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Do “estrume” de Galamba ao “mito” da emigração de Passos Coelho. As frases de políticos que motivaram polémicas

Desde as mais recentes declarações de João Galamba sobre o programa da RTP à fúria de Pinheiro de Azevedo com os manifestantes em 1975 e o seu conhecido “bardamerda”, são diversos os momentos em que a carreira de políticos ficou marcada pelas suas declarações. Os ataques aos jornalistas têm sido constantes.
  • Cristina Bernardo
13 Maio 2021, 13h30

Recentemente João Galamba, secretário de Estado da Energia, referiu-se ao programa “Sexta às 9” da RTP como “estrume”. As declarações não passaram despercebidas e foram amplamente criticadas. No entanto, João Galamba não introduziu nada de novo e veio apenas juntar-se a uma longa lista de políticos que ao longo dos anos foram proferindo frases que marcaram a atualidade.

João Galamba e o “estrume” do “Sexta às 9”

Comecemos pela polémica mais recente. A 8 de maio, João Galamba escreveu no Twitter o seguinte: “Lamento, mas estrume só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada ‘um programa de informação'”, aludindo ao programa “Sexta às 9”. Uma vez na internet e para sempre lá ficará. O secretário de Estado apagou a publicação, mas antes disso a comunicação social reproduziu o post que ficou conhecido.

No dia seguinte às declarações, direção de informação da RTP repudiou o que tinha sido dito pelo secretário de Estado Adjunto e da Energia. “Atentam contra o bom nome da RTP e da sua jornalista Sandra Felgueiras”, considerou o canal televisivo português. Entretanto, o Sindicato de Jornalistas apontou que um “ataque ao jornalismo é um ataque à democracia e o líder do CDS exigiu um pedido de desculpas do primeiro-ministro. Até ao momento não foram conhecidas quaisquer consequências para o secretário de Estado ou um pedido de desculpas à RTP e jornalista.

Ana Mendes Godinho e a dimensão dos surtos nos lares

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social proferiu uma frase em 2020 que valeu-lhe alguns pedidos de demissão. Durante entrevista ao Expresso, Ana Mendes Godinho avaliou que “a dimensão dos surtos nos lares não é demasiado grande”.

As declarações motivaram o pedido de demissão da ministra por parte do CDS-PP e Chega. Ana Mendes Godinho continuou no cargo e acusou o jornal de ter “descontextualizado de forma grave” as declarações que fez”. Segundo Mendes Godinho, disse apenas que o país está a ter menos incidência que no passado e que a pandemia afetou até agora 3% dos lares, e 0,5% dos idosos que aí vivem. Relativamente à frase que disse a seguir, de que “a dimensão da Covid-19 nos lares não é demasiado grande em termos de proporção”, a ministra do Trabalho disse não pode ser tirada do contexto nem significa que o país não deva estar “preocupado e mobilizado”.

Por sua vez, o Expresso rejeitou as acusações da ministra.

As férias da ministra da Cultura longe dos jornalistas

Enquanto que durante a pandemia a ministra da Cultura, Graça Fonseca ficou conhecida por convidar os jornalistas a tomar um drink de fim de tarde, em 2018 destacou-se uma frase que demonstrava uma relação amarga da governante para com o jornalismo. Nessa altura, a ministra da Cultura viajou até ao México para visitar a Feira do Livro de Guadalajara, e mencionou que uma das coisas boas de estar fora do país é que não via jornais portugueses “há quatro dias”.

Os comentários de Graça Fonseca reproduziram algumas críticas e a ministra explicou, em declarações ao “Diário de Notícias”, que “não estava obviamente a criticar a comunicação social, mas a responder a uma pergunta sobre touradas”. “Deduzir uma crítica do recurso à ironia e do facto de não dispor ali de jornais em papel é claramente exagerado”, acrescentou Graça Fonseca.

Alberto João Jardim e os “bastardos da Comunicação Social”

Galamba não está sozinho nas críticas aos jornalistas, mas Alberto João Jardim, o ex-presidente regional da Madeira, foi mais longe e atacou a Comunicação Social pelo seu todo em 2005 quando ainda era o representante da região.

“Há aqui uns bastardos na comunicação social do Continente. Digo bastardos para não ter que lhes chamar filhos da puta, que aproveitaram este ensejo para desabafar o ódio que têm sobre a minha pessoa. Não lhes basta mentir sobre a Madeira. Como são bastardos, e têm o complexo de bastardos, também, à mínima coisa, desencadeiam isso (o ódio) sobre mim”, disse Alberto João Jardim.

O presidente regional foi criticado, mas não sofreu qualquer tipo de consequência. Aliás, os insultos aos jornalistas quando discordava das notícias não eram novidade. Anos antes, Jardim tinha lembrado aos correspondentes dos órgãos nacionais que a sorte deles era viverem em democracia, pois se tal não fosse, “seriam fuzilados”.

O “mito” da emigração dos portugueses de Passos Coelho

A frase que perseguiu Pedro Passos Coelho enquanto foi primeiro-ministro português foi dita numa altura em que Portugal estava no auge de grande crise e esteve sujeito à austeridade da Troika. Quando questionado, em 2011, sobre se aconselharia os “professores excedentários que temos” a “abandonarem a sua zona de conforto e a “procurarem emprego noutro sítio”, o ex primeiro-ministro respondeu que “em Angola e não só”. “O Brasil tem também uma grande necessidade ao nível do ensino básico e secundário”, completou.

“Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm, nesta altura, ocupação. E o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos”, frisou Passos Coelho. Apesar de na prática o antigo governante ter sugerido a emigração para professores, a frase ficou conhecido como se Passos Coelho tivesse recomendado a emigração aos estudantes portugueses. Em 2015 Pedro Passou Coelho desafiou “qualquer um a recordar alguma intervenção ou escrito que eu tenha tido nesse sentido”. “Foi mito”, assegurou.

José Sócrates pouco “manso” com Louçã

O ano era 2010 e a Operação Marquês ainda estava longe de acontecer. José Sócrates era primeiro-ministro pelo Partido Socialista quando no Parlamento os ânimos exaltaram-se. O bloquista Francisco Louçã defendia que “de intervenção em intervenção” Sócrates ia “ficando um pouco mais manso”. O antigo primeiro-ministro respondeu com: “”Manso é a tua tia, pá”. Em debate estava a atribuição de prémios na EDP.

O deserto de Mário Lino

Quando era ministro das Obras Públicas, Mário Lino proferiu declarações sobre a margem Sul que marcaram a sua carreira. O antigo ministro classificou esta região como sendo um “deserto” e rejeitou a ideia de construir um aeroporto. “Fazer um aeroporto na Margem Sul seria um projeto megalómano e faraónico porque, além das questões ambientais, não há gente, não há hospitais, não há escolas, não há hotéis, não há comércio, pelo que seria preciso levar para lá milhões de pessoas”, disse o antigo governante num encontro para debater o novo aeroporto, em 2007.

Depois, o PSD exigiu que o ministro pedisse desculpas. No imediato Mário Lino recusou-se a fazê-lo. Mas passado um ano o antigo ministro confessou à SIC Notícias, no programa «Dia D», que arrependia-se de ter dito algumas coisas e admitiu ter sido “infeliz” a comparação da margem sul com um deserto.

José Sócrates na sua constante “caça ao homem”

No mesmo ano em Mário Lino era criticado pelo que disse sobre a margem sul, o antigo primeiro-ministro, José Sócrates começava a dar indícios de se sentir perseguido. Enquanto que em 2017 José Sócrates garantia existir um “departamento estatal de caça ao homem” quando a Operação Marquês já estava em curso, em 2007 Sócrates referia-se ao Jornal Nacional da TVI como uma “caça ao homem”. Em causa estava o caso Freeport.

A jornalista da TVI decidiu então avançar com um processo por difamação contra José Sócrates, mas depois recuou.

Pinheiro de Azevedo e o “bardamerda”

A 12 de novembro de 1975, o primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo estava cercado por manifestantes na sua residência oficial. Depois de negociações, os milhares de trabalhadores começaram a gritar “fascista”. Pinheiro de Azevedo tentava explica que quando dizia não ser  “possível acordo entre as duas partes” referia-se aos “empresários e vocês, Chegámos a acordo e estou ao vosso lado. Até dia 27 sai a portaria”.

Os manifestantes continuaram a insulta-lo e a considerá-lo fascista. E heis que Pinheiro de Azevedo a partir da janela de sua casa disse: “vão bardamerda mais o fascista”. O antigo primeiro-ministro retirou-se depois da declaração e continuou, por algumas horas, em conjunto com os deputados dentro do Palácio de São Bento

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