No observatório sobre “a Recuperação Económica depois da Covid-19”, organizado pelo Jornal Económico e Crédito Agrícola, realizado esta quinta-feira, o presidente da comissão executiva do ISCTE Executive Education, José Crespo de Carvalho, destacou que a pandemia teve um “efeito quase bélico” em vários setores, sobretudo na hotelaria e restauração, mas sublinhou: “Se as crises trazem dores, também trazem oportunidades”.
“Cortámos 7,6% do PIB do ano passado para este ano. Isso significa qualquer coisa como 16 mil milhões de euros, grosso o modo. Das duas uma, ou nos adaptamos a repensar esta economia e a recriar, fazendo reformas, a partir de uma criação de riqueza mais baixa ou vamos quer recuperar com os mesmo moldes esta fatia perdida”, disse, sublinhando que esta é uma “oportunidade” para optar pela primeira opção.
Para se repor a percentagem de crescimento perdida com a pandemia, José Crespo de Carvalho defendeu que se impõe uma “reinvenção e reformas profundas” em todo o tecido empresarial. Esse “novo pensamento” deve passar também pela “reconfiguração ou redesenho de algumas cadeias de atividade de abastecimento e importação”, apesar de algumas serem “quase incontornáveis”, referiu.
Segundo José Crespo de Carvalho, há ainda “muitas oportunidades de fusões e aquisições que não foram feitas e que devem ser feitas” e a recuperação económica pós-pandemia é uma “boa ocasião” para o país apostar em novos modelos de negócios. “Há muita coisa a nascer e muita coisa a reconfigurar-se. É bom que saibamos olhar para aquilo que se está a reconfigurar e a redesenhar-se”, frisou.
Descapitalização: um drama das empresas a resolver
A economista e professora universitária da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, Francisca Guedes de Oliveira, concorda que o pós-pandemia vai trazer novas oportunidades e desafios. A descapitalização das empresas é, segundo a economista, um dos “grandes problemas” a que se deve dar resposta para garantir uma recuperação económica mais sólida.
Francisca Guedes de Oliveira lembrou que algumas empresas “já tinham problemas de descapitalização” antes da pandemia e outras vieram agora a evidenciar “problemas de liquidez complicados”. Tudo misturado, dá origem a “problemas ainda mais graves”, pelo que “uma estratégia de capitalização é mais do que possível, necessária”.
Cética quanto à possibilidade de os instrumentos disponibilizados pelo Governo permitirem (ou não) a capitalização das empresas de forma eficaz, alertou para a necessidade de esses instrumentos de apoio serem dirigidos às empresas “que apanharam um embate grande durante a mas que têm viabilidade”, ou seja, às empresas que “têm de ser apoiadas, são viáveis e vão continuar o fôlego e dinamismo à economia”.
“Capitalização é um problema absolutamente essencial. Mais do que possível, é absolutamente necessário”, reiterou.
Desemprego “comprova” eficácia dos apoios do Governo
Questionada sobre a eficácia das medidas anunciadas pelo Governo, Francisca Guedes de Oliveira afirmou que o lay-off e as moratórias foram “relativamente ágeis” e “permitiram manter à tona da água um conjunto de empresas e setores particularmente afetados”. Apesar de considerar que a real eficácia das medidas só pode ser avaliada do final da pandemia, disse que “há já algumas coisas que se podem perceber”.
“É evidente que o lay-off teve um impacto do ponto de vista dos números de desemprego. Com o PIB a regredir 7% seria espectável números de desemprego que ainda não estamos a ter”, explicou a economista. “Há de facto um life support [suporte de vida] que foi dado de forma relativamente rápida e que tem permitido manter aqui uma estabilidade que iremos perceber se é real quando o life support desaparecer”.
Francisca Guedes de Oliveira elogiou ainda a “reação relativamente coesa e coordenada” da União Europeia (UE) para responder a esta crise de uma forma “brutalmente” diferente da crise de 2011, sem qualquer “atribuir de culpas”. Ainda assim, realçou que, em comparação com os Estados Unidos, a UE, em especial Portugal, traçou metas pouco ambiciosas para a retoma económica.
“Há todo um mundo de diferenças entre estes dois espaços económicos e a comparação não pode ser simplista nem de replicar o que se faz lá, porque não funciona assim. Mas tenho algum receio de que, ainda assim, a Europa e Portugal em particular não estejam a ser suficientemente ambiciosos naquilo que é preciso fazer para se conseguir a tal recuperação, que já não será completamente em V mas, pelo menos, num U curtinho, que permita rapidamente voltar a um percurso de retoma”, disse.
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