Por todo o mundo, os preços nos combustíveis fósseis e na energia continuam a atingir valores exorbitantes. De 2019 para 2021 (setembro), o preço médio do gás natural e da eletricidade na Europa cresceu 429% e 230%, respetivamente, segundo a Comissão Europeia.

As causas para esta tempestade foram diversas. A nível exógeno, um inverno prolongado na maioria dos países europeus, juntamente com a elevada procura pós-pandemia, colocaram uma grande pressão do lado da procura no mercado da energia. A incapacidade de resposta no lado da oferta fez com o setor da energia registasse uma inflação no início de 2022 na ordem dos 28,6%, em comparação com janeiro de 2021.

Por outro lado, as reservas de gás natural em mínimos na Europa, juntamente com a tensão atual entre a Rússia, o principal exportador de gás natural para a Europa (46,8% no primeiro semestre de 2021), e a União Europeia, ajudaram a intensificar o problema, dificultando ainda mais qualquer antevisão do fim desta crise. Na verdade, os preços altos a que estamos a assistir poderão tornar-se uma nova normalidade, pelo menos até conseguirmos progredir no que toca à descarbonização.

A subida de preços das fontes energéticas utilizadas em maior percentagem na Europa tem provocado um efeito borboleta que afeta a generalidade dos preços. No caso do gás natural, que representa 22% da energia gerada na Europa, uma subida acentuada nos seus preços tem um impacto na inflação, principalmente em indústrias com elevado consumo de energia.

Com efeito, em fevereiro de 2022, a taxa anual de inflação foi estimada em 5,8%, segundo o Eurostat. Esta pressão nos preços poderá levar, juntamente com falhas no mercado energético, a uma diminuição da atividade industrial e a um desacelerar do crescimento económico europeu.

Adicionalmente, segundo o Eurostat, durante o ano de 2020, 8% da população europeia não conseguiu aquecer adequadamente a sua habitação. Apesar da melhoria em relação a anos anteriores, Portugal continua a ser dos países com piores resultados, onde 17% da população afirma não ter a casa suficientemente quente. Com as contas de eletricidade para os agregados familiares a aumentar, e os rendimentos de muitas famílias diminuídos pela pandemia, estes dados poderão deteriorar-se ainda mais.

Muitos países têm tentado mitigar os efeitos do aumento dos preços junto dos consumidores. Em Espanha, o Governo utilizou parte dos lucros das empresas energéticas para baixar o preço das contas de eletricidade dos consumidores. Já em França, as propostas procuram reduzir os impostos na eletricidade e vender energia nuclear a um custo mais baixo, pedido feito à EDF, a estatal de energia francesa.

As medidas atualmente propostas pelos vários países europeus devem ser adotadas com cautela. Se os Governos continuarem a depender de subsídios para amortecer as consequências desta crise, a longo prazo poderão pôr em causa orçamentos públicos e a recuperação económica.

No caso espanhol, por exemplo, as medidas podem ter consequências graves para as empresas energéticas, visto que os lucros irão diminuir, o que afeta a capacidade de investimento das mesmas. A subsidiarização de combustíveis fósseis pode também colocar em causa a estratégia de descarbonização da União Europeia.

Para o futuro, é importante que a Europa tome medidas para diminuir a dependência energética. Deve existir uma maior diversificação nas fontes de gás natural, visto que uma dependência tão grande de um único exportador pode criar situações como a que estamos a assistir agora. Por último, o investimento em novas fontes energéticas deve continuar a ser encorajado. Mais tecnologia e capacidade de armazenamento energético podem ajudar a mitigar a volatilidade no mercado associado ao gás natural.

É fundamental existir previsibilidade e estabilidade de preços, de forma a trazer confiança aos investidores e ao mercado.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.