um instrumento habitual nos serões palacianos até finais do século XVIII.

O Pianoforte van Casteel, como é designado, foi construído em Portugal em 1763 e provém da coleção do compositor Alfredo Keil, autor do Hino Nacional e da ópera “A Serrana”, entre outras peças musicais, fazendo parte do acervo do Museu Nacional da Música.

O Cravo de João Batista Antunes foi construído “numa altura em que já se ouviam os pianofortes nos salões” e daí ter “uma maior extensão, e um teclado maior, permitindo tocar composições que, no outro caso, não são possíveis, [pelo que] há, assim, uma evolução muito nítida”, afirmou, em declarações à Lusa, em 2018, a diretora do Museu Nacional da Música (MNM), Graça Mendes Pinto.

Os dois instumentos integram parte do espólio do MNM, que possui uma das mais ricas coleções de instrumentos musicais da Europa, alguns deles classificados como Tesouros Nacionais, como é o caso do Violoncelo Stradivarius Chevillard – Rei de Portugal, do Cravo Antunes, ou do Cravo de Pascal Taskin.

O acervo inclui peças do séc. XVI ao séc. XXI, de produção portuguesa e internacional, de tradição erudita e popular. Além de instrumentos musicais, os visitantes podem encontrar no museu documentos, fonogramas e iconografia.

O Museu possui ainda um Centro de Documentação e dinamiza uma vasta programação de extensão cultural, em que se destacam concertos, visitas temáticas e ateliers. Está aberto ao público na estação Alto dos Moinhos do Metropolitano de Lisboa.

Rico conjunto decorativo da Villa Romana de Milreu

Na mesma data, foram ainda considerados como conjunto de interesse nacional três bustos imperiais provenientes da Villa Romana de Milreu: Agrippina minor, Adriano e Galieno.

As Ruínas Romanas de Milreu ou Ruínas de Estoi se encontram classificadas como monumento nacional, conforme o Decreto de 16 de junho de 1910, publicado no Diário do Governo, n.º 136, de 23 de junho de 1910.

Entre o rico conjunto decorativo da Villa Romana de Milreu, sítio arqueológico correspondente a uma das mais importantes propriedades agrícolas romanas do sul de Portugal, composta por casa senhorial de grandes dimensões, organizada em redor de pátio central com peristilo, instalações agrárias, balneário e templo, presumivelmente fundada no início do século i, destaca-se a presença de um conjunto de bustos imperiais que compõe a maior coleção de retratos desta tipologia descoberta em contexto peninsular, talvez resultado do colecionismo de peças importadas por proprietários da vila em época tardia, tendo em conta as distintas cronologias dos bustos, que se situam entre os séculos I e III.

Os bustos de Agrippina minor e de Adriano foram descobertos, em 1966, num compartimento junto ao peristilo da vila romana, sob os mosaicos. O busto de Galieno era já conhecido nas últimas décadas do século xix, encontrando-se então numa coleção privada.

O primeiro busto, datado do século I, representa Júlia Agripina Menor, mãe de Nero e mulher de Cláudio, e corresponde à primeira imagem oficial de Agrippina minor como imperatriz. Constitui um dos apenas nove retratos de Agrippina encontrados em toda a Hispânia e o único em contexto rural, o qual tem paralelo no busto existente no Museu Arqueológico de Milão.

O busto identificado como um retrato de Adriano no ano em que visita a Hispânia (121 d. C.), datado do início do segundo quartel do século II, com alusões estéticas ao gosto grego que aquele admirava, é uma raridade em termos das representações deste imperador descobertas em ambiente privado, tendo como paralelo o busto existente no Museu Nacional Romano.

O busto de Galieno, datado da segunda metade do século III, uma cabeça, fragmentada na zona do pescoço, que terá integrado uma estátua completa, constitui uma obra de apreciável execução, destacando-se mesmo a nível internacional, no conjunto de retratos imperiais, como um dos mais notáveis e representativos deste imperador, e é o único descoberto, até ao momento, na Península Ibérica, tendo paralelo no busto da Casa das Vestais do Museu Nacional Romano.

Estes três bustos, em excelente estado de conservação, representam um testemunho excecional das vivências de proprietários romanos abastados do sul do território nacional, apresentando-se, igualmente, como exemplares extraordinários da produção artística do período romano na península itálica.

De acordo com os critérios e os pressupostos de classificação previstos na Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, que estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do património cultural, os bens que o Governo classifica como de interesse nacional revestem-se de excecional interesse nacional, pelo que se torna imperativo que se lhes proporcione especial proteção e valorização.

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