“Convido as autoridades portuguesas a aproveitar este momento e a agir agora com determinação para que Portugal desbloqueie o seu verdadeiro potencial e cresça no sentido de numa economia resiliente, dinâmica e inovadora”, disse Valdis Dombrovskis, vice-presidente da Comissão Europeia. Estas são palavras fortes, que apontam um caminho, que dizem a verdade, que eu esperaria ouvir dos políticos portugueses. Mas nenhum – repito, nenhum – as disse.

Dombrovskis disse mais, no momento em que anunciou a recomendação do fim do termo de identidade e residência imposto a Portugal na sequência da bancarrota. Disse também que Portugal deve empenhar-se num ambicioso plano de reformas estruturais que deve incluir uma despesa pública mais eficiente.

Nenhum político português foi capaz de aproveitar a oportunidade do fim do regime de exceção para anunciar em duas linhas, de modo simples e eficaz, como fez o pragmático Valdis Dombrovskis , um pensamento estratégico, traçar um rumo, definir as próximas tarefas.

O verdadeiro potencial de Portugal está aqui, por todo lado. Não é o sol, nem as cidades e as serras. São as pessoas, os portugueses, a maior fonte de energia renovável de Portugal. Energia bloqueada, desaproveitada, quantas vezes desprezada e esmagada pela incompetência, a inveja e a ignorância. Energia que faz das pessoas de Portugal o melhor ativo para potenciar de Portugal. Mas é preciso qualificar quem são esses portugueses, como o fez Miguel Sousa Tavares há dias na SIC.

O potencial de Portugal reside esmagadoramente nos empresários e nos trabalhadores do setor privado. São esses os verdadeiros potenciadores de maior riqueza, emprego, inovação. O Estado deverá ser, se fizer esta opção, o facilitador de “uma economia resiliente, dinâmica e inovadora”.

Os empresários portugueses, quando perceberam que do Estado já não viriam encomendas fáceis de concursos viciados e que dali só poderia vir miséria, fizeram-se ao mar. Deixaram o conforto dos gabinetes e navegaram, por vezes sem bússola, à procura de oportunidades. Um processo muito doloroso para as empresas e seus trabalhadores, e que ainda não terminou. Muitos milhares perderam o emprego, muitos reformaram-se compulsivamente, muitos fizeram-se, também eles, ao mar. Um dos maiores defeitos dos portugueses é uma quase infinita capacidade de se adaptarem ao pior e não reagirem. Para muitos, a solução é abandonar, ir para longe ou para dentro da depressão, pois mais esperança não há.

Quando Dombrovskis, cidadão da Letónia, fala do potencial de Portugal, está a fazer um grande elogio aos portugueses – ele sabe que temos verdadeiro potencial –, mas também uma crítica e um aviso. Perdoem-me, mas outras palavras mais coloquiais exprimem melhor o que eu penso que ele disse: vocês são uns nabos que não sabem aproveitar o que têm e que agora têm de o fazer. Que não haja dúvidas. Se Portugal não desbloquear o seu verdadeiro potencial, a prazo estaremos de mão estendida outra vez. É possível que, nesse momento, a resposta dos caridosos seja “já dei, não se lembra?”

É preciso falar verdade aos portugueses, como fez Dombrovskis. Basta de má propaganda (também há boa propaganda) que procura transformar uma difícil realidade que pouco melhorou numa perigosa fantasia, num processo de agulha hipodérmica que o Presidente da República condenou, utilizando uma expressão do vocabulário náutico, ao pedir para não se embandeirar em arco. Relembro aqui as palavras sábias de João Salgueiro ditas anteontem. O inesperado crescimento económico do último trimestre muito simplesmente… aconteceu. Foi o resultado de fatores externos, da coincidência momentânea de circunstâncias favoráveis, que não são imutáveis nem eternas: as pessoas querem continuar a fazer turismo e Portugal apresenta vantagens competitivas ainda interessantes.

Fico a aguardar que, com serenidade e determinação, os políticos nos apresentem uma lista de coisas a fazer para potenciarmos a nossa energia coletiva e termos esperança que a economia portuguesa adquira resiliência, dinamismo e inovação.