O local de trabalho transformou-se e passou a ser a casa. Em Portugal, o número de pessoas que trabalha a partir de casa duplicou nos últimos quatro anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), para um total de 120 mil trabalhadores no final do ano passado.

Um crescimento que se prevê ser reforçado nos próximos anos em função da organização e evolução do trabalho, do surgimento de novas funções, da crescente digitalização da sociedade, além de situações conjunturais específicas que impulsionam este modelo.

Todas as culturas de trabalho apresentam vantagens e riscos. Para gerir a mudança e a transição para o trabalho à distância, os executivos devem implementar uma forte cultura empresarial e ter expectativas claras, para si e para as suas equipas, para obter eficácia.

Do ponto de vista económico, existem vantagens para os empregadores, com uma redução global da despesa, associada à deslocação da sua força de trabalho para o sistema remoto. Por outro lado, os colaboradores também reduzem custos como alimentação, vestuário e deslocações, com a gestão dos filhos, entre outras, economizando nestes aspetos (estudo sobre oito tendências de executivos para 2020 da PageExecutive).

Também a comunicação parece melhorar com o trabalho remoto, como demonstra um estudo de 2018 do Future Workplace, em que 43% dos colaboradores remotos referem que o “face time” permite aprofundar os relacionamentos entre as equipas, e 8 em 10 pessoas sentem que teriam melhor relacionamento se a sua equipa comunicasse mais.

O valor económico associado ao trabalho remoto, em conjunto com expectativas de liderança claras, ajuda as empresas a atrair, mas também a reter os melhores talentos. Como referência, estudos da Universidade de Stanford revelaram que o trabalho remoto pode aumentar a retenção de colaboradores.

Assim, as pessoas que trabalham fora do escritório têm 50% menos probabilidade de deixar a empresa. Também de acordo com um estudo elaborado pela Buffer, 90% dos colaboradores ambicionam trabalhar remotamente para o resto das suas carreiras e 94% incentivam outros a trabalhar segundo este modelo.

Uma estratégia de trabalho remoto, bem-sucedida, pode revelar-se muito gratificante para o ecossistema empresarial, incluindo os empregadores, colaboradores e recrutadores. A chave é manter uma forte cultura interna, onde os futuros líderes constroem laços com a sua equipa e as empresas mantêm uma abordagem coesa com forte engagement dos colaboradores.

Entre as recomendações para garantir o sucesso de uma estratégia como esta, destaca-se a clara definição de objetivos e a criação de indicadores de desempenho (KPIs) para a gestão e para os colaboradores.

É importante para a equipa em modo de funcionamento remoto ter noção sobre quais as expetativas e resultados a alcançar, saber exatamente quais as suas funções e obter avaliação sobre o seu trabalho, mediante a monitorização do desempenho e apreciação individual, mas também coletiva.

Os KPIs são apenas uma abordagem estruturada que permite perceber os resultados das equipas, a par com outros procedimentos, tais como reuniões regulares à distância. As reuniões individuais e coletivas são uma forma de dar impulso à equipa, aumentar o envolvimento dos vários elementos e obter feedback, essencial neste modelo de funcionamento que exige um reforço da comunicação para criar o “espírito de equipa”.

A comunicação à distância deixou de ser um problema, pois a tecnologia através das várias ferramentas de produtividade facilita de forma simples e intuitiva a interação, e esta é, sem dúvida, uma forma de construir e liderar o engagement entre todos, mantendo o contacto e a coesão entre as pessoas.

No entanto, o modelo de trabalho remoto não se aplica a todas as situações, é necessário que haja uma transição eficaz.

Para os colaboradores recém-contratados e respetivos líderes, ambos precisam de contacto presencial, formação, integração na cultura da empresa, de aprender com a experiência e através dos colegas, antes de poderem trabalhar, com confiança, à distância. E isso pode exigir algum tempo até que as pessoas se sintam preparadas. As equipas em trabalho remoto exigem esforço para se organizarem e se orientarem rumo à produtividade.

A digitalização tem criado inúmeras oportunidades de expansão do trabalho remoto e esta é atualmente uma situação que proporciona aos gestores um grande desafio: criar uma cultura e envolvimento com os membros das suas equipas à distância, e atrair e manter o melhor talento independentemente do local onde estão situados.