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“Empreendedorismo e inovação”. Natixis explica escolha de Portugal para implementar Centro de Excelência

Em entrevista ao Jornal Económico, Nathalie Risacher, ‘senior country manager’ da Natixis em Portugal, afirma que o país “apresenta um ecossistema de inovação e empreendedorismo (startups) muito dinâmico e organizado”. Questionada sobre se as criptomoedas são uma área para a qual a empresa está a olhar, a porta-voz assegurou que “ainda não”.
15 Novembro 2018, 07h35

O centro tecnológico no Porto da Natixis está em funcionamento há um ano. Porquê a escolha de Portugal?

A escolha de Portugal para a instalação do Centro de Excelência em IT da Natixis resultou de um estudo exaustivo levado a cabo pela Natixis em vários países europeus. Entre os critérios tidos em conta nesta análise, estiveram a Educação, Inovação e Empreendedorismo, a Proximidade Cultural com França e o “Mindset” Internacional. A instalação do Centro de Excelência em IT da Natixis no Porto comprova a atratividade do País enquanto ecossistema de empreendedorismo e inovação, com vantagens competitivas, não só do ponto de vista das infraestruturas e integração tecnológica, mas também do capital humano: formado em universidades de topo, altamente qualificado nas áreas da ciência e tecnologia, proficiente em inglês e com uma cultura profissional internacional. Mais ainda, encontrámos na cidade do Porto excelentes instalações com fáceis acessos que nos permitem oferecer as melhores condições de trabalho aos nossos colaboradores.

Qual o balanço que faz das atividades até agora? Que projetos estão a desenvolver no Porto?

A criação do Centro de Excelência em IT surge no âmbito do plano estratégico da Natixis – New Dimension – que posiciona a inovação tecnológica e a digitalização como uma prioridade de topo para a Empresa. A decisão passou por internalizar alguns dos serviços de IT, até então prestados por fornecedores externos e dispersos geograficamente, de forma a fomentar a criação e retenção do conhecimento e inovação dentro da Natixis. Assim, na qualidade de Centro de Excelência em IT, a Natixis em Portugal dá suporte tecnológico aos serviços do banco, de forma integrada e transversal, em todos os países em que opera. A equipa de profissionais do Porto está a trabalhar de forma totalmente integrada com o negócio global do banco: banca empresarial e de investimento; banca de retalho; seguros; pagamentos; infraestrutura e segurança; e funções de suporte. Alguns dos projectos mais inovadores desenvolvidos a partir de Portugal estão nas áreas de Robótica, com diversos processos de automação de processos; Chatbot, com uma ferramenta simples e interativa para a comunicação com os clientes do banco; Cloud e DevOps. De uma forma geral, acreditamos que esta estratégia traz valor acrescentado à Empresa, nomeadamente experiência, inovação e multiculturalidade.

Quais são os planos para o futuro do centro (em termos de funcionários e projetos)?

A Natixis começou este projeto a partir do zero, e em apenas um ano e meio, já contratou 450 pessoas. A Empresa pretende criar, até ao final de 2019, um total de 650 novos empregos qualificados nas áreas de tecnologia de informação em Portugal. Para o Centro de Excelência em IT, a Natixis está à procura dos mais diversos perfis tecnológicos. Neste momento, procuramos essencialmente profissionais para as áreas de suporte aplicacional, análise de negócio, administração de bases de dados big data, business intelligence, bem como para funções mais transversais como agile coach. Além dos objectivos de atração e retenção de talento para as nossas equipas, a transformação digital e organizacional é uma clara prioridade para a Natixis. Queremos ser potenciadores do movimento digital num sector tecnologicamente mais tradicional, criar verdadeiro R&D e revolucionar a forma como as nossas equipas trabalham, segundo os princípios agile.

Além da Natixis, outras empresas internacionais estão a desenvolver atividades de IT em Portugal. Como vê o setor tecnológico em Portugal?

Portugal apresenta um ecossistema de inovação e empreendedorismo (startups) muito dinâmico e organizado, difícil de encontrar noutros países. O mercado de trabalho é altamente competitivo no sector tecnológico e só tem tendência para crescer: basta olharmos mais além, não só no Porto e Lisboa, mas em cidades como Braga e Covilhã. A pool de talentos tão rica que encontramos em Portugal continuará a ser chave para o investimento direto estrangeiro e acredito que terá um impacto muito positivo no crescimento económico do País nos próximos anos.

Como é que compara com outros países, particularmente europeus e EUA?

O mindset internacional dos profissionais portugueses é claramente diferenciador. Não é por acaso que Portugal terá sido o País dos Descobrimentos. Para além do elevado conhecimento de línguas, existe uma postura natural para os negócios e relações internacionais. Mais ainda, se olharmos para as novas gerações, a agilidade é a palavra de ordem no dia-a-dia de trabalho: não há tempo a perder. Acredito que Portugal é a melhor combinação de dois mundos: por um lado, o talento natural para os negócios, semelhante aos EUA, mas por outro, a visão europeia da criatividade. Por fim, se falarmos também na qualidade de vida e no espírito acolhedor, Portugal é, de longe, um vencedor.

Não vê como problemático que não haja representação do setor tecnológico na Bolsa de Lisboa?

A cotação em bolsa não é ainda uma opção imediata para a grande parte das empresas em Portugal, ao contrário dos Estados Unidos, por exemplo. São culturas económicas muito diferentes.

A Natixis não é a única instituição financeira francesa a investir em Portugal e há investimento em outras áreas também. Como é que a França vê Portugal nesta altura?

Emmanuel Macron visitou o País recentemente e, desde há muito tempo que Portugal e França mantêm uma relação próxima e só pode melhorar. Existem grandes empresas francesas instaladas em Portugal há já vários anos e com a recuperação económica, acredito que a tendência de investimento continuará a aumentar: os franceses estão muito impressionados com o perfil dos profissionais portugueses. Da minha experiência na Natixis em Portugal, vejo também uma dinâmica rede de organizações, como a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, a AICEP, a própria Embaixada de França em Portugal, muito ativa e envolvida nestes processos. No caso da Natixis, podemos também realçar a importância da InvestPorto que, desde os primeiros estudos para a implementação da Natixis em Portugal, nos tem dado um suporte imensurável.

A blockchain é um tema incontornável no que diz respeito ao atual desenvolvimento tecnológico. Qual é a posição da Natixis sobre a blockchain?

Na Natixis, o Blockchain é já encarado como uma ferramenta-chave para melhorar a segurança e eficiência de comunicações e transacções. Somos inclusive membros de um grande consórcio internacional, R3, no âmbito da plataforma de R&D em Blockchain “Corda”, constituída por 80 instituições financeiras e cujo Presidente é Frédéric Dalibard, o responsável global de Blockchain na Natixis.

Desenvolvem algum tipo de atividade com recurso a esta tecnologia / planeiam fazê-lo? 

Existem três grandes projectos na Natixis que utilizam o Blockchain: “Lea”, uma nova forma de gerir a identidade digital e agilizar a recolha de dados para o “know-your-customer”; “Marco Polo”, uma plataforma de open trade finance; e “Argent”, uma plataforma digital inter-fronteiras e inter-moeda, que garante uma maior segurança nos pagamentos internacionais.

As criptomoedas são uma área para que estejam a olhar?

Ainda não.

 

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