A agricultura e a floresta são 78% do território nacional (mais de 7 milhões de hectares), juntando matos e incultos (16%) temos um setor com relevância em 95% do território.

A pandemia e o conflito na Ucrânia, com consequências ainda por avaliar, vêm acrescentar desafios ao setor, que já tem de responder ao crescimento demográfico (10 mil milhões de pessoas em 2050), a uma crescente urbanização (70% da população mundial nas cidades) e a uma alteração dos hábitos alimentares respondendo às necessidades de consumidores cada vez mais exigentes na produção sustentável e comércio justo dos bens agrícolas.

O setor tem evoluído muito na mecanização e no uso de tecnologia, demonstrando uma enorme resiliência. Nos últimos 20 anos é um dos setores que mais cresceu, e se modernizou, em Portugal.

No entanto, mantém um conjunto de fragilidades estruturais que têm de ser resolvidas: 1) cria pouco valor, mantendo-se o VAB do setor praticamente constante desde 2000; 2) um setor envelhecido – idade média 65 anos e apenas 4% têm menos de 40 anos; 3) pouco organizado, em que o nível de organização (produção comercializada por Organizações de Produtores reconhecidas/total do valor da produção) é da ordem dos 20% sendo a média europeia de 50%, ou de mais de 90% na Bélgica ou na Holanda.

É, portanto, imperativa a aposta consistente no investimento, no conhecimento, na tecnologia e na valorização da produção da atividade. Algumas das soluções podem mesmo não implicar a alocação de fundos públicos.

Em termos de investimento, visando o aumento da dimensão média da exploração, deve implementar-se um mecanismo de isenção de custos de registo e IMI, a 10/15 anos, na compra de terras contíguas de emparcelamento rural, onde a área final seja maior do que a média da área da região.

Para apostar no conhecimento, deveria ser valorizado o papel da formação e promovida a participação dos jovens, em universidades nacionais e estrangeiras, em cursos que relacionem competências técnicas com competências de gestão, como é o caso da Pós-Graduação em Agribusiness do ISEG Executive Education, em parceria com o Instituto Superior Agrícola (ISA) e Consulai.

Em termos tecnológicos o progresso é extraordinário, e as práticas são cada vez mais evoluídas. A transformação digital do setor, a agricultura de precisão, sofre de um estrangulamento que urge ultrapassar – acesso à internet em muitas áreas rurais portuguesas.

A valorização da produção, para além da diferenciação dos produtos, marcas, novos mercados, novos canais comerciais (e.g. locais, digitais) implica a criação de escala na oferta, o que seria estimulado por mecanismos fiscais a discriminar positivamente Organizações de Produtores.

A recuperação da imagem pública do setor é um fator decisivo para atrair jovens e talento, através do papel da atividade agrícola e florestal na aproximação aos valores da Natureza, na regeneração do planeta, na dignificação do trabalho e na disseminação de tecnologias de agricultura de precisão.

Portugal tem excelentes condições para ser uma referência na produção agrícola de qualidade, com forte utilização de tecnologia digital e capacidade de atrair mais investimento no setor, bem como com capital humano bastante preparado. Queremos um país que valoriza as suas raízes rurais e valores naturais da biodiversidade e da sustentabilidade alimentar, e que estes valores se projetem como força de posicionamento futuro face a outras geografias.

Não temos dúvidas que existem excelentes oportunidades para o país e para o setor.

Artigo escrito coautoria com Isabel Sousa e José Veríssimo, Cocoordenadores da Pós-Graduação em Agribusiness do ISEG Executive Education, em parceria com o Instituto Superior de Agronomia (ISA) e Consulai.