Levou dois meses, a negociar a constituição do governo alemão, após o partido Social-Democrata de Olaf Scholz ter vencido as eleições, sucedendo à histórica chanceler Angela Merkel que, durante 16 anos, governou os destinos da Alemanha.

Os políticos alemães, contudo, pensam primeiro no país, contrariamente ao que acontece noutros países, nomeadamente o nosso, daí que tenha sido possível uma coligação inédita de três partidos, composta pelo Partido Social Democrata (SPD), os Verdes e o Partido Liberal Democrata (FDP), que recolhe a indispensável maioria absoluta no Parlamento, i.e. 366 lugares dos 730 do Bundestag.

Esta será a primeira coligação tripartida, desde a década de 50, chamada “semáforo”, em referência às cores dos partidos de governação na Alemanha. Sete ministérios ficarão com o SPD, os Verdes deverão assumir cinco e os liberais do FDP terão com quatro pastas.

O que em Portugal é exceção, os governos de coligação, na Alemanha são a regra. Isto porque a estabilidade é tão prezada que, mesmo um partido como o SPD, castigado nas urnas por estar aliado à CDU/CSU da chanceler Merkel, não teve outra escolha que não fosse repetir em 2017 a GroKo, ou seja, a Grande Coligação, em nome do superior interesse nacional.

A experiência demonstra que nenhum partido político, aqui como lá, por si só, conquista a maioria do Parlamento e que as grandes reformas carecem de maiorias estáveis, com regras bem estabelecidas e objetivos a longo prazo e não acordos informais de incidência parlamentar que rapidamente terminam, como se constatou com a geringonça.

Daí que na Alemanha, a formação de coligações constitua uma necessidade política e, por isso, uma prática de longa data, que garante estabilidade e continuidade estratégica.

Mais do que isso: há um enorme sentido de Estado, demonstrado abundantemente por Olaf Scholz que elogiou a sua antecessora ao dizer que Angela Merkel foi uma chanceler de sucesso, que mudou muita coisa na Alemanha, tendo trabalhado incansavelmente durante 16 anos, mantendo-se sempre fiel a si própria.

Aliás, Rui Rio, num tweet recente, qualificou como admirável o respeito que o novo chanceler alemão demonstrou pelo trabalho da sua antecessora, sendo ela do partido rival. E acrescenta que “é esta grandeza e esta dignidade que muitos não conseguem entender!”.

Verifica-se, com efeito, sobretudo nos debates mais recentes das legislativas, a política da terra queimada, em que o Partido adversário e a combater, seja o de ontem como o de hoje, não fez nada de positivo, nem de válido.

E quando Rui Rio, enquanto Presidente do PSD, como sabemos de profunda formação germânica e com os respetivos valores enraizados, concorda, ajuda e apoia, como aconteceu no epicentro da pandemia da Covid, é considerado como não fazendo oposição e de ser, mesmo, a muleta do Partido Socialista!

Os alemães, goste-se ou nem tanto, são um exemplo a seguir, porque colocam o país acima de tudo o resto, designadamente de questiúnculas políticas e da sua futebolização, no lema sacrossanto de “Deutschland über alles” e se necessário, como agora se viu, de coligações “über alles”!

Lamentavelmente, não penso que tenhamos esta capacidade patriótica de pensar Portugal e o futuro político, económico e social dos portugueses, mas, em breve, teremos a resposta a esta magna questão.