Quase dez anos volvidos desde o colapso da antiga Portugal Telecom, continua por fazer uma análise aprofundada à destruição de valor que ali ocorreu entre 2013 e 2015, ano em que foi vendida ao grupo Altice.

Para começar, todo o processo que levou à entrega da PT Portugal (a casa-mãe do MEO) à Oi foi, no mínimo, rocambolesco. A PT desgraçou-se com o investimento de cerca de 900 milhões na Rioforte e incumpriu, por essa via, os termos da fusão com a Oi. E o que fez esta última, com a concordância da administração e dos principais acionistas da PT? Tomou conta da empresa portuguesa, no que terá sido um caso inédito a nível mundial.

Foi como se, passe o exagero, o caro leitor tivesse feito uma oferta para a compra de uma casa, prometendo entregar em troca uma quantia em dinheiro e um imóvel seu. Mas, no final do dia, a pretexto de um incumprimento da sua parte, o vendedor não se limitasse a ficar com o valor do sinal e viesse buscar também a sua casa e tudo aquilo que possui.

O mais grave é que, tal como defendeu na época o ilustre jurista António Menezes Cordeiro, que presidia à mesa da assembleia-geral da PT, as coisas não tinham de se passar dessa forma. Era possível tentar reverter o acordo de fusão e devolver à Oi a participação da PT na empresa brasileira que, de resto, só trouxe infortúnios à operadora portuguesa e aos seus acionistas.

No mínimo, a administração da PT deveria ter dado luta na Justiça, em vez de simplesmente entregar a empresa à Oi, até porque esta última não era propriamente um case study de boa gestão. A verdade é que, como se diz no Brasil, provavelmente a PT teve “morte matada”, no sentido em que este desfecho não seria inevitável.

O resto é história: a Oi tomou conta da PT Portugal e, em cerca de três meses (!), num processo também ele invulgar a nível mundial, pela forma como foi conduzido, vendeu a operadora portuguesa à francesa Altice, por 5,7 mil milhões de euros.

Por sua vez, a Altice de Patrick Drahi fez o que lhe competia, viu uma oportunidade e aproveitou-a. E, desde então, a operadora portuguesa tem sido um bom exemplo, apesar dos factos que vieram a público nas últimas semanas. Continua a ser uma empresa líder e que não fica atrás dos seus pares internacionais em termos de geração de valor, inovação e competitividade.

A Altice tem beneficiado muito disso. Desde 2015, o grupo já encaixou 5,7 mil milhões com o MEO, recuperando assim o investimento feito em 2015. Nesta soma incluem-se 2,7 mil milhões com a venda de ativos do MEO, nomeadamente parte da rede de fibra e das torres.

E se decidisse vender agora a operadora portuguesa, Drahi poderia encaixar no mínimo mais 4,2 mil millhões, se aplicarmos os múltiplos da concorrente NOS. Vá-se lá saber porquê, este potencial extraordinário de criação de valor passou ao lado quer do board da PT que aprovou a entrega da empresa à Oi, quer a esta última quando a vendeu.