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Custos da construção podem abrandar novos projetos de habitação

Especialistas dizem contudo que o segmento residencial vai continuar dinâmico, tal como os mercados de escritórios e hotelaria. Critérios ESG vão ter papel importante na hora de investir.
14 Maio 2022, 17h00

Numa altura em que o mercado imobiliário retoma a sua normalidade no pós-pandemia, os fundos de investimento imobiliário (FII) começam a olhar para os segmentos e tendências que lhes podem trazer mais rentabilidade. No entanto, existem danos colaterais ao sector que podem ter influência na hora de avançar ou não com a compra ou construção de um projeto. Um desses danos é o aumento dos custos da construção que podem vir a ter impacto no mercado residencial.

“Tendo em conta a inflação dos custos de construção, poderá haver um abrandamento momentâneo dos projetos de construção nova de maior dimensão, nomeadamente daqueles que estão ainda em fase de pré-arranque, o que poderá ajudar a valorizar um pouco mais o mercado”, refere em declarações ao Jornal Económico (JE), Francisco Sottomayor, CEO da Norfin, acrescentando que devido a este impulso da inflação o mercado residencial tenderá a consolidar-se ainda mais como a classe de investimento preferencial do aforrador particular de pequena/média dimensão.

Também Pedro Coelho, vice- presidente da Square Asset Management antevê uma subida nos preços do mercado residencial motivado pelo aumento nos custos da construção, mas considera que “escritórios e logística continuarão a ser os principais setores do ponto de vista da procura dos ocupantes”, enquanto o imobiliário comercial depende sempre muito mais da procura do mercado das empresas em todos os sectores.

Um outro segmento que estará em destaque, de acordo com o CEO da Norfin, é a hotelaria “deixando para trás o período negro da pandemia”, e com Portugal a poder beneficiar do facto de estar mais afastado das zonas mais instáveis da europa central e de leste. “Acreditamos que nos destinos menos dependentes do mercado MICE [Meetins, Incentives, Conferences and Exhibitions], nomeadamente nos destinos golfe e de praia, é mesmo possível que se atinjam níveis de performance superiores a 2019”, salienta Francisco Sottomayor.

Um dos pontos que vai também marcar a abordagem dos investidores ao mercado são os critérios ESG (Environmental, Social and Governance) e tudo aquilo que envolve a temática da sustentabilidade. Também aqui, os escritórios, hotelaria e habitação serão aqueles que mais podem destacar-se neste ponto.

A questão que se coloca então é: estarão os FII abertos para apostar nestas novas tendências? “Claramente”, afirma o CEO da Norfin, que destaca a entrada no mercado regulado de um conjunto relevante de projetos de desenvolvimento, que assumem a forma de SICAFIs (Sociedade de Investimento Imobiliário de Capital Fixo). “Vemos este movimento como muito saudável, uma vez que permite trazer para o mercado regulado um conjunto relevante de investimentos, que assim passam a contar com uma gestão profissional, e com critérios de rigor e transparência bem superiores ao que o mercado pratica hoje. Isto por si só é um sinal de maturidade do mercado que nos parece relevante”, enfatiza.

Em suma, e de um modo geral os Fundos de Investimento Imobiliário abertos têm vindo a corresponder de forma positiva no período pós-pandemia. “É de recordar que os FII Abertos possuem um vasto património imobiliário existente e arrendado, vindo a sua rentabilidade predominantemente destas mesmas rendas, pelo que não apresentam flutuações significativas”, salienta Pedro Coelho.

Também Francisco Sottomayor partilha deste sentimento em relação aos FII. “Prevemos que o mercado se mantenha dinâmico em todas as classes de ativos, dada a grande capacidade de investimento que continua a existir e a manutenção do foco dos investidores internacionais no mercado português. Acreditamos que os volumes de investimento estarão em linha com os últimos anos, sendo muito provável que se atinjam volumes totais superiores a 2021”, analisa.

No entanto, o responsável da Square AM, deixa o alerta para o momento de incertaza que o mundo vive atualmente.

“Para além da guerra vivemos um momento de inflação alta, com a consequente expectativa de subida de taxas de juro”, realça, destacando que os períodos de maior incerteza nunca são bons para investidores, empresas e particulares. “Este é um desses períodos. Sabemos também que os FII tendo que estar atentos às nuances do mercado, são por tradição muito resilientes a períodos de inflação dado que os ativos reais tendem a valorizar-se nestes períodos”, explica, Pedro Coelho.

Já Francisco Sottomayor acredita que os Fundos de Investimento Imobiliários terão muito provavelmente nesta fase um comportamento mais robusto do que o mercado imobiliário em geral.”Tratam-se de veículos geridos profissionalmente, por entidades certificadas para tal, veículos altamente regulados em que a componente de controlo financeiro é muito importante e onde, regra geral, são seguidas políticas de investimento razoavelmente conservadoras”, sublinha.

Em relação ao aspeto da inflação controlada, o CEO da Norfin, entende que pode ser um factor com um impacto muito positivo no mercado, mas que também “é preciso ter a consciência consciência de que verdadeiramente ninguém sabe como esta se vai comportar no médio prazo”, conclui.

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