É de um dos vários pavilhões da COP que termino de escrever a segunda entrada no Diário da COP26. O simples calcorrear entre pavilhões permite-nos perceber de forma clara os efeitos das alterações climáticas através de simulações que mostram os impactos bem reais ao longo do tempo na subida do nível médio das águas, nas emissões de metano, entre outros.

A verdade é que estar na Cimeira do Clima é uma experiência única, que tem tanto de aterrador como de esperançoso.

Aterrador porque sabemos que estamos aqui devido a um problema que causamos e que o tempo para o resolver se está a esgotar. Esperançoso porque nunca antes tinha estado num local com tantas pessoas verdadeiramente empenhadas e motivadas em mudar o mundo, apesar, e sem surpresa, de este sentimento não provir dos líderes mundiais, mas sim das associações, ativistas e sociedade civil. A par disto, é também com apreensão que se comenta a presença e o patrocínio de multinacionais com responsabilidades nas emissões.

E logo de manhã, às portas da COP26, assisti a uma demonstração desta força da sociedade civil, com uma manifestação de povos indígenas que exigem o fim da desflorestação dos locais a que chamam e querem continuar a chamar casa. As palavras de ordem? Deixem a nossa casa em paz. Mais uma vez, quem menos contribui para as alterações climáticas é quem mais sofre as suas pesadas consequências.

Cabo Verde está em seca há quatro anos. Moçambique sob o perigo de furacões. E os apoios para que consigam adaptar os seus territórios às alterações climáticas? Praticamente inexistentes. Hoje, terça-feira, tive a oportunidade de assistir precisamente a uma conferência sobre este tema, onde pude ouvir representantes de algumas ilhas em risco de ficarem submersas que pediam que fossem concertados esforços para os apoiar, porque estão cansados de promessas de cooperação que nunca são cumpridas.

Esta é precisamente uma das razões pelas quais o Fundo Verde tem de servir para garantir o apoio eficaz à proteção das florestas e as medidas de adaptação dos territórios mais afetados e à proteção dos países mais desfavorecidos. As palavras de ordem? Para uns, esperança. Para outros, mais ação e comprometimento.

Hoje assinala-se também na COP o Dia da Igualdade de Género, um tema que pode parecer deslocado da Cimeira do Clima, mas que está intrinsecamente ligado, uma vez que as alterações climáticas irão potenciar as desigualdades e as assimetrias sociais, incluindo de género. É fundamental empoderar as mulheres para a luta e resiliência contra a crise climática, e aqui as palavras de ordem são igualdade de oportunidades e de direitos.

Na reta final do dia, reuni ainda com organizações ambientais portuguesas, onde ficaram claras as suas preocupações face à falta de ambição existente, nomeadamente no que aos transportes, agricultura e gestão florestal diz respeito e, claro está, à forma abusiva como funciona o mercado de carbono internacional. As palavras de ordem aqui são de esperança e inquietação.

E foram precisamente todas estas palavras de ordem que marcaram o meu primeiro dia na COP26, que transmiti ao ministro do Ambiente e Ação Climática. A diversidade de palavras de ordem representa um espírito comum: temos um problema entre mãos e precisamos do esforço e comprometimento de todos e todas para o resolver. A inércia e os anúncios de novos compromissos têm de dar lugar a ações concretas e urgentes. O hoje tem de dar lugar a um amanhã melhor.

E numa nota de esperança final, tive a oportunidade de estar com a Presidente do Partido Holandês Pelos Animais, Christine Teunissen, que é um claro exemplo de que na Europa existem forças políticas de proteção animal e ambiental que estão mobilizadas e a trabalhar em rede para fazerem avançar estas causas.