A falta de experiência em bancos centrais não a impediu de se tornar a primeira mulher a sentar-se na cadeira de presidente do Banco Central Europeu (BCE) e enfrentar a difícil tarefa de suceder ao italiano que ficará para a história da zona euro como o homem que salvou a moeda única. Christine Lagarde assume funções esta sexta-feira e irá dirigir a política monetária durante os próximos oito anos.
Com um contexto internacional mais favorável do que aquele que o seu antecessor encontrou quando em 2011 tomou posse, Lagarde terá, no entanto, de lidar com ameaça de nuvens cinzentas no horizonte, com o desacelerar do crescimento económico global – e ao qual a zona euro não é exceção – a fazer disparar os alarmes da possibilidade de uma nova recessão.
A francesa, que deixou a liderança do Fundo Monetário Internacional para passar a chamar casa a Frankfurt, herda não só um novo pacote de estímulos, com taxas de juro negativas e o reiniciar de um novo programa de Quantitative Easing (QE), como um banco central dividido sobre a decisão.
Em setembro, o BCE anunciou um pacote de estímulos à economia, que incluíram o reiniciar o QE em novembro, com a aquisição de dívida no valor de 20 mil milhões de euros por mês durante o período em que for necessário. Alguns membros do banco central não terão concordado sobre os efeitos positivos das medidas, com as minutas da da reunião a demonstrarem uma divisão no Conselho. Apesar de ter sido aprovada por maioria, muitos membros acreditam que a decisão de comprar ativos no valor 20 mil milhões de euros por mês e sem data final foi prematura.
“A eleição de Lagarde não irá mudar a política monetária. Vamos ter taxas de juro negativas e QE”, acredita Neil Dwane, estratega global da Allianz Global Investors. Num encontro com jornalistas em Lisboa, o especialista realçou que Lagarde tem um perfil essencialmente político, que poderá ser a ferramenta mais vantajosa para alcançar progressos na União Económica e Monetária (UEM).
“[Lagarde] Vai usar a credibilidade do BCE para alcançar a UEM. Se não o fizer em oito anos, o que irá acontecer à credibilidade da zona euro?”.
Para Frederik Ducrozet, estratega, e Nadia Gharbi, economista, do Pictet Wealth Management a nova presidente do BCE deverá manter o atual rumo da política monetária. “No nosso cenário de base de uma lenta recuperação da inflação subjacente, esperamos que o programa de QE) do BCE continue por pelo menos dois anos e que as taxas negativas sejam normalizadas na segunda metade do mandato de Christine Lagarde”, referem numa nota de research.
Para já, a nova presidente do BCE terá de lidar com uma inflação que teima em fixar-se abaixo da meta de cerca de 2%, a par do aumento da incerteza geopolítica. Conta, no entanto, com a confiança do antecessor. Na conferência de imprensa da última reunião do Conselho de Governadores, Mario Draghi foi categórico sobre qual o conselho que poderia dar à sucessora: “Não é necessário nenhum conselho. Ela sabe o que fazer”.
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