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Duarte Cordeiro: arquiteto da campanha de Costa chega ao Ambiente com os preços da energia em níveis recorde

O ministério do Ambiente era um desejo antigo de Duarte Cordeiro. O arquiteto da campanha que deu a segunda maioria absoluta ao PS é considerado um político com “pedalada”, mas chega à rua do Século com a eletricidade, gás e combustíveis em preços recorde.
  • Cristina Bernardo
25 Março 2022, 18h15

A pasta do Ambiente já era um desejo antigo de Duarte Cordeiro. Com a vitória do PS nas eleições em outubro de 2019, o socialista tinha ambicionado ocupar a cadeira do poder na Rua do Século. Mas a avaliação positiva por parte de António Costa ao trabalho feito por João Pedro Matos Fernandes impediu-o de chegar a ministro do Ambiente na altura.

Mas este ano, o primeiro-ministro não conseguiu impedir a ascensão de Duarte Cordeiro, pois foi um dos arquitetos da campanha que deu a segunda maioria absoluta ao PS, na qualidade de diretor da campanha (o consultor de comunicação Luís Paixão Martins é considerado outro dos grandes responsáveis pela vitória).

O novo ministro do Ambiente é considerado um político com “pedalada”, segundo uma fonte socialista, mas chega à rua do Século com o sector energético de pantanas devido à invasão russa da Ucrânia. Os preços da eletricidade, gás natural e os combustíveis estão em níveis recorde, com a indústria e as famílias a exigirem apoios neste momento de crise.

Duarte Cordeiro, 42 anos, pertence à fação ‘PedroNunista’, e é o homem forte do ministro das Infraestruturas na distrital de Lisboa, indicam fontes do PS, de quem é amigo há vários anos. No ministério do Ambiente pode vir a trabalhar com João Galamba, outro amigo seu, e que ocupava até agora o cargo de secretário de Estado da Energia, não se sabendo ainda se continua no cargo nos próximos quatro anos. Se ficar, junta a pasta do Ambiente à da Energia, conforme a nova orgânica do Governo. Estes três socialistas, mais Pedro Delgado Alves, fazem parte do chamado grupo dos “jovens turcos” no PS. Dentro do partido, é dado como certa a continuação de João Galamba na rua do Século.

O novo ministro é considerado um “negociador implacável”, “discreto, mas mobilizador e com a confiança de António Costa”, segundo um perfil feito pela revista “Visão” em fevereiro deste ano.

Duarte Cordeiro chegou ao Governo em fevereiro de 2019 quando substituiu Pedro Nuno Santos (PNS) na pasta de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, onde foi responsável por liderar as negociações entre o PS, PCP e Bloco de Esquerda, que permitiram as primeiras aprovações dos Orçamentos de Estado da geringonça.

Pedro Nuno Santos partiu então para o ministério das Infraestrutura, substituindo Pedro Marques que se tornou eurodeputado, e onde acabou por liderar o processo de renacionalização da companhia aérea e a sua reestruturação.

Esta não foi a primeira vez que Cordeiro seguiu os passos do seu amigo PNS. A primeira vez foi em 2008 quando assumiu o cargo de secretário-geral da Juventude Socialista.

Mas a chegada de Duarte Cordeiro como responsável do Governo nas negociações no Parlamento marca uma nova época. Com as eleições em outubro de 2019, terminou também o acordo escrito entre os parceiros da geringonça e cada Orçamento passa a ser negociado individualmente. A fórmula, como se sabe, durou apenas dois OE (2020 e 2021), precisamente os anos de pandemia. E terminou num divórcio difícil entre os partidos de esquerda e numa maioria absoluta para o PS e a perda de deputados para PCP e BE.

Em outubro de 2020, nova negociação de OE, nova ameaça sobre o fim da geringonça. Perante o risco do Bloco não aprovar o Orçamento, Duarte Cordeiro veio a público meter água na fervura: “Não vemos razão nenhuma para interromper essas negociações”.  Um ano depois, a geringonça veio mesmo a colapsar e o país foi a votos antecipados.

Chegou ao Governo em 2019 depois de ser vice-presidente da câmara de Lisboa desde 2015, tendo ficado com os pelouros da economia, inovação, serviços urbanos e desporto. O novo ministro é conhecido por ser um ferrenho sportinguista.

Em 2009 e 2011, foi eleito deputado do PS pelos círculos de Lisboa e de Setúbal, respetivamente. Nas presidenciais de 2011, foi o diretor de campanha da candidatura de Manuel Alegre; nas legislativas de 2016 foi o diretor de campanha de António Costa; em 2016, foi diretor de campanha de Sampaio da Nóvoa nas presidenciais.

Em 2019, em plena polémica sobre as nomeações de familiares no Governo, que chegaram a duas dezenas, foi revelado que a mulher de Duarte Cordeiro tinha sido nomeada para presidir a direção do Fundo para a Inovação Social (FIS). Por sua vez, Duarte Cordeiro nomeou a mulher de Pedro Nuno Santos para sua chefe de gabinete, Catarina Gamboa, tendo transitado da câmara de Lisboa para o Governo. Esta nomeação foi justificada por Catarina Gamboa reunir “qualificações e confiança pessoa. ambas necessárias a esta função”, disse na altura fonte do gabinete de Duarte Cordeiro ao “Inevitável”.

Por sua vez, Pedro Nuno Santos veio a público defender as qualificações profissionais da sua mulher: “Excelente profissional, pessoa de enorme competência e confiança”; “Não merece ser menorizada no seu percurso profissional – que nada deve a mim – apenas por ser minha mulher”, escreveu nas redes sociais em março de 2019.

José Duarte Piteira Rica Silvestre Cordeiro nasceu em Lisboa em 1979. É licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa, e é pós-graduado em Direção Empresarial pelo ISCTE-IUL.

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