O surgimento dos discursos e movimentos nacionalistas, populistas e radicais um pouco por toda a Europa, de que são exemplo o Brexit, o grupo de Visegrad, ou Le Pen na liderança das sondagens em França, cria desconfiança e preocupação pelo contraste que representam com a história recente da Europa.

A força europeia vem precisamente das diferenças que temos relativamente a povos que, ao contrário dos europeus, não aceitam a diversidade, não sabem integrar, e se integrar, e promover um são convívio com todos, mesmo com aqueles com quem têm diferenças – sejam elas de que índole for. Se se pode ainda falar nalguma supremacia europeia esta é acima de tudo a supremacia mental de ter evoluído, de já ter ultrapassado a fase em que os vizinhos, ou o estranho, era olhado com desconfiança, e de a descriminação prevalecer.

Têm sido as instituições a ir à frente neste caminho, levando os cidadãos a segui-las. Conseguiu-se até que se aceitasse como normal que as fronteiras e as diferenças que historicamente sempre existiram no continente fossem relegadas para segundo plano perante um objectivo de paz e de prosperidade.

Porém, hoje em dia há um grande sentimento de vazio e de perda de referenciais, que põe o projecto em causa. Os radicais e os nacionalistas culpam o liberalismo e a globalização pelos problemas, e recuperam as velhas ideias do proteccionismo, num regresso ao passado. Esquecem todas as mudanças tecnológicas, económicas, demográficas, etc., que fazem com que isto não passe de uma nostálgica fantasia.

Os moderados olham para o crescimento eleitoral dos radicais, cada vez mais em posições de influenciar os destinos comuns, e não sabem como contrariar este fenómeno. Há problemas de fundo nas nossas sociedades que não se resolvem facilmente e que muitas vezes são o próprio preço de viver o estilo de vida que escolhemos.

Acontece que olhar para a história ajuda a entender que já houve momentos parecidos com este. Celebrar-se-á em Março os 60 anos desde que a CEE foi fundada pelo Tratado de Roma, e os 25 anos desde que se assinou a criação da União Europeia em Maastrich. Na sua génese esteve um projecto de Paz, na tentativa de evitar que um conflito como o que tinha devastado a Europa voltasse e acontecer. Também havia uma motivação económica – era a resposta à perda de hegemonia que os países europeus tinham sobre o mundo, especialmente perante o surgimento de duas novas superpotências: os EUA e a URSS.

Curiosamente, hoje em dia, e perante as alterações na ordem mundial com a repartição e redução do dinamismo económico do Mundo Ocidental, a resposta que está a ser seguida é contrária à então escolhida, com as crescentes propostas nacionalistas de desintegrar a UE.

Mas não é apenas o bem-estar económico que está em causa e que deve ser protegido. É a própria paz. É que estes políticos que se propõem salvar o Mundo com as suas explicações simplistas assentes no “nós” e nos “outros”, e em que a culpa está sempre bem atribuída, são aqueles que quando confrontados com a realidade, mais levianamente se levantarão contra os “outros”. Para que haja guerra não é preciso muito mais do que isto.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.