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Eleições em Itália: Meloni e Salvini escondem “flores” (ou facas) atrás das costas

Numa pequena rua próximo do Parlamento italiano em Roma há um novo ‘grafitti’ em que Matteo Salvini e Giorgia Meloni, ´caras´ da direita ultranacionalista que poderá formar o próximo governo, se beijam – escondendo uma faca atrás das costas.
24 Setembro 2022, 08h46

Confrontado nas redes sociais com a imagem do ‘grafitti’, o próprio Salvini – cujo partido, Liga, está em terceiro lugar nas últimas sondagens sobre as eleições de domingo, com a sua parceira (e ex-rival) Meloni, dos Irmãos de Itália, em primeiro – partilhou a mesma retocada digitalmente, substituindo por flores as facas.

As facas, escreveu o líder da Liga, são “a esperança da esquerda”, enquanto os flores são “a realidade de hoje e de amanhã”.

De rivais em luta pelo eleitorado da direita radical, Meloni e Salvini passaram a aliados, por força das circunstâncias. Se as sondagens estiverem certas, poderão a partir de domingo ter uma maioria parlamentar juntamente com a Força Itália de Silvio Berlusconi.

Uma aliança forte, mas feita por falta de alternativas, é como analistas ouvidos pela Lusa definem esta ‘geringonça’ de direita que poderá suceder ao governo tecnocrata de Mario Draghi.

Claudio Sabelli Fioretti, jornalista, escritor e autor do livro “Giorgia on my mind”, no qual recolheu entrevistas com Meloni, declara que com certeza esta tem uma boa relação com Berlusconi “um político de grande experiência, que tem uma perspicácia política que Salvini certamente não tem”.

“Se pudesse, Meloni liquidaria Salvini imediatamente, mas não pode porque não tem alianças alternativas”, diz Fioretti.

No último comício antes do escrutínio, a candidata favorita a tornar-se a próxima primeira-ministra de Itália insistiu nesta medida, uma das principais propostas dos Irmãos de Itália (FdI): fazer com que a eleição do Presidente italiano seja feita diretamente, por sufrágio universal, em vez de como é agora, por votação do parlamento.

“Faremos uma alteração no âmbito presidencial e ficaremos felizes se a esquerda quiser ajudar-nos, mas se os italianos nos derem os números necessários, também a faremos sozinhos”, declarou Meloni, num enorme comício na Piazza del Popolo, no centro de Roma, ao lado dos seus dois parceiros de coligação: Salvini e Berlusconi.

Ilario Lombardo, jornalista político do jornal La Stampa ouvido pela Lusa afirma que a maior diferença entre Salvini e Meloni é a evolução dos tons.

“Meloni levou muito a sério a sua evolução, enquanto Salvini pode passar de um dia a dizer uma coisa e no dia seguinte exatamente o contrário”, disse Lombardo.

Segundo o jornalista, Meloni “prepara-se há anos para chegar ao governo e, para isso, negou muitas das posições mais extremas da política económica, enquanto Salvini permaneceu um homem de rua, que sempre desempenha de forma habitual o populismo teatral”.

Confiante, Meloni viu necessidade de tranquilizar a Europa quanto ao possível impacto da sua eleição e assim mudou o tom do seu discurso.

“Por um lado, ela precisa tranquilizar os seus potenciais eleitores e sabe que precisa ser muito firme contra a esquerda e os seus inimigos habituais. Por outro lado, sabe que para ir para o governo deve demonstrar que não será uma revolução perigosa”, adiantou Sabelli Fioretti.

Um dia antes de irem a votos, os italianos perguntam-se qual é a verdadeira Giorgia Meloni: a que intervém em comícios do Vox, da direita radical espanhola, gritando “não ao lobby LGBT”, “não à violência islâmica” e “não às grandes redes de finanças internacionais”, ou a que assegura que os compromissos com a Europa são para manter?

Confrontada com as suas declarações nesse comício na cidade espanhola de Granada, Meloni desvalorizou dizendo que “usou o tom errado”.

Apesar deste ‘mea culpa’ parcial, Sabelli Fioretti acredita que a verdadeira Meloni é que se mostrou em Espanha.

“Aquela que tranquiliza os mercados é a Meloni que não tem outra escolha para governar, mas assim que se sente livre, a sua alma liberta-se e foi essa que vimos no palco do Vox”, disse o autor de “Giorgia on my mind”.

Mais de 46 milhões de italianos elegem hoje um novo parlamento, que depois nomeará um novo Governo, com as últimas sondagens a indicarem que o país deverá passar a ser dirigido por uma coligação da extrema-direita com direita.

De acordo com o resultado das últimas sondagens publicadas, em 9 de setembro (a publicação de sondagens só é permitida até duas semanas antes das eleições), o partido de extrema-direita, ‘Fratelli d’Italia’ ou Irmãos de Itália soma 24 a 25 por cento das intenções de voto, à frente do Partido Democrático, de centro esquerda, que deverá conquistar entre 21 e 22% dos votos.

Nos lugares seguintes deverão ficar o antissistema Movimento 5 Estrelas (13 a 15%) e os partidos de direita e extrema-direita Liga (12%) e Força Itália (8%).

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