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Empresas do porto de Lisboa cortam salários a estivadores

O movimento no porto da capital está outra vez em queda devido à greve dos estivadores, com quedas de dois dígitos face a 2017. O maior armador do mundo, a Maersk, deixou de escalar o porto de Lisboa enquanto durar a paralisação, para já agendada até ao final do ano.
  • Rafael Marchante / Reuters
21 Outubro 2018, 12h00

O porto de Lisboa está outra vez a viver momentos conturbados, com perda de mercadorias movimentadas e de quota de mercado e fuga de armadores internacionais para outros portos nacionais, mas principalmente para Espanha, destacando-se os casos dos portos de Vigo e de Santander, por exemplo. Tudo devido às constantes greves que o SEAL – Sindicato dos Estivadores e Atividade Logística, liderado por António Mariano, tem marcado ao longo deste ano de 2018.

Depois de uma aparente acalmia em 2017, que levou a uma paz social e à distensão nas relações entre o sindicato dos estivadores e os operadores portuários de Lisboa, que resultaram numa recuperação das mercadorias movimentadas no porto de Lisboa no ano passado, o SEAL regressou a uma estratégia mais dura, convocando sucessivas greves ao longo do presente ano. Segundo dados a que o Jornal Económico teve acesso, desde o início deste ano até ao momento são mais de 80 os dias em que os estivadores estiveram em greve, mesmo que a paralisação seja apenas ao trabalho suplementar.

A justificação do sindicatos o estivadores é que seja respeitada a “livre opção sindical”, exigindo o fim do “assédio” e das “discriminações e as ameaças constantes aos trabalhadores filiados no SEAL”. Os operadores portuários negam tais acusações, considerando-as despropositadas.

Este regresso à guerra entre os estivadores e os operadores do porto de Lisboa já teve diversas consequências. A AOPL – Associação dos Operadores do Porto de Lisboa denunciou de imediato o acordo de aumentos salariais que havia assinado com o sindicato dos estivadores.

Por outro lado, as mercadorias movimentadas no porto de Lisboa estão a cair a pique. Segundo uma fonte do setor contactada pelo Jornal Económico, as cargas movimentadas no porto da capital caíram 16,38% em julho passado face ao mês homólogo de 2017. Um trajetória descendente que foi seguida no passado mês de agosto, com novo recuo de 12,02% nas mercadorias movimentadas no porto de Lisboa face ao mês homólogo do ano passado. E tudo indica que o mês de setembro vá evidenciar um comportamento semelhante.

Segundo essa mesma fonte do setor, foram já diversos os armadores internacionais a deixar de escalar o porto de Lisboa em consequência da greve de estivadores, com destaque para a Maersk, maior armador mundial, que suspendeu as escalas no porto da capital, desviando os seus navios para outros portos nacionais ou para a concorrência espanhola, em que se destacam os portos de Vigo e de Santander.

Com a perda de escalas, de navios e de cargas, os operadores portuários estão a perder receitas. E, por isso, decidiram endurecer a sua posição perante os estivadores. Segundo apurou o Jornal Económico, a AETPL – Associação de Empresas de Trabalhos Portuários de Lisboa, que é a entidade empregadora dos estivadores na capital, anunciou ao sindicato que os últimos salários, referentes ao mês de setembro, só podiam ser pagos até um teto máximo de 1.250 euros. Todos os estivadores que tenham ordenados superiores não viram a cor desse dinheiro. A AETPL, que reúne os interesses dos três concessionários de terminais no porto de Lisboa – a Yilport, grupo pertencente ao grupo turco Yildirim, a ETE – Empresa de Tráfego e Estiva e a TMB – Terminal Multiusos do Beato – explica este corte nos salários com a falta de retorno e agravamento da estrutura de custos provocadas pelos constantes greves marcadas pelo SEAL.

Na passada terça-feira, o sindicato dos estivadores reagiu, convocando um plenário, que, segundo apurou o Jornal Económico, foi “uma reunião longa e muito participada”, mas que, aparentemente, ainda não resultou na convocação de greves alargadas ao período de trabalho normal no porto de Lisboa.

Depois de 2017 ter sido o melhor dos últimos dez anos na atividade do porto de Lisboa, o ano em curso deverá ser marcado por nova quebra nas mercadorias movimentadas e por um novo ambiente de guerra entre estivadores e operadores do porto de Lisboa, com evidentes prejuízos para a economia nacional se este conflito laboral não for resolvido. Para já, a greve dos estivadores ao trabalho suplementar está agendada até ao final deste ano, mas tudo pode piorar ainda mais de um momento para o outro, com a deteriorção visível da relações entre operadores e estivadores no porto de Lisboa.

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