Na sequência da apresentação de resultados trimestrais do Millennium bcp, vários órgãos de comunicação social noticiaram a notável progressão que o banco fez nos últimos meses, o que também nos apraz registar.

Esta progressão é largamente motivada pela melhoria de desempenho nos principais mercados onde opera, i.e. Portugal e Polónia. Destaque para a redução acentuada, novamente, do volume de imparidades, o que evidencia a tenacidade da gestão do banco em continuar um esforço que vinha de antes. E as condições de mercado, mormente no domínio do imobiliário, favoráveis em Portugal.

Curiosamente, neste contexto, comentadores apontaram que a par da distribuição de dividendos, por definição uma das formas de remunerar os accionistas, o banco se preparava para votar e aprovar a distribuição de resultados aos trabalhadores. Como se se distribuísse ‘dividendos’. Um dos mais lúcidos comentadores económicos, reputado professor de finanças, até elogiou o banco por querer premiar os trabalhadores, assim induzindo em erro, involuntário, os seus leitores.

O Millennium bcp é merecedor de muitos e variados elogios, como não temos regateado, no tempo e no modo que temos julgado oportunos. Porém, o que a Assembleia Geral vai apreciar é algo de natureza bem diferente.

Na sequência do processo de reestruturação do banco, por acordo inédito e de elevado sentido de responsabilidade, os sindicatos e a administração do banco aprovaram um memorando que permitiu preservar mais 400 postos de trabalho. Esse acordo implicou, em nome do princípio da solidariedade, o esforço acrescido dos trabalhadores do Millennium bcp, que viram os seus vencimentos retidos entre 3% e 11%, durante 34 meses. Tal ajudou o banco a atravessar com êxito o seu calvário. Os trabalhadores, da sua parte, revelaram a sua solidariedade, o seu sentido de responsabilidade, privilegiando os interesses de grupo em detrimento dos individuais.

Todavia, apesar da reposição dos níveis de vencimentos, nesta altura ainda não foram ‘devolvidas’ as importâncias retidas durante esses longos e penosos 34 meses. Ora, o que a administração do banco propõe nesta altura é uma compensação, por esse esforço, equivalente a cerca de 33% do montante retido e susceptível de devolução. Adicionalmente, a administração propõe fazer a devolução na íntegra, mas de forma faseada no tempo.

Ora, em nosso entender, existem condições para que este processo seja mais célere. E mais importante, que fique bem claro que não se está a distribuir ‘dividendos’ aos trabalhadores, mas apenas, e de forma muito parcial, a devolver aquilo que aos trabalhadores pertence. Não se trata de uma liberalidade, mas de um imperativo, no mínimo moral.

Adicionalmente, o Millennium bcp, apesar da notável recuperação da sua saúde económica, financeira e da sua reputação, encontra-se na situação peculiar de ser o único grande banco que ainda não fechou um acordo de actualização das cláusulas de expressão pecuniária e remuneratória dos seus trabalhadores, relativo ao ano de 2018…

A liderança, que parece estar no ADN do banco desde a sua criação, implica outras obrigações. Obriga, moralmente, o banco a tratar de forma liderante as relações laborais. Não faz sentido que os trabalhadores, reformados e pensionistas do Millennium bcp estejam sem qualquer actualização desde 2010.

Por tudo isto, pugnando para que trabalhadores, gestores, accionistas e clientes estejam em uníssono em torno do Millennium bcp, e numa atitude inédita em 45 anos de democracia política e liberdade sindical, os trabalhadores, reformados e pensionistas do banco vão-se manifestar no dia 22 de Maio, juntamente com os seus sindicatos, com os dirigentes sindicais em peso, com as comissões sindicais, e com as estruturas representativas dos trabalhadores.

Nunca estivemos todos, nem tantos, juntos desta forma. Importa que o Millennium bcp perceba a mensagem.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.